Depoimento: Inusitada, cobertura da campanha em Jaboticabal repercutiu na cidade

Cidade do interior de SP teve cobertura completa da Folha nas eleições deste ano

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Jaboticabal (SP)

A primeira impressão ao conversar com alguns dos líderes políticos de Jaboticabal foi a de que eles desconfiavam da presença da Folha nas eleições deste ano na cidade a 342 km de São Paulo.

Por qual motivo Jaboticabal? O que a cidade tem de diferente? A Folha aqui? Essas foram algumas das indagações que recebi ao me apresentar a eles e explicar como seria a cobertura do jornal na cidade.

As dúvidas não vieram de nenhum dos candidatos, mas de pessoas ligadas às campanhas.

Jaboticabal foi escolhida pelo jornal por apresentar características importantes para uma cobertura jornalística, como ser um microcosmo da política nacional, ter pesos econômico e educacional e ter uma campanha eleitoral sem horário eleitoral na TV, por exemplo.

imagem de drone mostra praça com igreja ao lado
Praça da Fonte no centro de Jaboticabal, cidade do interior de São Paulo que teve cobertura integral da Folha nas eleições - Eduardo Anizelli/Folhapress

A proposta dessa cobertura, pensada ainda no início do ano, seria a de aferir o impacto de reportagens da Folha em um município sem uma forte presença da imprensa profissional, como acontece nos grandes centros, como São Paulo e Rio.

Outros municípios paulistas foram especulados, mas nenhum deles reunia as condições apresentadas por Jaboticabal, inclusive para os deslocamentos até a cidade, já que fico baseado em Ribeirão Preto, a principal cidade da região.

Foi uma cobertura inusitada? Sim, mas acertada, com repercussão crescente nas ruas, nas redes sociais e no horário eleitoral no rádio a cada reportagem publicada.

Havia a previsão de uma campanha acirrada com as opções colocadas na mesa para a escolha dos eleitores, devido ao racha na base do governo em duas candidaturas —Professor João (DEM) e Vitorio de Simoni (MDB)—, um ex-prefeito na disputa —Baccarin (PT)—, um candidato que pela terceira vez tentava ser prefeito —P​rofessor Emerson (Patriota)— e um integrante da família Bolsonaro (Marcos Bolsonaro, PSL).

imagens de cinco homens, todos olhando para a câmera
Os candidatos à Prefeitura de Jaboticabal Professor João (DEM), Baccarin (PT), Vitorio de Simoni (MDB), Professor Emerson (Patriota) e Marcos Bolsonaro (PSL) - Eduardo Anizelli/Folhapress e Facebook Vitorio de Simoni

Ainda antes da publicação da primeira reportagem (e foram mais de duas dezenas a partir da segunda quinzena de setembro), questões variadas começaram a surgir.

A primeira foi: “Posso ler o texto antes de você publicar?” Não, não pode. A segunda considero emblemática: “Qual o custo [financeiro] que vamos ter com a reportagem?” Nenhum, estamos falando de jornalismo.

Após as primeiras entrevistas, a desconfiança inicial foi trocada por questionamentos variados conforme as reportagens iam sendo publicadas.

O jornal realizou sabatinas com os cinco candidatos à prefeitura, e de uma das campanhas ouviu o comentário de que não gostariam de participar de um eventual debate. “Para a gente, quanto menos aparecer, melhor.”

Em outra ocasião, essa mesma campanha quis responder indagações do jornal por escrito. O detalhe da história foi que, ao entregar as respostas, quis que este jornalista rubricasse as páginas e assinasse em duas vias o recebimento. Sugeri que o político fizesse o envio por email, o que ocorreu.

O questionamento mais presente, mas que não sobreviveu às duas primeiras semanas de cobertura, foi o de que eu, o jornal, ou ambos, estávamos em Jaboticabal a serviço de fulano, beltrano ou sicrano.


À medida em que essas perguntas diminuíam, aumentava a repercussão com as reportagens publicadas sobre a cidade. Em um jornal local, questões feitas pela Folha nas sabatinas foram alvo de seis citações, em um artigo e em entrevistas com os candidatos.

Em páginas em redes sociais, a presença de links para reportagens da Folha foi rotina na eleição, principalmente as que trataram da falta de água na cidade e de transporte coletivo, de um caso que foi parar na polícia, da tática do candidato Bolsonaro de repetir fórmula eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, da epidemia de falsas pesquisas eleitorais na cidade e da volta do ônibus, e de graça, nos dias que antecederam a eleição.

Já na reta final da campanha, ao serem questionadas sobre o horário da votação dos candidatos neste domingo, integrantes de duas campanhas disseram que os políticos iriam em tal horário, mas poderiam mudar se houvesse algum conflito com a agenda do jornal.

De maneira geral, as campanhas disseram que a cobertura fez com que os candidatos se esforçassem em apresentar mais conteúdo aos eleitores e serem mais rigorosos.

A avaliação final, claro, sempre deve ser feita pelo leitor. O que espero é que a cobertura tenha contribuído com os eleitores na decisão do voto.

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