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Curva perigosa

Alta de mortes no trânsito de SP exige mais fiscalização e campanhas educativas

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Motociclistas transitam pela faixa azul na avenida 23 de Maio, em São Paulo (SP) - Bruno Santos/Folhapress

"Cuidado ao ‘travessar’ essas ruas", imortalizou Adoniran Barbosa, ainda em 1956, na clássica "Iracema". Quase 70 anos depois, o alerta de perigo no trânsito paulistano segue vivíssimo —não só para os pedestres, mas também para condutores e, sobretudo, motociclistas.

Segundo dados do Infosiga, o sistema de monitoramento de acidentes do governo estadual, o total de mortes nas ruas de São Paulo no ano passado foi o maior desde os 1.129 de 2015. Desta vez, houve 987 óbitos —quase três por dia, ou 7,6% a mais do que em 2022 (917).

Os motociclistas respondem por 43% do morticínio (424 casos), seguidos por pedestres (358), ocupantes de automóveis (121) e ciclistas (35). Homens de 18 a 29 anos formam a maioria dessas vítimas.
Lidar com a questão exige abordagens multifatoriais, inclusive sob a realidade dos novos tempos. A explosão da frota de motos, impulsionada pelo delivery, é uma das justificativas, mas não a única.

De fato, impelidos pela remuneração por produtividade, jovens entregadores sobre duas rodas não raro avançam o sinal vermelho, ignoram os limites de velocidade e fazem conversões proibidas.

A distração motivada pelo uso do celular durante os deslocamentos —risco compartilhado também por pedestres e motoristas— complementa o potencial danoso.

Ações da gestão Ricardo Nunes (MDB), como faixas azuis (exclusivas para motos), áreas calmas (onde a velocidade é de até 30 km/h) e mais tempo de travessia para pedestres nos cruzamentos, são positivas, mas insuficientes.

Por conveniência ou não, lamenta-se que, diante de números trágicos já em 2022, a prefeitura tenha abolido em abril a meta de reduzir as mortes para "4,5 por 100 mil habitantes" e a substituído, de forma genérica, por "realizar 18 ações" de contenção. Registre-se: em 2023 foram mais de 8 por 100 mil.

Cabe ao poder público esmiuçar os dados de cada uma dessas mortes, identificar correspondências e traçar medidas específicas nas vias mais perigosas, contemplando os grupos mais vulneráveis.

É urgente investir em sinalização viária abundante, semáforos menos falhos e calçadas e faixas de pedestres adequadas; requalificar a combalida Companhia de Engenharia de Tráfego (CET); ampliar a fiscalização, principalmente de motocicletas, com mais agentes nas ruas e radares específicos.

Nada é mais premente, contudo, do que fomentar campanhas educativas intensivas e permanentes, em todos os níveis, desde o ensino infantil. O destino de Iracema pode estar na próxima esquina.

editoriais@grupofolha.com.br

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