Podcast debate legado de Marielle e violência política de gênero nas eleições

Sexto episódio do Sufrágio discute mudanças que morte de vereadora trouxe para a política

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Este projeto tem apoio do Pulitzer Center for Crisis Reporting

Brasília

O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) mudou a política brasileira. Noticiado no mundo inteiro, o atentado ocorrido em março de 2018 levou milhares às ruas no Brasil e gerou uma onda de candidaturas femininas negras.

A memória da vereadora passou a ser homenageada por políticos, artistas e ativistas —e também virou alvo de ataques e combustível para ameaças a outras eleitas. Esta será a primeira eleição depois da aprovação de uma lei que tipifica a violência política de gênero. A dias de o país ir às urnas, o sexto episódio do Sufrágio debate a simbologia de Marielle e a ocorrência deste crime contra eleitas e candidatas.

Ouça o Sufrágio:

Participam do episódio a diretora-executiva do Instituto Marielle Franco, Anielle Franco, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), a deputada estadual Isa Penna (PC do B-SP), a candidata a deputada estadual Flávia Gontijo (SD-MG), a professora de filosofia da UFRJ Carla Rodrigues e a assessora parlamentar Mariana Medeiros.

A transcrição acessível do podcast pode ser encontrada no final deste texto.

O Sufrágio conta a história das brasileiras na política e discute os desafios que elas têm pela frente. Os episódios são publicados sempre às quintas-feiras, nas principais plataformas de podcast.

A apresentação, roteiro, pesquisa e reportagem são de Angela Boldrini. A produção é de Jéssica Maes e a edição de som é de Laila Mouallem. A coordenação do projeto é de Magê Flores e a identidade visual de Catarina Pignato.

Um cartaz roxo com a imagem da silhueta de uma mulher de cabelos cacheados e punho levantado
Sufrágio - Episódio 6: Marielle - Catarina Pignato

Leia a transcrição do episódio:

[Mônica Benício] A Marielle tinha urgência de vida e pulsava luta. E isso está sendo demonstrado não no Brasil, mas no mundo. A voz dela não pode ser calada com a morte do corpo dela

Era o dia 22 de março de 2018. Fazia uma semana que a vereadora Marielle Franco, do PSOL, tinha sido assassinada no Rio de Janeiro. A Mônica Benício, que você ouve aqui, era a mulher da Marielle.

[Mônica] Esse foi o ferimento máximo que foi causado a mim, aos familiares dela como a mãe, como a irmã, como a filha, como o pai. E nós ainda assim seguiremos a luta dela juntos porque as nossas famílias existem e a luta dela não terminou com a morte dela, com a ausência física dela. A Marielle se transformou numa coisa muito maior, ela se transformou num símbolo de esperança

Nesse dia, a Mônica estava discursando na Câmara dos Deputados, em Brasília. Os parlamentares tinham organizado uma homenagem para a companheira dela.

[Mônica] As autoridades brasileiras competentes não devem só a mim a satisfação do que aconteceu com a minha mulher, porque isso não vai trazer ela de volta, mas devem ao mundo o respeito e a satisfação do que aconteceu nesse crime bárbaro [palmas]

No dia da homenagem, a Mônica tava acompanhada da Anielle Franco. Ela é a irmã mais nova da vereadora assassinada. E também discursou:

[Anielle] A gente tem recebido muitas, muitas manifestações de carinho e é o que está acalentando um pouco a minha mãe

A Marielle e o motorista dela, o Anderson Gomes, foram mortos no dia 14 de março de 2018, uma quarta-feira à noite.

Assim como a Monica disse, meu lugar também de fala não é de frente para as câmeras, eu sou professora de inglês, trabalho, saio todos os dias, assim como o Anderson saiu aquele dia às 6h da manhã para buscar minha irmã. É o horário que eu saio de casa todos os dias, 6h. E era o horário que ele conseguia muitas vezes falar com a minha irmã

A Anielle e a Mônica estavam usando no peito adesivos com o rosto da vereadora e a frase "Marielle vive". O plenário da Câmara estava lotado de faixas com a imagem dela.

Em 2018 eu era repórter da Folha em Brasília e cobria o dia a dia da Câmara dos Deputados. Por isso, eu acompanhei todas as homenagens que foram feitas para a Marielle depois da morte dela.

A primeira foi na manhã seguinte ao assassinato.

[gritos de Marielle presente]

O que eu me lembro desse dia do Congresso é que o clima tava diferente do normal. Os corredores tavam cheios de gente carregando girassóis. Os deputados, servidores e ativistas que chamaram uma manifestação assim, de última hora, pareciam meio atordoados, e o cortejo atravessou o prédio em direção ao plenário misturando gritos de ordem e lamentos.

A Câmara costuma organizar sessões de homenagem durante as manhãs. Mas elas são normalmente protocolares e vazias. Não era o caso dessa. Até o presidente da Câmara, que nunca comparece a esse tipo de sessão, tava lá.

