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Boa energia

Matriz brasileira é ímpar, mas não berço esplêndido para ignorar crise climática

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Usina hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR) - Rafael Mosna/Folhapress

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como todo o Brasil, tem motivos para comemorar a posição privilegiada do país na transição energética de que o planeta necessita. Mas isso não dá direito a ufanismo nem miopia fora de hora.

"Nós já passamos eles [sic] no milho, já passamos em soja e já passamos em algodão. Nós vamos passar na questão energética", vangloriou-se o mandatário, em comparação com os Estados Unidos, ao assinar na quarta-feira (27) contratos de transmissão de eletricidade.

A verdade é que não precisamos nos medir com os EUA, porque já os batemos nesse quesito, e faz tempo. Não há no mundo economia de grande porte com matriz energética de fontes renováveis comparável à do Brasil.

Por aqui temos ainda 50,8% da energia consumida proveniente de combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão mineral), que agravam o efeito estufa. Já as fontes renováveis (hidroeletricidade, biomassa, eólica, solar) respondem por 47,4% da demanda, segundo o Balanço Energético Nacional 2023.

A energia mobilizada nos EUA tem 79% de origem fóssil, ante meros 13% renováveis. No mundo, a proporção fica em 80% e 15%, respectivamente (as diferenças para 100% correspondem a outras fontes não renováveis, como a nuclear).

Quando se tem em mente a transição energética no contexto da emergência climática, porém, os combustíveis fósseis ganham proeminência por serem, de longe, os principais emissores de carbono no mundo. Não é o caso do Brasil, cuja maior contribuição para o aquecimento global está no uso da terra.

Em poucas palavras, é o avanço da fronteira do agronegócio que propulsiona o desmatamento, nossa maior fonte de poluição climática. Também pesam o metano emitido na pecuária, os fertilizantes e manejo inadequado do solo, mas a parte do leão cabe à abertura de áreas para pastos e agricultura.

Lula até teria vantagem para contar aqui também, dada a redução de 48% na devastação da Amazônia nos oito primeiros meses de seu governo —ainda que a boa notícia seja esmaecida por altas em derrubadas do cerrado. E a estiagem na floresta amazônica faz temer por uma explosão das queimadas.

O governo petista se contradiz ao vender transição energética com a mão esquerda e investir na extração de petróleo novo com a direita. Se a meta é contribuir para enfrentar a crise climática, essa prioridade tem de ser revista.

editoriais@grupofolha.com.br

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