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Vinicius Sassine

Governo Lula vira as costas para a floresta

Apoio a petróleo, potássio e rodovia destoa dos discursos feitos em fóruns internacionais

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Vinicius Sassine

Repórter especial da Folha, é correspondente do jornal na Amazônia

O presidente Lula (PT) não deu margem para aceitação da proposta, feita pela Colômbia, de interrupção de novos projetos de petróleo na Amazônia. Pelo contrário. O petista e seu governo vêm deixando claro que não abrem mão da exploração petrolífera na bacia Foz do Amazonas, na altura de Oiapoque (AP).

O vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), defendeu abertamente a exploração de potássio na região de Autazes (AM), a despeito da invasão de terras indígenas, do impacto a comunidades tradicionais, da ausência de consulta prévia e da cooptação de indígenas. Alckmin vocaliza o que o núcleo duro do governo deseja.

Na esteira da seca extrema, usada como pretexto para lobby, o governo Lula criou um grupo de trabalho para acelerar a licença da pavimentação do trecho do meio da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho. A rodovia é um gatilho para mais grilagem, desmatamento e fogo, como apontam documentos do processo de licenciamento.

O petróleo na Foz do Amazonas, o potássio no coração de uma área preservada e uma rodovia em região sensível descortinam o pensamento de Lula para a Amazônia, para além dos discursos com verniz ambiental que tem feito em fóruns internacionais.

Os exemplos se alargam, como a esperada renovação da licença da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, apesar do descumprimento de condicionantes e das consequências a milhares de pescadores da Volta Grande do Xingu, e a ausência do Ibama no licenciamento da exploração de gás e petróleo em Silves (AM), em que pese o impacto a indígenas.

Cada decisão sobre cada um desses empreendimentos fragiliza Marina Silva (Rede) no cargo de ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Marina vai se tornando voz isolada no governo, como se viu em 2008, quando pediu demissão do segundo governo Lula.

Quando fala de Amazônia, o presidente sempre pontua a necessidade de bem-estar, de acesso a serviços básicos, por parte de 26 milhões de brasileiros que estão na região. Os discursos se alinham à realidade amazônica, por se contraporem à imagem de "santuário ecológico" –expressão usada por Lula–, tão comum na percepção internacional.

O que o presidente e seu governo ignoram é a peculiaridade de cada uma das "Amazônias" no Brasil. As realidades são diversas, complexas, e dificilmente estão dissociadas da lógica da floresta. Assim, grandes obras e empreendimentos não podem ignorar a biodiversidade, as comunidades tradicionais, os direitos originários.

Nas cidades amazônicas, é muito comum que os moradores se coloquem de costas para a floresta –uma negação que tem raízes históricas. O governo Lula parece incorporar o mesmo espírito.

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