A reação ao assassinato não ficou só em Brasília. Naquele mesmo dia, as manifestações começaram a se espalhar pelo país. A maior delas aconteceu no Rio de Janeiro, cidade em que a Marielle viveu e a cidade em que ela foi morta.

[TV Record] Milhares de pessoas se reuniram em frente à Câmara municipal de vereadores, no centro da cidade, para homenagear Marielle Franco e pedir justiça 0:21

0:40 Na hora da chegada dos corpos de Marielle e do motorista Anderson Gomes, muitos aplausos [Companheira Marielle, presente! hoje e sempre!] 0:50

Na semana depois do crime, quando a Mônica e a Anielle foram para a Câmara participar de mais uma homenagem, a morte da Marielle tinha sido notícia no mundo todo.

[France 24] Au moins des milliers de Brésiliens ont manifesté pour rendre hommage à Marielle Franco, une conseillère municipale noire abattue par balle mercredi en pleine rue

[Euronews] Protests are continuing after the execution-style murder of a Rio de Janeiro councilwoman, an outspoken critic of police killings of poor residents

[TeleSUR] Ha ocurrido el asesinato de una concejal del partido Socialismo e Libertad perpetrado este miércoles luego de que la dirigente recibiera un impacto de bala

Uma amiga da Marielle também veio para Brasília naquele dia. A então vereadora do PSOL Talíria Petrone.

[Taliria Petrone] A gente brincava que era Marielle de Niterói e ela Talíria do Rio. Eram mandatos muito irmãos, parceiros. Ali abriu-se uma convicção do horror que a gente está vivendo…

Menos de um ano depois, a Talíria ia voltar para o plenário da Câmara —mas para tomar posse como deputada federal pelo Rio de Janeiro.

A vida dela mudou totalmente depois do assassinato da Marielle.

[Taliria] Angela, assim, eu ia de bicicleta e ônibus para a Câmara Municipal quando eu era vereadora. Hoje eu ando de blindado com agentes policiais armados

Essa aqui é uma série sobre a história das mulheres brasileiras na política. E a morte da Marielle talvez seja o marco mais claro dessa história recente.

Não só porque a imagem da Marielle entrou para sempre na nossa simbologia política. Mas porque relatos de ameaças e casos de violência política contra mulheres —principalmente mulheres negras como ela— têm sido cada vez mais frequentes.

[Taliria] A gente já sabia que o Brasil era um dos países que mais assassinava defensores dos direitos humanos. O Rio já era o local das milícias. Mas isso chegou um corpo muito nosso e de forma muito abusada, ousada, no centro da cidade, oito da noite, então sem dúvida a própria execução dela abriu, abriu para nós uma certeza de que… De que outro momento tinha se iniciado né? Nunca mais foi normal

Eu sou Angela Boldrini, e esse é o Sufrágio, um podcast da Folha que tem apoio do Pulitzer Center for Crisis Reporting. Capítulo seis: Marielle.

[Angela] Logo na semana, acho que na semana seguinte ao assassinato da sua irmã, você foi na Câmara e fez um pronunciamento para a imprensa. E você falava assim eu não imaginava que ia ter essa repercussão

[Anielle] Sim

[Angela] E eu queria saber como que você foi processando, enfim, como você saiu daquele lugar e chegou nesse lugar hoje, enfim. Como você processou essa repercussão toda que teve a morte da Marielle?

[Anielle] Eu nem sei se eu já processei tudo, vou ser muito honesta assim

No final de junho, eu embarquei para o Rio de Janeiro com um objetivo: entender os caminhos que tornaram a morte da Marielle um símbolo tão poderoso.

A minha primeira parada foi num galpão na zona portuária. É lá que funciona o Instituto Marielle Franco, presidido pela irmã dela, a Anielle Franco.

[Anielle] Acho aquela semana ali foi uma semana que eu fiquei em choque, né? Eu não consegui chorar por exemplo, no dia 14 e no dia 15, eu fui chorar tipo dois dias depois, assim… para tentar entender a dimensão de tudo. E na própria Câmara também eu ainda estava um pouco em choque, porque tinham muitas fotos dela, né? Muitas fotos, muitas pessoas que eram próximas e tudo

Talvez você nem soubesse quem era a Marielle antes da morte dela. Eu, que sou de São Paulo, não sabia. Mas eu duvido que hoje, em 2022, você não tenha uma imagem dela na cabeça.

Quando eu penso na Marielle, o que vem na minha mente é o rosto dela. Ela está sorrindo, e o cabelo cacheado está puxado para trás, formando uma moldura na cabeça. Na orelha, ela está usando brincos roxos e redondos. Dá para ver só o comecinho da roupa dela, um vestido com decote em V, estampado com listras coloridas.

Essa imagem vem de um vídeo que a própria Marielle gravou em 2016, durante a campanha dela para Câmara Municipal do Rio.

