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O que a Folha pensa violência

Carga pesada

Investigação escassa sobre roubos a caminhões em SP é prejuízo social e econômico

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Caminhão trafega pela marginal Tietê, em São Paulo - Eduardo Anizelli/Folhapress - Folhapress

Estima-se que cerca de 75% das mercadorias que circulam no Brasil sejam escoadas por meio da malha rodoviária —não há paralelo entre as maiores economias globais. Num país de dimensões continentais, não raro com patrulhamento insuficiente nas estradas, o roubo de carga tornou-se alvo fácil de quadrilhas especializadas.

Além de contribuir para o aumento da violência e da insegurança nas regiões afetadas, o delito impacta diretamente a economia formal, com prejuízos financeiros e logísticos para empresas, que são obrigadas a investir em escoltas armadas e, por vezes, a elevar o preço do produto ao consumidor.

A atividade criminosa teve queda de 4,4% em 2022, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, mas ainda assim foram contabilizados mais de 13 mil roubos, quase a metade em São Paulo.

Pois é justamente no estado líder em ocorrências do tipo —e onde pelo menos 20% dos fretes nacionais têm a sua origem ou destino— que pouco se investigam os ataques a caminhões e carretas.

De acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública paulista, foram 4.424 roubos de carga de janeiro a setembro deste ano, mas apenas 494 inquéritos foram instaurados. Conclui-se, portanto, que apenas 11,2% dos casos são apurados formalmente pela polícia.

Apenas um motorista dos Correios relatou à Folha que foi assaltado 25 vezes; em uma delas, acabou espancado. Com uma coleção de boletins de ocorrência em mãos, ele disse ter notícia da elucidação de apenas uma das investidas.

Um delegado especializado chegou a declarar em palestra que 70% dos roubos de carga são falsos registros. Numa fraude batizada de "chave na mão", motoristas se aliam aos criminosos para o desvio da carga e, depois, registram a ocorrência como se fossem vítimas. O alto percentual é refutado por especialistas do setor e representantes de caminhoneiros.

De uma forma ou de outra, espanta saber que, no estado que dispõe da maior e mais equipada força policial, apenas 1 em cada 10 roubos de carga é agraciado com o devido processo investigatório.

Diante do equívoco histórico de negligenciar o modal ferroviário, ainda mais em país exportador de commodities, resta às autoridades investir pesado em tecnologias de rastreio, parcerias com transportadoras e Polícia Rodoviária e inteligência para identificar os receptadores dos produtos roubados.

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