As chaves para uma velhice feliz foram tema de uma conversa entre a colunista Mirian Goldenberg e um grupo de leitoras da Folha.
Para Mirian, antropóloga dedicada há décadas ao estudo do envelhecimento, o segredo está na presença de "cinco As": autonomia, amizade, alimento, aprendizado e alegria.
Enquanto a autonomia é o valor fundamental, a amizade representa os bons relacionamentos —não necessariamente familiares. Aprendizado e alimento andam de mãos dadas, para suprir os desejos do corpo e da alma.
"A questão da autonomia é tão importante, e é algo que muitas vezes os familiares, até por quererem bem ou quererem ajudar demais, tiram dos idosos", afirmou a nutricionista Viviane Hafez, de São Paulo (SP).
"'Vai fazer compra? Não, deixa que eu faço'. 'Vai passar o cartão? Deixa que eu passo'. E dia após dia o idoso vai perdendo a autonomia; daqui a pouco ele não lembra mais da senha dele, das coisas dele, porque sempre tem outra pessoa que faz", exemplificou.
Para a jornalista e escritora Heliana Querino, de Fortaleza (CE), a percepção sobre o valor dos mais velhos varia de acordo com a época e o local em que se vive. "Meu avô, que morreu às vésperas de fazer 100 anos, era meu ídolo, meu melhor amigo, é a fonte onde vou buscar inspiração para escrever".
Ela contou que sentiu a diferença quando saiu do Cariri (CE) para uma grande cidade no sul do país. "O idoso pode ser um provedor, um pai de família, uma fonte para sustentar o luxo da família, mas não existe tolerância para ouvir a fala dele, que já é mais devagar; tudo o que ele fala é uma bobagem, mas o bolso dele serve para comprar um iPhone", relatou.
"Nesse 'a de amizade' cabe colocar também o amor, o cuidado, a atenção, o respeito e transformá-lo em afetos, que comporta todas essas palavras", sugeriu.
Mirian fez o alerta de que as melhores relações para o idoso nem sempre estão nas famílias: é dentro das casas que ocorre a maior parte da violência contra eles. "Temos visto muitos casos recentes em que a família não é o lugar do amor, é o lugar da violência, do roubo, do abuso", afirmou.
"Tem filhos que são monstros, mas tem filhos bem-intencionados que colocam os mais velhos numa bolha de proteção e acabam roubando a autonomia, que é o bem mais precioso para você chegar bem aos 80, 90 anos", acrescentou.
Bianca Arruda, de Brasília (DF), diz que se policia para não superproteger os pais, que moram em Mato Grosso do Sul. "Se deixar, estou tratando meu pai e minha mão igual bebê."
Para Mirian, é preciso uma mudança de mentalidade que leve a uma escuta ativa e amorosa dos velhos.
"É preciso mudar essa mentalidade, para o bem da nossa própria velhice. A gente precisa se projetar: eu vou ser velho amanhã. Pensa bem, você quer que seu filho ligue para saber se você tomou o remédio ou você quer dar risada junto com ele?"
"Vamos fazer uma campanha: escute bonito o seu velho", disse, rindo.
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