[Mídia Ninja] Uma coisa é você morar, nascer, viver na favela. Outra coisa é você reivindicar e usar desse lugar de favelada para está fazendo política de outra maneira

A Marielle recebeu 46 mil votos dos cariocas. Ela nunca tinha disputado uma eleição, mas teve a quinta maior votação da cidade.

Antes de ser vereadora, a Marielle trabalhou por dez anos no gabinete do então deputado estadual Marcelo Freixo, que hoje concorre ao governo do Rio pelo PSB. O Freixo foi o presidente da CPI das Milícias, que indiciou mais de 200 milicianos no estado. E a CPI também colocou um alvo nas costas do deputado, que passou a andar com escolta armada e sofrer ameaças constantes.

Algumas pessoas me disseram que, quando a Marielle morreu, elas se perguntaram por que ela e não o Freixo. O Freixo já tinha tido até saído do país por um tempo por causa de ameaças. E a Anielle me disse que ela também já se fez essa pergunta e que a irmã nunca relatou nenhum tipo de intimidação no trabalho.

[Anielle] Acho que o primeiro de tudo é: matar o Freixo ia dar um trabalhinho a mais, né? Com os milhões de segurança que ele tem na frente, atrás, e segurança armado. Mas quando eu penso por que, eu não sei…

O Freixo era um dos poucos parlamentares naquela época que tinha um aparato de proteção organizado. A Marielle, no dia do assassinato, tava num carro comum e não tinha nenhum segurança.

[Anielle] Acho que ela nunca imaginava que isso pudesse acontecer com ela. Não só por ser parlamentar do PSOL e tudo mais, mas também pela maneira com que ela se comportava, que ela era muito bem, que ela é muito querida, muito bem vista por todo mundo. Nunca tinha tido perdão, nenhum problema na própria Câmara. Eram discussões bobas, discussões diárias e tudo. Então, acho que nem o partido poderia ter previsto isso

A Anielle e outras pessoas com quem eu conversei, tipo a Talíria, disseram que a percepção de insegurança que elas mesmas tinham antes da morte da Marielle era muito diferente. Aqui, a Talíria.

[Taliria] A gente, olhando de frente para trás, de forma anacrônica sempre era possível, né? Quem dera a Marielle tivesse um carro blindado naquele momento, mas não tinha nenhuma, nenhum elemento que nos convencesse dessa necessidade. A gente já vivia uma situação muito tensa na Câmara de Niterói

A Talíria era alvo de ataques desde 2017, quando assumiu o mandato. Um homem chegou a ligar para o gabinete exigindo o contato da vereadora e dizendo que ia jogar uma bomba na Câmara Municipal de Niterói se não conseguisse falar com ela.

[Talíria] Mas eu continuava mesmo com as ameaças que eu já vivenciava, indo de ônibus para Câmara. Então, não existia um entendimento que as violências elas poderiam chegar no nosso corpo concretamente

Mas a opinião de que não dava para ter previsto um ataque contra a Marielle não é unânime.

[Isa Penna] Era necessário que a gente tivesse se antecipado, ou seja, a gente precisava ter dado mais segurança às companheiras do Rio de Janeiro quando teve todo o prenúncio de uma escalada de violência

Essa é a deputada estadual Isa Penna, do PC do B. Eu fui até o gabinete dela na Assembleia Legislativa de São Paulo em junho.

[Isa] Então, assim tem gente que faz esse balanço de forma mais enfática, menos enfática. Mas há esse balanço na esquerda toda, de que as mulheres são menos protegidas, estão menos protegidas, entende? E isso reflete a nossa falta de prioridade

A Isa foi eleita pela primeira vez em 2018, pelo PSOL, o mesmo partido da Marielle. Em 2022, ela está tentando uma vaga na Câmara dos Deputados. E vem sofrendo violência política.

No dia 19 de setembro, ela entrou com uma representação na Procuradoria Regional Eleitoral depois de receber uma mensagem com xingamentos e ameaças de morte. Essa não é a primeira vez que a parlamentar é alvo desse tipo de intimidação.

[Isa] Hoje eu não ando, por exemplo, em corredor da Alesp sozinha. Não ando. Eu tenho três pessoas hoje na minha equipe que se formaram por escolha do coletivo aqui em protocolos de segurança, em cursos de formação profissional para seguranças

A Isa diz que todo o esquema de segurança que ela tem foi pensado pelo próprio gabinete. E considera que os partidos negligenciam até hoje a segurança das eleitas.

[Isa] Nunca ninguém me ligou para perguntar, mas eu já tive… eu já estou no meu quinto boletim de ocorrência por ameaça de morte e na hora de postar no Twitter todo mundo é muito solidário, mas isso não entra numa reunião da Executiva. Isso não entra numa prioridade no orçamento do partido. Então o descaso é muito grande

Só em 2021 o Congresso aprovou uma lei que tipifica a violência política contra as mulheres. A nova norma está valendo em 2022 e inclui no Código Eleitoral que é crime assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar, por qualquer meio, candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo, utilizando-se de menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou à sua cor, raça ou etnia, com a finalidade de impedir ou de dificultar a sua campanha eleitoral ou o desempenho de seu mandato.

