Descrição de chapéu Eleições 2018

Ausente, Pimentel vira alvo de adversários em evento em MG; Anastasia é o mais aplaudido

Pré-candidatos ao governo se reuniram pela primeira vez e defenderam ajuste fiscal no estado

Carolina Linhares
Belo Horizonte

Pela primeira vez reunidos lado a lado para responder perguntas e discursar, pré-candidatos ao governo de Minas Gerais atacaram nesta quarta (20) a ausência do governador Fernando Pimentel (PT) no 35º Congresso Mineiro de Municípios e defenderam ajuste fiscal no estado, que enfrenta grave crise financeira.

Pré-candidatos ao governo de Minas Romeu Zema (Novo), Antônio Andrade (MDB), Márcio Lacerda (PSB), Antonio Anastasia (PSDB), Dirlene Marques (PSOL), João Batista dos Mares Guia (Rede) e Rodrigo Pacheco (DEM) participam do 35 Congresso Mineiro de Municípios em BH
Pré-candidatos ao governo de Minas Romeu Zema (Novo), Antônio Andrade (MDB), Márcio Lacerda (PSB), Antonio Anastasia (PSDB), Dirlene Marques (PSOL), João Batista dos Mares Guia (Rede) e Rodrigo Pacheco (DEM) participam do 35 Congresso Mineiro de Municípios em BH - Carolina Linhares/Folhapress

Para uma plateia de prefeitos e vereadores, os sete pré-candidatos presentes evitaram críticas entre si e concentraram a artilharia no fato de que a gestão Pimentel tem atrasado e parcelado salários de servidores e tem retido os repasses aos municípios, em um cenário de crise econômica e queda de receitas.

"Não há ainda clareza de consciência sobre o tamanho da crise que Minas Gerais vive. O estado está falido. Uma vez que não houve nenhuma ação de ajuste fiscal corajosa", disse João Batista dos Mares Guia (Rede). 

Mais aplaudido entre os pré-candidatos, o ex-governador e senador Antonio Anastasia (PSDB) pregou uma administração austera e a melhoria do ambiente de negócios. Ele admitiu que sua gestão entregou o estado a Pimentel, em 2015, com deficit de R$ 2 bilhões, mas afirmou que isso não provocou o colapso atual, embora seja a justificativa usada pelo petista.  

"É um deficit administrável. Mas o governo em vez de reduzir, criou secretarias e concedeu benefícios e vantagens", disse, ressaltando que fez cortes de gastos ainda em 2013.

Pimentel concorre à reeleição no estado. Em sua agenda, consta uma reunião com bancos e investidores em São Paulo. "A um governo ausente corresponde um governador ausente e uma cadeira vazia", disse Mares Guia.

"O governador não teve coragem de vir a esse congresso, porque aqui ele seria vaiado", disse o vice-governador Antônio Andrade (MDB), também pré-candidato. Andrade e Pimentel estão rompidos desde 2016 —o emedebista diz ter deixado o governo por discordar da gestão fiscal.

Andrade foi o principal defensor de que o MDB tenha candidatura e não apoie a reeleição de Pimentel. "O governo não tem gestão. É um desmando total. Os secretários não fazem o que o governador quer. E ele não sabe o que quer", disse. 

Para Márcio Lacerda (PSB), a falta de pagamentos do estado é apropriação indébita e um desrespeito à lei. Um pedido de impeachment contra Pimentel tramita na Assembleia acusando-o de crime de responsabilidade por reter repasses. 

"A Assembleia aprovou orçamentos com deficit sem que o governo tenha feito nenhum ajuste fiscal, pelo contrário, aumentando seus gastos. Fez um aparelhamento absurdo nas secretarias e nas estatais", afirmou o pessebista. 

Em nota, o governo informou que a reunião de Pimentel com investidores em São Paulo tem o objetivo de mostrar detalhes da operação de lançamento de debêntures. "O governador vai mostrar aos investidores a segurança jurídica da operação e, com isso, agilizar a captação dos recursos fundamentais para Minas Gerais, neste momento de crise por que passa o estado e o restante do país."

