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Laura Antoniazzi e Renata Piazzon

O desafio de conciliar produtividade e conservação no cerrado

No longo prazo, precisamos garantir a recuperação dos lençóis freáticos

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Laura Antoniazzi

Sócia da Agroicone, secretária-executiva da Articulação pela Restauração do Cerrado (Araticum) e colíder da Força-Tarefa Restauração da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura

Renata Piazzon

Diretora-geral do Instituto Arapyaú e cofacilitadora da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura

O cerrado está no centro das discussões sobre o desafio de conciliar o aumento da produção agropecuária com a conservação dos recursos naturais. Savana mais biodiversa do mundo, o cerrado tem importância incontestável para a economia brasileira. Dele vem metade da soja exportada pelo Brasil e 55% da produção nacional de carne bovina. Sem a participação da agropecuária no cerrado, a economia do Brasil não teria a atual dimensão.

Porém poucas atividades dependem tanto do meio ambiente como o agronegócio. Do microclima à regularidade das chuvas, a quantidade de variáveis que afetam a produtividade da lavoura e da pecuária é considerável. Alguns fatores, como o aumento da temperatura média do planeta, provocado principalmente pela queima de combustíveis fósseis, estão fora do controle do produtor. Entretanto alguns podem ser gerenciados –entre eles a disponibilidade de água, que é uma das razões da pujança do cerrado. É nesse bioma que nascem 8 das 12 principais bacias hidrográficas do Brasil, porque as raízes profundas da sua vegetação nativa garantem infiltração e recarga hídrica. Por isso, os números mais recentes de desmatamento soam um alerta para empreendedores e investidores que aplicam e acreditam na região.

Embora no curto prazo soluções de irrigação possam aumentar a resiliência da agropecuária às crescentes incertezas do regime pluviométrico, no longo prazo precisamos garantir a recuperação dos lençóis freáticos. Por isso, mesmo nos diversos casos onde há desmatamentos legais, precisamos nos certificar de que eles não estão colocando em risco as regiões que fazem do cerrado a grande caixa d’água do Brasil. Precisamos, portanto, de um PPCerrado —um programa de ação para prevenção e controle do desmatamento do bioma.

O cerrado ainda tem 50% de sua área com vegetação nativa. Isso torna urgente pôr em ação um planejamento integrado do bioma. Juntos, governo e o setor privado podem identificar onde ficam as fronteiras agrícolas que não colocam os serviços ambientais em risco e precisam ser conservadas. Além do estabelecimento de corredores ecológicos que preservem mananciais e áreas de recarga dos lençóis freáticos, sistemas de rastreabilidade das cadeias de commodities também são ferramentas para apoiar quem atua de forma legal e se engaja na conservação do cerrado.

Reinventar-se faz parte do dinamismo do agronegócio nacional, especialmente no cerrado, onde técnicas e cultivos tiveram que ser criados para as condições específicas da região. Agora, o olhar deve ser ampliado para preservar serviços ambientais e investir no desenvolvimento de técnicas e sistemas integrados que mantenham o crescimento da produtividade no cerrado.

O cerrado é uma terra próspera e vital para que o Brasil consiga contribuir com a segurança alimentar junto com a manutenção do clima do planeta. Precisamos planejar a expansão da produtividade do agronegócio junto com a conservação do bioma para que esse crescimento não se torne um tiro no pé do desenvolvimento sustentável do país.

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