Tem uma expressão aí que faz toda a diferença para a gente entender o que é violência política de gênero. É essa aqui: utilizando-se de menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

[Débora] Toda a aula que eu dou de violência política de gênero, eu falo: "gente quem sofre mais violência política?" Todo mundo responde o quê? A mulher

Essa é a cientista política Débora Thomé, que já apareceu por aqui.

[Débora] Não, eu falo assim: gente, só em Duque de Caxias três vereadores foram mortos nos últimos dois anos. Quem sofre violência política, violência política mesmo, no Brasil é homem. Morte, assassinato, coisas dessa monta. É isso quem sofre homem, não só porque eles são mais numerosos, né? Se a gente está falando de 15% para 85% já tem uma questão numérica aí, como também eles estão no jogo, muito mais de uma maneira, estão no jogo entrando, dando carrinho um no outro. É uma outra dinâmica

Ela explica que para uma violência política ser uma violência de gênero, ela tem que estar relacionada ao fato de a vítima ser mulher.

[Débora] Então, por exemplo, quando um deputado assedia sexualmente uma mulher tocando nas partes ou qualquer coisa assim. Isso é uma violência política de gênero. Quando um deputado interrompe uma mulher no discurso assim como eles interrompem homens, isso não é uma violência política de gênero

Alguns exemplos de misoginia na política são bem claros. Durante o processo do impeachment da presidente Dilma Rousseff, um adesivo de carro ficou famoso. Era um desenho da presidente com as pernas abertas. O adesivo era colado de um jeito que o meio das pernas ficasse bem no tanque de gasolina. Isso fazia com que a bomba de combustível simulasse uma penetração na caricatura da presidente.

Mas nem sempre a relação entre a violência e o gênero é tão clara. No caso do assassinato da Marielle, por exemplo, eu queria saber se a Débora achava que esse elemento existia.

E ela respondeu levantando aquela mesma questão: por que a Marielle?

[Débora] Então tem um estudo até que mostra um pouco disso, que como, por exemplo, o Freixo já vinha sendo ameaçado muito e quem acabou sendo morta foi a Marielle. Ela era vista como um elemento de repente mais frágil nesse processo

O estudo que a Débora cita foi feito pela pesquisadora Juliana Restrepo, da Universidade da Flórida. Ela diz que a morte da Marielle também é uma violência política de gênero porque representou um ataque à presença de uma mulher, negra e lésbica, num espaço de poder.

E mesmo depois de ser assassinada, a Marielle continuou sofrendo violência. Até hoje ela é alvo de ataques e de fake news. A primeira dessas notícias falsas começou a circular na noite da execução, associando a vereadora a organizações criminosas.

Um deputado federal de direita que nem era do Rio publicou um vídeo dizendo que a vereadora era mulher de um traficante famoso. Esse ódio de algumas alas da sociedade por uma pessoa morta sempre me deixou intrigada no caso Marielle.

Pessoas que nem sabiam quem ela era em vida passaram a enxergá-la como uma inimiga. E a atacar a família dela também.

[Anielle] Eu lembro que eu levei minha mãe e a gente… coisa de sonho, né? Juntamos e fomos a Fortaleza para o Beach Park

No primeiro ano novo depois da morte da irmã, a Anielle programou uma viagem para animar a família.

Eu, minha mãe, meu pai, Luyara, nanana, aí quando a gente estava comemorando na praia, assim passou uma pessoa e gritou tipo "Marielle vive enchendo o saco". Gritou. Eu tentei disfarçar para a mãe não ouvir, né? Tipo: "Marielle vive… enchendo o saco"

Essa frase é uma paródia do mote "Marielle vive" —e se espalhou em grupos de direita.

[Anielle] Aí a mãe deu aquela olhada, eu tirei minha mãe e tal. E logo depois eu postei uns stories da gente na praia e as pessoas foram lá, "ah está procurando sua irmã na praia morta, puta?", esse tipo de coisa. Era isso, 1 de janeiro, a pessoa podia estar fazendo qualquer coisa, mas estava ali afetando e atacando a gente, então é muito cruel

Um ano depois do assassinato, uma youtuber de direita viralizou. Ela vestiu uma camiseta com essa mesma frase e foi até a Câmara dos Deputados tirar fotos com deputadas do PT. Depois, ela postou as fotos nas redes sociais, fazendo piada.

E foi celebrada por deputados do então partido do presidente Jair Bolsonaro, o PSL. Entre eles estava o Daniel Silveira, um parlamentar do Rio de Janeiro eleito em 2018.

Foi ele quem protagonizou um dos ataques mais emblemáticos contra a memória da vereadora.

[TV Globo] Pouco depois da morte de Marielle, uma placa como esta foi afixada pelos amigos e companheiros de partido em frente à Câmara Municipal do Rio. O deputado eleito pelo PSL Daniel Silveira e o colega de partido, Rodrigo Amorim, eleito para a Assembleia Legislativa do Rio, rasgaram a placa

Só que isso acabou gerando um movimento contrário. Ativistas começaram a fazer e distribuir placas da "Rua Marielle Franco" gratuitamente.

