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O que a Folha pensa violência

Cárcere letal

Mortes nas prisões, em parte evitáveis, são resultado de superlotação e descaso

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Cela lotada em presídio do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís (MA) - Marlene Bergamo - 6.jan.14/Folhapress

O número de mortos em presídios brasileiros expõe a faceta letal do tratamento desumano reiteradamente visto em ambientes de privação de liberdade. Nos últimos dez anos, foram 17 mil óbitos, num país em que a população carcerária alcançou no ano passado a marca preocupante de 832 mil presos, a maior de sua história.

Para obter esse dado, a Folha apresentou 75 pedidos por meio da Lei de Acesso à Informação a órgãos estaduais e federais, referentes ao período de 2013 a 2023.

Parte desse escopo (8.752 casos entre 2018 e 2022) foi analisado pela organização internacional Vital Strategies. A conclusão foi a de que uma parcela considerável de mortes seria evitável se as instituições contassem com serviços de saúde de qualidade. Ademais, tortura, restrição de água e de comida e infraestrutura insalubre são comuns em presídios no país.

Nota-se o alto índice de óbitos causados por doenças infecciosas e parasitárias (12,1%), como tuberculose, pneumonia, HIV, hepatites, Covid e meningite, e por doenças crônicas não transmissíveis (10,5%), como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares e renais.

Somadas, as mortes por enfermidades chegam perto da taxa daquelas que tiveram causas externas (25,7%), como homicídio.

Mais de 50% das ocorrências não têm motivação definida, o que revela precariedade nos sistemas de informação e investigação. A falta de recursos para esclarecer os óbitos de pessoas que estão sob a tutela do Estado escancara o descaso oficial com os direitos humanos das pessoas privadas de liberdade.

Enfrentar a questão demanda uma série de estratégias. Em outubro deste ano, Supremo Tribunal Federal formou maioria para determinar que os governos federal e estaduais apresentem planos para lidar com problemas crônicos no cárcere brasileiro.

Não é tema que se resolva com uma penada do Judiciário, mas há caminhos que demandam coragem e persistência na execução.

Reduzir o inchaço das prisões passa por reconhecer que, no Brasil, prende-se muito e mal. Mudar a cultura do Judiciário e debater no Legislativo a revisão de penas, em especial de crimes sem violência e consumo de drogas, ajudariam a enfrentar as causas estruturais da deplorável situação dos presídios, entre elas o superlotamento.

Só quem se beneficia com presos abarrotados em condições de vida degradantes são as facções criminosas, que dominam o sistema penitenciário em quase todos os estados. A população, fora ou dentro dos cárceres, é quem mais perde.

editoriais@grupofoolha.com.br

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