Descrição de chapéu Conversa com leitores

União da 'terceira via' e polarização preocupam leitores em bate-papo com jornalista da Folha

Eles conversaram com Leandro Colon, diretor da Sucursal de Brasília, na última sexta (1º)

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Americana (SP)

A união da oposição em torno de um nome único que possa representar uma "terceira via" para as eleições presidenciais de 2022 e uma saída para o atual clima de polarização política no país foram duas das principais preocupações manifestadas por leitores em bate-papo online com o jornalista Leandro Colon, 41, diretor da Sucursal da Folha em Brasília.

Com 18 anos de experiência jornalística na capital federal –10 deles na Folha–, Colon avalia que o cenário político das próximas eleições ainda está longe de uma definição, mas vê sinais de que a polarização se mantenha e dificuldades para a consolidação de um nome que se interponha entre os polos com força política.

Leandro Colon, diretor da Sucursal de Brasília da Folha, participa de bate-papo com leitores
Leandro Colon, diretor da Sucursal de Brasília da Folha, participa de bate-papo com leitores - Reprodução

"Historicamente, desde 1989, sempre tivemos eleições muito polarizadas. Tudo indica que se caminha ano que vem para uma polarização entre Bolsonaro, candidato à reeleição –e todo candidato presidente à reeleição tem força política, tem a máquina, está em evidência–, e Lula, apontado nas pesquisas como estando à frente de Bolsonaro", afirmou o jornalista, que chefia a sucursal, hoje com 25 profissionais, desde 2016.

"Por mais que hoje a gente discuta, publique reportagens, o Brasil acorda para a eleição nos últimos três meses. Então é importante que essa possível terceira via, se ela realmente for existir, chegue a essa reta final com força", avaliou. "O que vemos hoje é muita gente se movimentando, mas ainda longe do eleitorado. Os nomes que surgiram até agora não demonstraram sinais de que possam chegar com força em agosto."

Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB) e Luiz Henrique Mandetta despontaram como possíveis terceiras vias. Mas, em pesquisa Datafolha de julho, Ciro Gomes tinha 8% das intenções de voto; João Doria, 5%, e Mandetta, 4%.

Pela mesma pesquisa, Lula teria 46% dos votos no 1º turno; Jair Bolsonaro (sem partido) viria em segundo lugar, com 25% –ambos muito à frente dos "terceira via".

Além disso, Eduardo Leite, também do PSDB, e o ex-juiz Sergio Moro, também começaram a se movimentar.

Leandro Colon, diretor da Sucursal de Brasília da Folha, participa de bate-papo com leitores
Leandro Colon (no canto inferior à esquerda), diretor da Sucursal de Brasília da Folha, participa de bate-papo com leitores - Reprodução

Seis leitores foram selecionados para participarem da conversa, promovida pela Folha na última sexta-feira (1º).

Ativista social ligado a movimentos negros e LGBTQIA+, o estudante de direito da USP João Conceição, 22, disse que tem conversado com muitas pessoas que estão com bronca tanto de Lula quanto de Bolsonaro, rejeitando as duas opções.

"Existe a possibilidade de uma via que encerre essa polarização e instabilidade e solucione a crise econômica, política e social que existe no país hoje? Ela vai conseguir encampar uma maioria política no Congresso?", questionou.

"Aqui em Brasília se fala em expectativa de poder. Se você é um candidato e começa a ter força para ser eleito, as outras forças se aproximam de você, porque têm expectativa de poder, elas querem participar do seu governo. Um candidato da terceira via, sendo eleito, ele provavelmente terá força no Congresso", respondeu Colon.

Mas, para o jornalista, o problema é anterior a isso: é como reunir essas forças. "O grande desafio, seja qual for o nome , é voto. É se consolidar, conseguir ter espaço, ter capilaridade e ter força política."

Fazendo um paralelo com quatro anos atrás, a gente nunca imaginaria que a eleição de 2018 aconteceria como aconteceu. É preciso ver o que acontece no primeiro semestre. Ainda estamos esquentando os tamborins.

Leandro Colon

diretor da Sucursal da Folha em Brasília

Nesse sentido, o estudante de comunicação da UFRJ Danilo Jordão, 19, questionou a possibilidade de um apoio de partidos e movimentos de centro-direita, como o MBL e o Vem Pra Rua, ao PDT com Ciro, apesar de terem pautas ideologicamente diversas.

Para Colon, o problema de Ciro é que ele transita em um ambiente em que o eleitorado do Lula também transita, tirando seu voto. O pedetista vai precisar acenar para a centro-direita, mas captar o eleitorado dos dois polos.