[Carla Rodrigues] Então, a revanche, digamos, a esse ato político de quebra da placa foi, num primeiro momento, um ato que parecia simples. Era um número assim relativamente pequeno, que foi crescendo exponencialmente. E aí todo mundo queria ter uma placa

Essa é a Carla Rodrigues, professora de pós-graduação em filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eu cheguei até a Carla por causa de um artigo que ela publicou em 2020, chamado "A função política do luto por Marielle Franco".

Ah, o cachorro da Carla tava muito animado no dia que a gente conversou, e talvez você ouça ele no fundo da gravação de vez em quando.

[Carla] E aí todo mundo queria ter uma placa. Eu me lembro, eu tenho a minha, claro, está aqui na minha casa, mas eu tenho uma no trabalho, eu dei placa de presente, eu distribuí placa para as alunas. Justamente porque a placa com o nome de rua, ela se transformou numa coisa que eu também abordo no artigo, que é essa manifestação espontânea de luto, né?

A Carla era eleitora da Marielle.

[Carla] E aí no dia que ela foi executada era o primeiro dia de aula do semestre letivo e eu estava no bar com os meus alunos e alunas comemorando o fato de que eu tinha acabado de conseguir uma bolsa de pesquisa, uma bolsa de estudos

No dia seguinte, ela foi ao velório. E se impressionou com o tamanho da manifestação.

[Carla] Quando uma mulher negra, moradora da favela da Maré, morre de bala perdida — que é um eufemismo espetacular— ninguém sabe o nome dela, ninguém sabe a história dela, ninguém para para enlutar, ninguém para para lamentar. A vida continua, literalmente. Então quando a Marielle morre, ela nas nas homenagens a ela estamos homenageando a ela e a todas as outras vidas perdidas antes da dela, que eram anônimas, mas que foram executadas de forma violenta

Para a Carla, é nessa representação de outros lutos que está a resposta de por que uma vereadora assassinada causa tanto incômodo, a ponto de virar objeto de piada depois da morte.

[Carla] Só que o que também me parece chocante e necessário de refletir é que uma mulher negra, oriunda de favela, com graduação e mestrado, vereadora, nem assim tenha conseguido superar a sua condição de vida matável. Então é isso que eu acho que está em jogo nesse ódio a que você se referiu. É que a ousadia dela de superar essa condição de vida matável e ainda uma segunda ousadia que se dá quando ela morre, que é se tornar símbolo de uma luta que não vai acabar porque ela morreu. É muita coisa. É muita coisa para quem achava que dando uns tiros nela ia acabar com a força política que ela representava

A força política representada pela Marielle aumentou depois da morte dela. O número de candidatas negras no Rio de Janeiro mais que dobrou em 2018.

[Carla] Ela morre em março mais lá para junho, julho, quando começam os partidos a fazerem as suas convenções, começam a surgir essas criaturas que se se apresentam como forma de continuação do mandato da Marielle Franco

Três ex-assessoras da Marielle são eleitas deputadas estaduais para a Alerj. A amiga dela, Talíria Petrone, chega a Brasília como deputada federal.

Os mineiros elegem as ativistas Andreia de Jesus e Áurea Carolina, duas candidatas do PSOL. A Andreia para a Assembleia Legislativa e a Áurea para a Câmara dos Deputados.

São Paulo também entrou na onda e elegeu pela primeira vez uma deputada estadual travesti e negra, a Erica Malunguinho, do PSOL.

[Mariana Medeiros] Mas eu, por exemplo, passei por um quadro depressivo que eu, durante alguns meses eu falava: não vale a pena

A Mariana Medeiros é assessora parlamentar do PSOL na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro —e é também minha amiga. Nos dias que eu estava no Rio, eu fui visitar a Mari na casa dela.

Ela me recebeu e logo na porta do apartamento eu notei uma decoração. Uma placa de rua. A rua Marielle Franco. A Mari me contou que ela trabalhou junto com a Marielle quando as duas eram assessoras da Alerj.

E ela disse que demorou para assimilar a ideia de "Marielle semente".

[Mariana] As pessoas falavam Olha que lindo o que aconteceu com a Mari, ela virou semente, está mobilizando mil pessoas no mundo, no Rio, no Brasil. Eu falava cara, mas isso não vale a pena a morte da minha amiga. Foi muito difícil assim. Ela já era semente antes. Ela já estava no começo de uma guinada política que ela podia sei lá, virar federal, virar senadora

O caminho que a Marielle terminou abrindo para outras mulheres negras poderia ter sido trilhado pela própria Marielle.

