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Alexandre Schwartsman

Resposta ao paladino do Hamas

Quem é comprometido de fato com a paz insiste na solução de dois Estados

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Alexandre Schwartsman

Judeu, é doutor em economia (Universidade da Califórnia, Berkeley) e ex-diretor do Banco Central

O jornalista Breno Altman ainda tenta esconder seu apoio ao grupo terrorista Hamas, a quem alegremente comparou a "gatos" que caçam os "ratos" no X (ex-Twitter). É um hábito arraigado, como mostrei em artigo recente nesta Folha ("O que Breno Altman esconde", 17/11). Omitiu originalmente sua defesa da liquidação de Israel. Da mesma forma, ocultou ter atribuído o antissemitismo à existência de Israel, "esquecido" da longa história dessa doença social.

Além das convenientes omissões, contribuiu para a difusão de notícias falsas, alegando não haver provas de crimes sexuais cometidos pelos terroristas do Hamas e que as mortes ocorridas no atentado de 7 de outubro teriam sido obra do Exército israelense, fato já desmentido pela sua suposta fonte, o jornal Haaretz. Michele Prado, estudiosa do extremismo de direita, documentou em sua conta no X vários exemplos do esforço de Altman nesse sentido.

Ele poderia ter usado este espaço em sua resposta ("Regime sionista é inimigo da humanidade", 29/11) para esclarecer essas posições, mas, fiel à sua postura, fingiu não ter lido o que escrevi.

Não há, para começar, uma palavra sobre as notícias falsas que ajudou a espalhar. Insiste na atribuição do antissemitismo pós-guerra a Israel, mas não diz o que teria feito o preconceito de séculos desaparecer caso o país não tivesse sido criado pela ONU em 1947. Tampouco se incomoda com a atitude de atribuir às vítimas da discriminação racial a culpa pelo preconceito que sofrem.

Acena com a perda de membros de sua família no Holocausto como "vacina" contra qualquer pecado nesta seara, embora use o mesmo tratamento, "ratos", dado pelo nazismo aos judeus —"apito para cachorro" percebido, aliás, pela Justiça federal, que o notificou a respeito.

Lembrado que o Hamas propõe o extermínio de judeus (não de todos: os cientistas seriam apenas escravizados para a produção de armas), apela para a ficção do "Estado laico, democrático e multiétnico", presumivelmente liderado por essa mesma facção.

De fato, se o antissemitismo milagrosamente desparecesse caso Israel deixasse de existir, nada impediria que o mesmo sortilégio transformasse o Hamas num movimento comprometido com a democracia (aquela de Gaza), tolerância (pergunte aos homossexuais) e amor ao próximo (exemplificado pelo assalto de 7 de outubro, o mesmo comemorado por Altman). No mundo real, contudo, qualquer um, até mesmo o jornalista, sabe muito bem quais seriam as consequências da sua defesa da aniquilação de Israel.

É exatamente por isso que as pessoas comprometidas de verdade com o processo de paz insistem na solução de dois Estados. Uma delas é Yossi Halevi, conhecido ativista que, dentre outras iniciativas, fundou o Fórum de Mídia Israel-Palestina e, em conjunto com o Iman Abdullah Antepli, a Iniciativa para Lideranças Muçulmanas. O mesmo Halevi que, segundo Altman, deveria ser "escorraçado"...

Boa parte desse caminho já foi pavimentada nas propostas de Ehud Barak em 2000 e Ehud Olmert em 2008 —e envolve a criação de um Estado palestino em Gaza e na Cisjordânia (consequentemente a retirada israelense), com capital em Jerusalém Oriental, em troca do reconhecimento do direito de Israel à existência (para desespero de gente como Altman). Restam obstáculos consideráveis (como a extensão do direito de retorno), mas esse percurso é o que melhor permitiria acomodar os direitos de ambos os povos.

Não é fácil, claro, e hoje parece impensável, mas supera em muito a alternativa de rotular judeus como inimigos da humanidade, justificando ataques terroristas, como faz o paladino do Hamas.

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