Justiça prorroga prisão de grupo suspeito de hackear autoridades

Quatro pessoas foram presas temporariamente na última terça (23), durante a Operação Spoofing

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Brasília

O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, prorrogou as prisões temporárias dos quatro suspeitos de invadir as contas do Telegram do ministro da Justiça, Sergio Moro, do procurador da República Deltan Dallagnol e de várias autoridades.

Conforme decisão desta sexta-feira (26), vão continuar detidos por mais cinco dias, contados a partir deste domingo (28), Walter Delgatti Neto, Gustavo Henrique Elias Santos e a mulher dele, Suelen Priscila de Oliveira, além de Danilo Cristiano Marques.

O magistrado acolheu pedido da Polícia Federal para manter as prisões.

Os quatro suspeitos foram presos temporariamente na última terça (23), durante a Operação Spoofing. A medida foi decretada por cinco dias, prorrogáveis por mais cinco. O prazo venceria neste sábado (27). 

Delgatti admitiu em depoimento à PF ter sido o mentor e autor dos ataques às contas das autoridades e de procuradores da República, inclusive o coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol.

Ele afirmou ter repassado o conteúdo de conversas no Telegram, sem receber pagamentos, ao site The Intercept Brasil, que em 9 de junho começou a publicar os vazamentos.

O juiz responsável pelo caso afirmou na decisão que diligências em andamento poderiam ser afetadas se os envolvidos fossem soltos.

Segundo Oliveira, sem a manutenção da prisão, os investigados poderiam "agir e combinar e praticar condutas, isoladamente e em conjunto, visando apagar provas em outros endereços, mudar senhas de contas virtuais, fazer contatos com outras pessoas eventualmente envolvidas, retirar valores de contas desconhecidas ou de algum modo prejudicar o inquérito policial".

O magistrado justificou que a PF está na iminência de acessar o conteúdos dos telefones de Santos e Suelen, quando poderá obter as senhas de carteiras de bitcoin (investimentos em criptomoedas) mantidas pelos dois.

Os investigadores suspeitam que esses ativos tenham sido obtidos a partir de práticas ilícitas.
Em liberdade, sustentou Oliveira, o casal poderá “movimentar as contas, de forma a eliminar provas de eventual produto do crime, obstruindo a investigação criminal”.

O juiz também determinou o bloqueio de “ativos financeiros em valor ou em carteiras de criptomoedas” eventualmente mantidos pelos quatro suspeitos, além do envio de informações relativas à compra e à venda desses recursos.

Para o juiz, há "elementos indiciários firmes" que mostram a participação de Delgatti como líder e dos demais como partícipes do esquema de interceptações ilegais.

Segundo as manifestações da PF e do Ministério Público Federal, o celular de outro investigado, Danilo Marques, ainda precisa ser desbloqueado e periciado, possibilitando "a obtenção de novos elementos de prova" que podem afastar a versão de que ele não tenha participado ativamente da ação criminosa.

Em depoimento, Marques declarou ter emprestado o nome para que Delgatti alugasse um imóvel em Ribeirão Preto, no qual estava registrada a conexão IP usada por ele para invadir o celular de Moro.

O suspeito afirmou que Delgatti nunca comentou ter a “habilidade” de conseguir códigos de acesso às contas de Telegram de terceiros.

Marques disse também que fez operações de câmbio para Delgatti, que usava sua conta bancária.

O juiz marcou para a próxima terça (30), às 10h, uma audiência de custódia com os investigados. Nessa ocasião, deve decidir sobre a necessidade ou não de mantê-los presos por mais tempo.
A defesa de Santos e Suelen informou que vai pedir a revogação das prisões de ambos. A Folha não localizou os advogados de Marques e Delgatti. 

ENTENDA A OPERAÇÃO

Qual o resultado da operação da PF? Nesta terça (23), quatro pessoas foram presas sob suspeita de hackear telefones de autoridades, incluindo Moro e Deltan. Foram cumpridas 11 ordens judiciais, das quais 7 de busca e apreensão e 4 de prisão temporária nas cidades de São Paulo, Araraquara (SP) e Ribeirão Preto (SP). Os quatro presos foram transferidos para Brasília, onde prestariam depoimento à PF

As prisões têm relação com as mensagens trocadas entre Moro e procuradores da Lava Jato divulgadas desde junho pelo site The Intercept Brasil? Walter Delgatti Neto, um dos suspeitos presos na operação de terça, afirmou em depoimento que encaminhou as mensagens que obteve ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site, de forma anônima, voluntária e sem cobrança financeira. Não há até agora indício de que tenha havido pagamento pelo material divulgado, segundo investigadores.

Como a investigação começou? O inquérito em curso foi aberto em Brasília para apurar, inicialmente, o ataque a aparelhos de Moro, do juiz federal Abel Gomes, relator da Lava Jato no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), do juiz federal no Rio Flávio Lucas e dos delegados da PF em São Paulo Rafael Fernandes e Flávio Reis. Segundo investigadores, a apuração mostrou que o celular de Deltan também foi alvo do grupo.

Quando Moro foi hackeado? Segundo o ministro afirmou ao Senado, em 4 de junho, por volta das 18h, seu próprio número lhe telefonou três vezes. Segundo a Polícia Federal, os invasores não roubaram dados do aparelho. De acordo com o Intercept, não há ligação entre as mensagens e o ataque, visto que o pacote de conversas já estava com o site quando ocorreu a invasão

O conteúdo das mensagens será destruído, como chegou a afirmar Moro? Para especialistas ouvidos pela Folha, uma decisão nesse sentido cabe apenas ao juiz responsável pelo caso. O professor de direito processual penal da PUC-SP Cláudio Langroiva diz que o magistrado pode optar por manter todo esse material intacto e sob sigilo até que o processo tenha uma decisão final. Esses materiais, por exemplo, podem ser úteis tanto à acusação quanto à defesa ao longo de uma eventual ação penal. Outra possibilidade é o Ministério Público pedir o descarte de parte dessas provas antes da sentença, desde que ela já tenha sido periciada e que uma parcela de informações básicas continue armazenada.

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