"Ninguém entrega sua fatura muito cedo. O MBL, se for aderir, será só em abril, maio", afirmou.

A microempresária paulistana Verônica Laget, 28, se disse cética quanto à alavancagem de uma terceira via.

Afirmando ter tido uma decepção pessoal com Ciro por seu distanciamento da esquerda, ela vê a situação do pedetista com reservas, pois parte do eleitorado esquerdista agora o rejeita; ao mesmo tempo, ele não conseguiu captar o apoio da centro-direita, que ainda o vê como de esquerda.

"Esse é o grande desafio do Ciro", concordou Colon. "Vai depender muito das alianças que ele vai fazer. Talvez uma esquerda ou centro-esquerda não agregue tanto numa chapa. Ele vai precisar fazer esse aceno para a centro-direita. É inevitável que ele componha com um vice que tenha esses elementos que você falou, senão ele não vai sair desses 10%, 12% de sempre."

Wagner Pires, 40, especialista em tecnologia industrial, disse ver Ciro como o único candidato com um plano que engloba políticas de ciência e tecnologia para setores econômicos importantes, como os da produção industrial e da agricultura.

"A visão populista dos dois principais candidatos, de atender os serviços básicos e as necessidades imediatas, não cria perspectivas", afirmou Wagner, que viu frustrada a expectativa de que o atual governo fosse ter um perfil mais técnico.

"Competitivamente, a gente está perdendo, ainda mais agora com essa disputa de produção e tecnologia entre EUA e China, e o Brasil exportando cérebros."

Segundo Colon, a agenda política e de programa de governo dos candidatos só vai começar a ser discutida mesmo no primeiro semestre.

A visão populista dos dois principais candidatos, de atender os serviços básicos e as necessidades imediatas, não cria perspectivas

Wagner Pires

especialista em tecnologia industrial em São Paulo (SP)

Professora em Silves, no interior do AM, Giselle Almeida, 25, vê com preocupação a ausência de uma movimentação política em torno do desenvolvimento de um projeto tecnológico sustentável para sua região.

"Aqui no Norte há tanto potencial que está estagnado e não há um plano de governo que atue com essas potencialidades, que consiga trabalhar com essas pessoas, capacitá-las, e não somente importar cabeças e exportar cabeças", afirmou.

"Quem vai conseguir conquistar a cabeça do eleitor para dizer: 'temos um plano para vocês'? Existe a possibilidade de uma movimentação em que esses políticos pensem em uma fluidez entre os estados, entre Norte e Sul, entre Norte e Sudeste?", questionou a professora.

Segundo ela, o Norte vê com desconfiança figuras como Doria e Leite por serem muito centrados em suas regiões.

Colon lembrou que, no sistema federativo, é importante que o governador dialogue com o Executivo, principalmente por causa da execução orçamentária. Porém, Bolsonaro é hoje um presidente distante dos governadores, que ganharam certa independência.

"Vamos depender de como uma terceira via vai compor com os governadores, e temos dois governadores querendo disputar como terceira via. Vamos ter que esperar as alianças a serem feitas", afirmou.

Aqui no Norte há tanto potencial que está estagnado e não há um plano de governo que atue com essas potencialidades, que consiga trabalhar com essas pessoas, capacitá-las, e não somente importar cabeças e exportar cabeças

Giselle Almeida

professora em Silves (AM)

Já Monalisa Cordeiro, 30, de Goiânia (GO), gostaria de ver uma união dos diversos nomes da terceira via em torno de uma única candidatura.

"A grande quantidade de nomes é bem-vinda, desde que lá na frente eles se unam em torno do mais forte", afirmou a estudante de ciência política e porta-voz do movimento Há um Caminho, que tem como objetivo viabilizar uma terceira via.

"Os eleitores sempre se perguntam: 'por que todos não se juntam? Precisamos quebrar essa polarização'. Mas infelizmente a política não funciona assim", afirmou Colon.

Para ele, a política no Brasil é muito personalista. Cada candidato tem seu projeto político e é ligado a um partido que tem seu interesse, sua estratégia de poder.

"Para um candidato a deputado ou a senador talvez não interesse juntar todo mundo porque no seu estado ele não quer que adversário no mesmo palanque do candidato do PSDB, porque ele tem sua própria ambição política. São muitos interesses que se cruzam e que inviabilizam uma união."

"São peças que vão se formando e que lá em cima, na candidatura a presidente, têm influência", acrescentou Colon.

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