[Mariana] Depois eu entendi que já estava dado o que tinha que acontecer e está acontecendo, eu acho, tipo ela continua sendo referência. Tem instituto, tem a filha dela, tem a Anielle, os pais dela também criaram uma grande consciência política a partir disso, viraram grandes lutadores. A companheira dela, Mônica, agora é vereadora. Então, tipo ela realmente virou semente. A gente não queria que por causa da morte dela, mas tipo que bom que, apesar disso, a gente não encolheu, né? A gente expandiu

Para explicar o que é uma violência política de gênero, o exemplo que a Débora Thomé deu aqui no podcast foi… assédio sexual.

É que a violência sexual é uma constante na vida das mulheres. Uma pesquisa da organização Think Olga mostrou que 99,6% das mulheres dizem já ter sido assediadas em lugares públicos.

As mulheres que tão na política não escapam dessa regra.

[Isa] Assim, é uma escalada, sabe? E isso eu senti muito na pele. Eu já disse aqui algumas vezes, teve um deputado que, no dia que eu aprovei o Dossiê Mulher perguntou para mim qual era o meu preço!


O principal motivo de eu ter marcado uma conversa com a deputada Isa Penna para este episódio é que ela foi alvo do exemplo mais claro que a gente pode ter de uma violência que é de gênero.

Em dezembro de 2020, a deputada foi assediada sexualmente no plenário da Assembleia Legislativa, por um outro deputado. Um colega.

[Isa] O meu caso aconteceu porque o Fernando Cury é um playboy que não tem, nunca teve que lidar com as consequências do que faz. Estava bêbado e foi instigado por esses outros caras que já vinham baixando meus vídeos nos stories, me chamando de puta, me... Espalhando, falando qualquer tipo de coisa desse tipo de mim, me desqualificando e tal. E ele foi, achou que realmente podia fazer o que fez no plenário na frente de todo mundo, quer dizer, gravado

As câmeras do plenário mostram a deputada apoiada na mesa diretora, conversando com um parlamentar. Atrás dela, o deputado Fernando Cury conversa com um colega, que tenta segurá-lo pelo braço quando ele vai em direção à deputada.

O vídeo registra quando ele a abraça por trás, apalpando os seios dela —e quando imediatamente ela o empurra.

A deputada registrou um Boletim de Ocorrência por importunação sexual e também entrou com um pedido de cassação do Cury no Conselho de Ética da Alesp.

O deputado foi expulso do Cidadania, o partido dele na época, e hoje está no União Brasil. Mas ele não foi cassado: suspenso por seis meses do cargo, hoje ele é candidato à reeleição este ano.

Alguns meses depois, outro caso de violência contra a mulher virou notícia na Alesp.

[TV Record] Em uma rede social, Arthur do Val disse que estava na Ucrânia para acompanhar a crise humanitária provocada pela guerra. Ao cruzar a fronteira com a Eslováquia, enviou áudios para amigos com conteúdo desrespeitoso sobre as mulheres do país [Arthur do Val]"Elas olham, cara, elas olham e vou te dizer, são fáceis porque elas são pobres"

O deputado conhecido como Mamãe Falei teve o mandato cassado. Ele também foi expulso do partido em que estava, o Podemos —e hoje é filiado ao União Brasil.

Eu perguntei para Isa porque ela achava que esse caso tinha resultado em cassação e o dela não.

[Isa] Sem dúvida nenhuma, a cassação do Arthur só foi possível porque a gente teve a suspensão do Fernando Cury aqui atrás

Ela diz que a pressão sobre os deputados ficou muito maior depois do que aconteceu com ela. E que quando um novo caso de machismo foi denunciado na Casa, a resposta acabou sendo mais dura.

O relator da ação contra o Mamãe Falei no Conselho de Ética foi o deputado Delegado Olim, do PP. Ele protagonizou dois momentos no processo. O primeiro é quase um alívio cômico. O deputado não conseguia de jeito nenhum pronunciar a palavra misógino.

[UOL] Em fase do deputado Arthur do Val, porque este teria divulgado pela mídia conjunto de áudios com teor sexista e misogíno… misogíno… [misógino!] misojónido, misojónido [misógino!] logo a seguir outras 19 representações foram apresentadas

Apesar do potencial de meme, esse momento mostra o quanto a gente é atrasado no debate sobre violência contra a mulher no Brasil. E o Delegado Olim não parou por aí. Numa entrevista em abril deste ano, ele comentou o assédio contra a deputada Isa Penna.

E ele disse que ela tinha tido sorte de ser assediada porque isso ia garantir a reeleição dela.

[Isa] [suspiro] Quem nunca viveu um episódio de violência sexual só que poderia dizer isso, né. Eu acho que as mulheres reagem. E quem capitaliza é a luta, é o projeto político, é a intenção de ter uma sociedade sem violência política de gênero. Eu acho até difícil de dialogar com quem pensa assim para ser sincera. Não é, não é o meu papel. Eu vejo homens preocupados em se colocar como meus aliados hoje, centenas deles e eles que vão ser minha prioridade agora

A Isa protocolou dois pedidos de cassação do Delegado Olim. O primeiro foi arquivado pelo Conselho de Ética. O segundo ainda não foi avaliado.

