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Verão impróprio

Balneabilidade das praias expõe descaso com saneamento; novo marco é esperança

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Em 2023, a qualidade nos três pontos de medição da praia do Leblon, no Rio de Janeiro, foi considerada ruim - Eduardo Anizelli - 15.dez.23/Folhapress - Folhapress

A praia do Leblon não ostenta só a vista do morro Dois Irmãos, uma das paisagens mais admiradas do Rio de Janeiro. Com águas do mar de qualidade ruim nos três pontos de medição, ela oferece ainda uma síntese dos atrasos que marcam o saneamento básico no país.

O dado consta do levantamento realizado há oito anos por esta Folha, com dados de governos locais, e publicado a cada verão. Ao todo, são 1.350 pontos de monitoramento em todo o litoral brasileiro.

Das 58 praias avaliadas na chamada Cidade Maravilhosa, apenas 4 obtiveram classificação anual boa.

Outras 17 caíram na categoria das regulares, e as demais 35 (2 ficaram sem medição), para surpresa de poucos, ruins ou péssimas.

A sempre prometida despoluição da baía de Guanabara vai atrasar dois anos. Agora está marcada para 2028. Uma miragem que sempre se distancia (como a limpeza do rio Tietê na capital paulista).

A condição praiana vexatória está à vista de todos, como nas restantes dez capitais estaduais situadas no litoral. Nos 337 locais de medição de balneabilidade dessas cidades, apenas 47 (14%) indicaram qualidade boa.

Considerando todas as praias monitoradas no Brasil, o indicador é um pouco melhor: 32% aceitáveis. Os outros dois terços se dividem entre regulares, ruins e péssimas.

Não há espanto, como deveria haver, porque a população se acostumou com a incúria do poder público no setor de coleta e tratamento de esgotos. Percebe-se algo de errado quando eleitos e eleitores ignoram indicador tão óbvio de eficiência governamental.

Nesse quesito, estamos todos reprovados. Em pleno século 21, só 55,8% da população conta com rede de esgotamento sanitário, segundo o Instituto Trata Brasil. E não mais de 51,2% dos dejetos gerados recebem o tratamento adequado.

O panorama melhora, mas de modo sobremaneira lento. Em três décadas (1989-2017), a parcela de municípios com rede de coleta de esgotos foi de 47,3% a 60,3%. Parece difícil a meta de universalizar o saneamento no ano 2033.

As esperanças residem no novo marco do setor, que amplia as possibilidades de participação privada e atração de investimentos. O passado ensina que só a gestão estatal do saneamento foi incapaz de cumprir a missão civilizatória.

editoriais@grupofolha.com.br

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