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Breno Altman

Antissemitismo é rota de fuga do sionismo

Não haverá solução estrutural, pacífica e sustentável, para palestinos e judeus, enquanto continuar existindo o regime sionista

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Breno Altman

Jornalista e fundador do site Opera Mundi

No dia 5 de dezembro, o senhor Alexandre Schwartsman, em artigo intitulado "Resposta ao paladino do Hamas", voltou a desfilar mentiras e agressões contra mim, ao invés de apresentar argumentos. Diante de comportamento tão infantil, raso e covarde, confesso que me deu preguiça replicá-lo. Por respeito aos eventuais leitores, porém, é minha obrigação retornar à lida.

Antes de mais nada, chama atenção como o referido texto é omisso a respeito do principal aspecto da realidade atual: nenhuma palavra sobre o massacre genocida do Estado de Israel contra o povo palestino, com mais de 25 mil assassinatos, na maioria mulheres e crianças. Para o meu oponente, esse fato parece irrelevante, como se nada indicasse acerca da verdadeira natureza do regime sionista. Prefere uma conversa mole sobre dois Estados, como se estivéssemos em uma conferência regada a champanhe, e não diante de um morticínio cruel, com milhares e milhares de vidas destroçadas pelo colonialismo israelense.

O próprio governo Netanyahu já deixou claro que a chacina em curso vai muito além de combater o Hamas. O que se trata é de reforçar um sistema colonial e racista que enterre, de uma vez por todas, o direito do povo palestino a ter seu próprio Estado, como enfatizou recentemente o primeiro-ministro. Com a cumplicidade ativa ou passiva das demais correntes sionistas, as práticas de extermínio e limpeza étnica aplicadas contra a Faixa de Gaza têm objetivo declarado de consolidar o Estado sionista por toda a Palestina histórica, do rio ao mar.

Recorrendo a um velho truque diversionista, Schwartsman fala de antissemitismo, como se o ódio aos judeus, eventualmente encarnado por grupos insurgentes, fosse o fator fundamental do conflito.

Vamos aos fatos.

Somente pode haver uma avaliação historicamente honesta dos ataques ocorridos em 7 de outubro se forem compreendidos como reação a décadas de brutalidade, usurpação e violência. A Faixa de Gaza foi transformada, desde 2007, no maior campo de prisioneiros do mundo, cercada e asfixiada, com mais de 10 mil civis assassinados por bombardeios israelenses de 2000 a 2023.

Os Acordos de Oslo, assinados em 1993, revelaram-se uma fraude. As principais organizações palestinas da época depuseram armas e aceitaram a existência de Israel. O que tiveram em troca, na Cisjordânia, foram enclaves cercados pela multiplicação de assentamentos judeus, com 700 mil colonos financiados e armados por sucessivos governos sionistas.

Por mais que a violência provoque justa repugnância, a ação do Hamas não foi antissemita, mas anticolonial. Não é o antissemitismo a origem de tanto sangue e dor, de ambos lados do confronto, mas o sionismo e seu sistema, em expansão constante antes e depois de 1948, às custas da subjugação do povo palestino.

Não haverá solução estrutural, pacífica e sustentável, para palestinos e judeus, enquanto continuar existindo o regime sionista, com seus pilares assentados em supremacia racial, colonialismo e coerção militar. Da mesma forma que ocorreu na África do Sul, onde somente o fim do Apartheid trouxe a paz, uma Palestina democrática e plural depende da liquidação do modelo estatal forjado pelo sionismo.

O senhor Schwartsman pode injuriar e falsear à vontade, como é de seu feitio. Seus ardis e manipulações, porém, além de precários, são incapazes de esconder a volúpia sionista de se abrigar detrás da bandeira do antissemitismo para camuflar os crimes macabros cometidos pelo Estado de Israel.

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