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Felipe Salto e Andrea Angelo

A economia deve melhorar em 2024? SIM

Chegou o momento do otimismo da razão

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Felipe Salto

Economista-chefe da Warren Investimentos, foi secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo (2022)

Andrea Angelo

Estrategista de inflação e sócia da Warren Investimentos, é mestre em economia pela FGV-SP

A antiga ideia-força de que a razão anda de mãos dadas com o pessimismo e a vontade liga-se ao otimismo talvez possa ser revisitada para uma reflexão sobre a economia em 2024.

O PIB deve ter crescido 3% no ano que termina, superando todas as projeções. O ano de 2023 trouxe surpresa para cima na atividade econômica e para baixo na inflação. Esse quadro combinou-se à redução dos juros, à expansão do gasto social e ao desempenho da balança comercial para compor um pano de fundo positivo à economia em 2024.

A continuidade da redução da taxa básica de juros e a expansão do crédito devem estimular o investimento e a indústria, desde que os riscos se mantenham controlados, sobretudo em matéria de política fiscal.

Em 2023, o PIB cresceu na esteira do agronegócio, com variação real estimada em torno de 15%. A indústria de transformação apresentou alguma recuperação, de pouco mais 1%, mas aquém do necessário. Já o desempenho do setor de serviços ficou acima de 2%.

Do lado da demanda, o consumo das famílias cresceu ao redor de 2,5%, o do governo aumentou em torno de 2% e os investimentos diminuíram 1,5%. As exportações líquidas, por sua vez, podem ter contribuído com mais de 1 ponto percentual na taxa de crescimento do PIB de 2023. Os dados fechados serão conhecidos em março.

Para 2024, o PIB crescerá menos. O setor agrícola tende à estabilização, após a alta de dois dígitos em 2023, mas a indústria e os investimentos devem reagir à queda da taxa de juros e impulsionar o crescimento econômico. A tração do investimento deve imprimir maior dinamismo ao PIB.

Plantação de milho em Sertaneja, norte do Paraná - Mauro Zafalon/Folhapress

No entanto, cabe lembrar que as taxas de juros poderão seguir em patamar contracionista, mesmo com a continuidade das reduções pelo Conselho de Política Monetária do Banco Central.

Em 2023, a desinflação foi mais concentrada em componentes do lado da oferta do que da demanda. Olhando para a frente, acreditamos que essa desaceleração persistirá, mas a atividade também terá de desacelerar. Esse compasso é próprio do ciclo econômico. Nesse sentido, para 2024, ao excluir o possível desdobramento altista do El Niño para a inflação, vemos que o balanço de riscos é baixista.

A inflação poderá chegar a 3,8% (de 4,4% em 2023). Há chances de o IPCA encerrar 2024 mais próximo da meta estabelecida pelo Banco Central pelo segundo ano consecutivo. Os juros mais baixos e a inflação controlada, conforme nossas projeções na Warren Investimentos, devem colaborar para um quadro de alta da demanda.

Mas a razão sempre perturba e acaba evocando o pessimismo. O primeiro risco relaciona-se às contas públicas. É preciso manter a meta fiscal e cumprir o novo arcabouço. O ministro Fernando Haddad conseguiu superar a desconfiança do mercado no primeiro ano do governo Lula.

Agora, seu desafio é fazer valer o arcabouço e seus mecanismos de ajuste. O cenário pessimista se materializaria com a eventual alteração da meta para o ano que vem. É preciso manter e executar o plano.

No campo externo, a economia norte-americana deve colaborar com o Banco Central, porque os juros tendem a começar a diminuir logo por lá, garantindo o espaço necessário à redução da Selic. Eventual revés nesse cenário afetaria as decisões de política monetária por aqui, prejudicando o PIB.

As duas guerras em curso, por sua vez, podem produzir turbulências e contagiar o balanço de pagamentos, o dólar e os fluxos de capitais e de comércio. Riscos.

De todo modo, esquivando-se dos erros do passado cometidos na política fiscal, a vontade de ser pessimista, típica dos economistas, pode dar lugar ao otimismo da razão.

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