Sem Haddad, PT escolhe entre Padilha e Tatto para disputar Prefeitura de SP

Partido teme ficar fora do segundo turno; escolha será feita neste sábado (16)

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São Paulo

A semana começou com sete nomes na disputa pela vaga de candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, em escolha que deveria ter sido feita em março, não fosse a pandemia. O adiamento deu tempo para reviravoltas que terminaram em uma disputa acirrada a ser decidida neste sábado (16) entre Jilmar Tatto e Alexandre Padilha.

A votação secreta e online será feita entre 615 membros de diretórios regionais de São Paulo. Nesta sexta-feira (15), às 18h, uma reunião virtual com os pré-candidatos e líderes petistas abriu o processo.

O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha e o ex-secretário de Transportes Jilmar Tatto - Reinaldo Canato e Diego Padgurschi/Folhapress

Não é o cenário dos sonhos para petistas, que já admitem ficar fora do segundo turno na cidade e terão que disputar votos na esquerda com o provável candidato do PSOL, Guilherme Boulos. Para se fortalecer, o PT quer a ex-prefeita Marta Suplicy (Solidariedade) como vice.

O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) era o favorito no partido e tinha mais chances eleitorais. “Todo mundo gostaria que Haddad fosse candidato”, resumiu o ex-presidente Lula (PT) em fevereiro.

A recusa de Haddad, apesar da intensa pressão, levou a uma disputa com sete nomes e que deixa o partido em pior situação —dependente de Lula como cabo eleitoral e do desgastes bolsonarista e tucano.

Líder maior do PT, o ex-presidente não fez acenos a nenhum dos lados. Sua preocupação é que o partido saia da votação rachado. Líderes petistas também temem que o vencedor não tenha apoio interno, devido ao formato restrito da votação, amplamente contestado.

Entre os sete nomes, Tatto foi considerado favorito porque seus apoiadores são maioria nos órgãos petistas da cidade. Ele não se opôs à votação somente entre dirigentes, enquanto seus adversários defendiam prévias online com todos os filiados —formato em que Tatto também largaria com vantagem, mas que daria espaço a surpresas.

Durante a semana, porém, seu favoritismo foi posto em dúvida quando o deputado federal Paulo Teixeira, o vereador Eduardo Suplicy e o urbanista Nabil Bonduki deixaram a corrida para apoiar Padilha.

O deputado federal Carlos Zarattini também desistiu, mas não indicou seu apoio, o que beneficia Padilha na prática. A ativista do movimento negro Kika Silva foi a única a sair e apoiar Tatto.

Na segunda-feira (11), em debate virtual com os então concorrentes, ficou claro que o jogo se daria entre Tatto, ex-deputado federal e ex-secretário das gestões Haddad e Marta Suplicy, e Padilha, deputado federal, ex-ministro, também ex-secretário de Haddad.

Foram os dois que apresentaram falas fortes e um discurso de candidato. Sendo ambos da mesma corrente do PT, a majoritária Construindo um Novo Brasil, não houve diferença significativa: defenderam a democracia, pediram a saída do presidente Jair Bolsonaro, trataram do coronavírus como tema central e prometeram implementar a renda básica na cidade.

A divergência entre os pré-candidatos girou em torno do formato da votação. Nas prévias presenciais, canceladas pelo coronavírus, cerca de 180 mil filiados poderiam participar –mas apenas cerca de 20 mil deveriam votar de fato.

A direção nacional do PT, porém, avaliou que não havia possibilidade técnica para prévias online com todos os filiados, principalmente porque os cadastros de filiados estão desatualizados. E definiu que apenas o diretório municipal de São Paulo, com 46 pessoas, votaria.

A medida beneficiou Tatto, que controla a máquina do partido na cidade. Ele e Kika argumentavam que as prévias online excluiriam os filiados mais pobres, sem acesso à internet ou computador.

O impasse foi tamanho, inclusive com recursos à cúpula do PT e cartas de repúdio, além do posicionamento de José Dirceu e José Genoino contra o colegiado restrito, que a escolha marcada para 30 de abril foi novamente adiada.

Lula foi chamado a arbitrar. Em reunião com os sete pré-candidatos, chegou-se a um acordo para que a votação incluísse os membros dos diretórios regionais, o que amplia o colégio para 615 pessoas.

Ainda assim, nesse ambiente controlado, Tatto teria maioria certa. Os demais pré-candidatos aceitaram o acordo, mas seguiram manifestando preferência por prévias amplas em debates –foram 14 debates presenciais antes da pandemia e mais dois virtuais.

Na quinta (14), Zarattini se retirou da disputa por não concordar com a votação limitada. Um dia antes, Suplicy, Bonduki e Teixeira haviam desistido para apoiar Padilha.

Boa parte dos petistas passou a não arriscar dizer quem levará a candidatura nesse novo cenário. A onda pró-Padilha foi impulsionada pela conjuntura do coronavírus, em que ter um médico ex-ministro da Saúde como candidato seria benéfico.

Apoiadores de Tatto afirmam, contudo, que ele mantém maioria e que os demais se juntaram ao perceber que não haveria segundo turno e que sairiam diminuídos. Tatto é aliado do presidente do PT estadual, Luiz Marinho, e da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.

“Foi um processo rico, em que a militância realmente se envolveu. Quem ganhar sai muito legitimado, porque quem escolheu esses 615 dirigentes foram os filiados”, afirma Tatto.

“O processo teve como ponto alto os debates com milhares de pessoas pela periferia. O ponto baixo foi a tentativa da maioria da direção municipal em restringir a decisão a apenas 46 dirigentes como também impedir uma prévia digital para os 180 mil filiados”, diz Padilha.

Padilha e Tatto dizem não haver desunião e prometem apoiar o colega se perderem.

Na reunião desta sexta, que abriu o processo de escolha, Haddad admitiu que “às vezes sai uma faísca aqui e ali”, mas pregou unidade e se colocou à disposição para a campanha do vencedor.

“Temos que sair muito unidos da disputa de amanhã. São duas pessoas com qualificação técnica e política e compromisso de alma com a periferia de São Paulo”, afirmou. Também enumerou o legado petista na cidade, como Céus e corredores de ônibus.

“Estamos em toda condição de ir para o segundo turno, se a gente unir a periferia e lembrar as pessoas dos governos que mudaram São Paulo para melhor”, disse Haddad, afirmando que o partido saiu de um “vale de lágrimas em 2016” para o segundo turno em 2018.

Depois de dois adiamentos da escolha interna, o PT está atrasado em relação a outros candidatos que já preparam plano de governo, chapa de vereadores, adotam discurso eleitoral e buscam se tornar mais conhecidos do público.

No campo da esquerda, PSB e PDT se uniram com Márcio França (PSB) e o PC do B lançará Orlando Silva. Nos campos de centro e direita, Bruno Covas (PSDB) tenta a reeleição e há também Andrea Matarazzo (PSD), Filipe Sabará (Novo), Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val (Patriota).

Ainda há incerteza em relação a José Luiz Datena (MDB), que negocia a vaga de vice na chapa tucana, e a Marta, que pode ser candidata a prefeita ou a vice. O PSOL tampouco escolheu seu candidato entre Guilherme Boulos, Samia Bomfim e Carlos Giannazi.

Bolsonaro até agora não tem um nome que o represente em São Paulo. Seu partido, a Aliança pelo Brasil, não se viabilizou para este pleito. O limite legal para candidaturas é 15 de agosto.

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