O senador Antonio Anastasia (PSDB), pré-candidato ao governo de Minas, cumprimenta Geraldo Alckmin durante encontro do partido em Brasília
O senador Antonio Anastasia (PSDB), pré-candidato ao governo de Minas, cumprimenta Geraldo Alckmin durante encontro do partido em Brasília - Pedro Ladeira - 9.mai.2018/Folhapress

SEM SERVIÇOS

Um painel eletrônico instalado no evento mostrava a dívida do governo com cada cidade mineira, separando ainda a destinação do recurso: saúde, assistência social e transporte escolar.

A retenção de repasses aos municípios gerou um embate entre prefeitos e o governo —o caso foi parar no Supremo Tribunal Federal. Segundo a associação de municípios, a gestão Pimentel deve R$ 5,9 bilhões aos prefeitos.

Sem os recursos, o presidente da Associação Mineira de Municípios, prefeito Julvan Lacerda (MDB), diz que as cidades podem entrar em uma espécie de greve forçada, sem o funcionamento de escolas, assistência social e transporte escolar. 

Julvan e Andrade acusaram o governo Pimentel de tentar boicotar o congresso de municípios. "O governador fez tudo para não ter esse congresso. Ele não veio porque não quis", disse o vice-governador. 

Nem secretários e técnicos do governo compareceram para palestrar sobre diferentes temas. "É uma coincidência muito forte, no mesmo dia, todas as pessoas ligadas ao governo do estado falarem que não iam mais poder mais vir", disse Julvan. 

AÉCIO

Durante o discurso de Anastasia, ecoaram gritos da plateia de apoio e também contra o senador Aécio Neves (PSDB), que é réu no Supremo Tribunal Federal e não vem participando dos eventos de campanha tucanos.

Anastasia e também o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), pré-candidato à Presidência, têm buscado se descolar da imagem de Aécio quando questionados sobre o assunto. Segundo eles, cabe a Aécio decidir se será candidato à reeleição neste ano.

"O candidato ao governo de Minas não é o Aécio, sou eu. Eu que estarei nos debates. A campanha é de minha responsabilidade", disse Anastasia, imitando a resposta de Alckmin no dia anterior, de que o candidato ao Planalto era ele e não Aécio. 

Em sua fala, Mares Guia louvou Tancredo Neves e arrancou aplausos ao criticar o neto, Aécio. "Pelo menos ele teve a graça de não ter que presenciar a dor suprema do seu ilustre herdeiro político entrar em decadência e arruinar uma reputação como um impostor que traiu Minas Gerais."

Mares Guia, porém, também teve que responder a respeito do irmão, Walfrido dos Mares Guia, que foi acusado pelo mensalão tucano, mas teve a punibilidade extinta pela prescrição ao completar 70 anos. Quando Wafrido era vice em Minas, no governo de Eduardo Azeredo (PSDB), preso por corrupção, Mares Guia ocupou a secretaria de educação. 

O pré-candidato da Rede, que tem trajetória na área da educação, afirmou que "os problemas e as virtudes de Walfrido pertencem a ele".

PROPOSTAS

Segundo os pré-candidatos, vai levar tempo para colocar o estado nos trilhos. Em geral, as propostas defenderam corte de gastos, de cargos e de secretarias, além de participação da iniciativa privada e fim de privilégios aos governantes e membros do Judiciário.

"Vamos radicalizar no corte de gastos e evitar o desperdício de dinheiro público", disse Rodrigo Pacheco (DEM), que era advogado até ser eleito deputado federal em 2014. Ele afirmou ser preciso diminuir a burocracia para atrair empresas para Minas. 

Definindo-se como um outsider com experiência política, já que foi empresário, mas ocupou cargos de secretário e de prefeito de BH, Lacerda afirmou: "Precisamos desmontar o estado ineficiente, pesado e caro que se criou com a União". 

"Chega de estado gigante que quer controlar todas as decisões e fica controlando verba que quer enviar aos municípios", disse Romeu Zema (Novo). Para o empresário do ramo de eletrodomésticos e combustíveis que tenta seu primeiro cargo público, a crise foi provocada pela incompetência da classe política. 

Professora de economia da UFMG aposentada, Dirlene Marques (PSOL) também concorrerá pela primeira vez. Ela defendeu a participação das mulheres e dos movimentos de esquerda no governo. 

Os pré-candidatos tiveram cinco minutos cada para considerações iniciais. Depois cada um respondeu a três perguntas em três minutos cada, que foram sorteadas e tinham temas variados —reciclagem, saneamento, moradia, impostos, educação e transporte, por exemplo. Ao final, mais cinco minutos a cada um para considerações finais.

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