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Maria Clara Araújo dos Passos

A refutação transfeminista

Autonomia intelectual e política do transfeminismo brasileiro deve ser resguardada

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Maria Clara Araújo dos Passos

Mestranda em educação na USP

Em "Erguer a Voz: Pensar como feminista, Pensar como Negra", a educadora afroestadunidense bell hooks defendeu que o tornar-se sujeito envolve a transição do silenciamento à fala.

Após pouco mais de uma década desde a sua difusão no país, é possível afirmar que o transfeminismo brasileiro vem contribuindo para que a população de travestis e pessoas trans avance em seu processo de autodefinição. O ato de "talking back" desafia "autoridades" e se faz a partir da autodefinição das nossas realidades, identidades e histórias.

Na última semana, testemunhamos uma série de reações assombrosas de acadêmicas e acadêmicos a um posicionamento deliberado por pesquisadoras(es) e ativistas transfeministas no marco do Seminário Identidades Trans e Travestis: Cidadania, Memória e Coletividade, realizado pela Cult e pelo Sesc Pompeia em São Paulo.

Além de negarem o direito democrático do movimento de definir quem são as suas e os seus interlocutoras(es), as notas publicadas também perpetuaram estereótipos prejudiciais às travestis e pessoas trans e contribuíram para a invalidação da produção científica desenvolvida por esse grupo de pessoas.

Após anos de colonização discursiva e extrativismo, sendo reconhecido apenas como "objeto", o transfeminismo brasileiro está articulando uma refutação que questiona a naturalização da nossa inexistência nas universidades como discentes e docentes e que afirma a importante contribuição intelectual que temos dado para as mais diversas áreas do conhecimento.

As tentativas de cerceamento à autonomia intelectual e política da nossa população, como também a evidente demonstração de um corporativismo cisgênero, se inscrevem em constantes esforços de nos manter sob tutela. Assim como ocorreu com outros grupos que foram "falados", reivindicamos o direito de responder em primeira pessoa.

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