A violência que ela sofreu acabou indo parar sim numa campanha este ano. A de Fernando Haddad, candidato ao governo do PT por São Paulo.

[Narradora] Fernando Cury se aproxima pelas costas. Ele encosta na moça e em seguida passa a mão no seio dela. Agora adivinha quem é amigo e está ao lado do Fernando Cury? Rodrigo Garcia.

A Isa pediu a retirada das imagens do ar. Ela disse que usar o vídeo de um assédio que ela sofreu numa propaganda eleitoral e nem citar o nome dela, chamar de moça, é uma nova violência política de gênero.

A violência sexual na política obviamente não está restrita ao estado de São Paulo. Nas eleições municipais de 2020, o Instituto Marielle Franco fez uma pesquisa com candidatas negras. E ela mostrou que mais da metade foi assediada durante agendas de campanha.

No Congresso, os relatos que eu já ouvi não são poucos. Acontece com deputadas, assessoras, servidoras, jornalistas… Uma vez, depois de uma conversa rápida no corredor, um deputado enfiou o nariz no meu pescoço e me deu uma fungada.

A deputada Áurea Carolina, do PSOL de Minas, contou em um livro sobre violência política de gênero que um colega colocou a mão na coxa dela durante uma conversa na Câmara. Quando ela disse que aquilo não era apropriado, ele se irritou e chamou a deputada de louca.

A pesquisa do Instituto Marielle também apontou que a maior parte delas disse que denunciar a violência não deu em nada. O caso da Isa foi filmado e escancarou para o Brasil todo o que é ser mulher dentro da política. Mas a maioria dos assédios não é filmada. E aí, na hora de denunciar, é a palavra da mulher contra a do cara.

Em abril, eu fui acompanhar um curso de formação de candidatas. Pela lei, os partidos precisam destinar uma parte do fundo partidário para ações de fomento à participação feminina na política. E a Fundação Primeiro de Maio, do Solidariedade, estava organizando um evento chamado Lidera Mais.

Por alguns dias, candidatas de várias partes do país estavam em Brasília para participar de palestras, orientações e outros tipos de trabalho para prepará-las para eleição deste ano.

[Apresentadora] É teste de tribuna agora. Quando a gente estiver lá no nosso tempo de fala o microfone é cortado e aí não é por desrespeito, é pela organização das casas Legislativas mesmo, né? Então venham viver esse teste aqui!

Depois de um tempo observando, eu disse para a assessora que estava me acompanhando que eu queria conversar a sós com algumas das mulheres para saber o que elas estavam achando do curso, que tipo de cargo elas iam disputar e tal. E ela me disse que uma mulher interessante com quem eu podia falar era a Flávia Gontijo, uma candidata trans de Minas Gerais.

A assessora disse que ia buscar a candidata e saiu da sala. Um tempo depois ela voltou sozinha. E me disse que a Flávia não ia poder falar comigo porque tinha ido para a delegacia.

No meio de um evento de formação política para mulheres, ela tinha sido vítima de transfobia. Eu não consegui falar com a Flávia naquele dia. Mas eu pedi o telefone dela e a gente conversou algumas semanas depois.

[Flávia Gontijo] Então, estava lá no segundo ou terceiro dia do evento, estava hospedada no nono andar. E aí um dia, no retorno do almoço, para começar uma outra formação lá, uma palestra eu acho…

Ela estava entrando no elevador quando um homem disse que a Flávia e a amiga dela não podiam entrar.

[Flávia] Aí um senhor lá atrás foi, colocou a mão no sentido de pare, não entrem. E falou não, não está podendo entrar a gente está em um tempo de Covid tal etc e tal, está numa pandemia e a gente foi tipo viu que ele era um senhor de idade, tipo recuamos e não entramos

Só que dentro do elevador estava uma outra colega de curso.

[Flávia] Quando o elevador desceu um ou dois andares e novamente a porta abriu e um casal de namorados entrou sem nenhum problema. E esse senhor não contestou a presença deste casal de namorados em nenhum momento lá. E aí minha colega falou: "ah, quer dizer que mulher trans entrar não pode não, mas duas outras pessoas podem entrar e não tem nenhum tipo de obstrução com relação a alegação de que nós estamos no contexto pandêmico. O senhor está sendo transfóbico, transfóbico!"

Nisso, a Flávia nem sabia o que estava rolando. Ela tinha entrado em outro elevador e estava no auditório.

[Flávia] Me chamaram lá falando que minha colega tinha reclamado com a gerência do hotel sobre transfobia, que eu fui vítima de transfobia. E quando eu entendi o contexto todo eu entendi o que de fato aconteceu um episódio de transfobia e eu fui para a delegacia

A violência que aconteceu com a Flávia, que hoje disputa uma vaga na Assembleia Legislativa de Minas, não é um caso isolado. A pesquisa Mais representatividade, do Instituto Update, apontou que candidatas trans são um dos grupos mais afetados pela violência política.

