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O que a Folha pensa Itamaraty

Vexame diplomático

Itamaraty mostra tibieza ao se abster sobre apuração de violações do Irã

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Mulheres protestam contra o assassinato de Mahsa Amini, em Istambul (Turquia) - Ozan Kose - 20.set.22/AFP

O governo petista não parece se esforçar o bastante para superar os vexames na diplomacia da gestão anterior. Declarações desastrosas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Venezuela, guerra Israel-Hamas e Ucrânia representam a faceta personalista do problema.

Causa espécie que também o Itamaraty, em ações oficiais, não trate com a devida gravidade as violações aos direitos humanos perpetradas por Irã e Rússia.

Na quinta (4), o Brasil se absteve de votar a resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas que prorroga a missão para investigar abusos das forças iranianas contra os protestos desencadeados após o assassinato da jovem Mahsa Amini, devido ao uso incorreto do véu islâmico.

A justificativa do Itamaraty foi a de que o Irã estaria intensificando "esforços para melhorar a situação de direitos humanos no país". Mas, desde sua criação em novembro de 2022, a missão foi rechaçada pelo regime teocrático, e não há sinal de que as violações irão cessar.

Um ano após a morte de Amini, o Parlamento endureceu a lei contra mulheres que não usam o véu, com penas de multa e prisão.

Durante os protestos, mais de 500 pessoas morreram, incluindo cerca de 70 menores de idade; centenas ficaram feridas; milhares foram presas e ao menos sete foram executadas pelo Estado.

Em março de 2023, o relator especial da ONU para o Irã, Javaid Rehman, afirmou que colheu relatos de torturas e que as ações do regime poderiam ser enquadradas como crimes contra a humanidade.

A vergonhosa abstenção do Itamaraty no caso iraniano soma-se a outra, também neste abril, sobre a extensão do prazo da comissão que investiga crimes de guerra praticados pela Rússia na Ucrânia.

Para o Ministério das Relações Exteriores, a resolução "coloca o fardo das violações dos direitos humanos apenas em um lado do conflito" —como se o país invadido fosse tão culpado quanto o invasor.

Assim, o Itamaraty não apenas contraria o discurso petista de defesa das minorias como se opõe a princípios humanistas e civilizatórios que deveriam nortear a posição do Brasil no âmbito global.

editoriais@grupofolha.com.br

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