A primeira aplicação daquela lei de violência política de gênero, aquela aprovada em 2021, foi numa ameaça contra uma vereadora trans. Em agosto, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro aceitou por unanimidade uma denúncia contra o deputado estadual Rodrigo Amorim, do PTB.

Aliás, esse é o mesmo Rodrigo Amorim que quebrou a placa em homenagem à Marielle em 2018.

Ele é acusado de violência de gênero contra a vereadora Benny Briolly, do PSOL de Niterói. Em maio, ele fez um discurso chamando a vereadora no masculino e dizendo que ela era uma aberração da natureza.

A pena para o crime do qual ele é acusado é 1 a 4 anos de prisão e multa. E uma condenação deixaria o réu inelegível por oito anos. O julgamento ainda não tem data marcada.

O caso da Flávia também não teve conclusão ainda.

[Flávia] Me senti no chão para início de conversa. É como se a minha presença ali o incomodasse. E mais uma vez, ele reafirma aquilo que todos os dias a sociedade faz comigo e com pessoas do meu grupo social, marginalizando a nossa existência, achando que nós não somos dignas de circularmos em alguns espaços, né?

Essa não é a primeira eleição da Flávia. Em 2020, ela disputou o cargo de vereadora na cidade natal dela, Abaeté.

[Flávia] Nas redes sociais às vezes, no Direct e no Messenger do Facebook, eu recebia alguns assédios de pessoas que falavam assim… Um pseudoapoio, falando: número tal, eu voto! E eu agradecia gentilmente. Aí ficava assim, falava algo do tipo: e que dia a gente pode marcar o motel?

Ela respirava fundo.

[Flávia] E aí eu falava: Olha moço, eu não estou aqui para isso, conheça as minhas ideias e tal. Mas é difícil. É difícil. A gente é testada todo o tempo e a gente tem que ter um enorme jogo de cintura para inteligência emocional, para a gente não, não perder ainda mais e reforçar um preconceito histórico a gente enfrenta

Uma das principais preocupações de quem estuda a violência política de gênero é que esse tipo de agressão acabe afastando as mulheres da política. E a gente já sabe de alguns casos assim…

A deputada Aurea Carolina não está tentando a reeleição este ano. Ela teve um colapso emocional no ano passado e se afastou da disputa para cuidar da saúde.

Manuela D’Ávila, que foi candidata a vice-presidente em 2018 pelo PC do B, também anunciou que não se candidataria. A ex-deputada é uma das mais atacadas nas redes sociais e neste ano, apesar de não estar na corrida eleitoral ela e a filha dela de seis anos foram ameaçadas de morte e de estupro.

A Anielle diz que a lei em vigor hoje é importante. Mas…

[Anielle] Eu não acho que ainda ela é suficiente. Você fala assim o que que falta? Cara, falta concretude de proteção. Falta a gente olhar para as mulheres que estão ali realmente passando por algum tipo de violência. Não procurar um terceiro setor ou ONG para a proteção, sabe? Para medida efetiva de tipo vamos pagar aqui e você está para tal lugar, você vai fugir aqui. Não. Tem que ter realmente algo que aconteça ali, de punições né? Que na verdade é isso, amiga, eu tenho o sentimento que… é óbvio, caminhamos é importante, é isso, tem que botar ali os partidos para cumprirem direitinho. Mas eu tenho a sensação de que essas mulheres seguem com medo, sabe? Porque passam por ameaças antes, durante e ali quando o mandato agora tem o pós também que você enfim, não sabe como é que vai ser…

A Anielle defende que a gente tem que proteger melhor as mulheres que chegarem ao poder este ano.

[Anielle] Como é que vai ser isso até outubro? Como vai ser isso até janeiro? Até virarem esses mandatos? Então é preocupante

E é sobre elas que a gente vai falar na semana que vem. Neste domingo, um número recorde de candidatas vai estar nas urnas. O episódio final do Sufrágio analisa como as mulheres se saíram na disputa de 2022 e quais os próximos passos para a gente atingir a igualdade de gênero na política.

O Sufrágio é um podcast da Folha realizado com o apoio do Pulitzer Center for Crisis Reporting. Segue o programa no seu agregador favorito e dá uma nota para a gente!

Eu sou Angela Boldrini, e a idealização, pesquisa, reportagem e roteiro são meus. A produção é da Jéssica Maes, e a edição de som é da Laila Mouallem. A coordenação é da Magê Flores, que também editou o roteiro deste episódio. A identidade visual é da Catarina Pignato, e a divulgação é feita pelo Naná DeLuca e pelo Mateus Camillo. A gravação foi feita no estúdio Madruga, em Brasília.

Este episódio usa áudios de TV Record, TeleSUR, Euronews, France 24, TV Globo, Mídia Ninja, UOL e TV Record.

A gente agradece a Ana Luiza Albuquerque, Ana Cláudia Oliveira, Beatriz Della Costa, do Instituto Update, e à Fundação Primeiro de Maio, do Solidariedade.

O último episódio sai na próxima quinta. Até lá!

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