Retorno dos ônibus, e de graça, acirra véspera de eleição em Jaboticabal

Oposição se revolta e diz que medida é eleitoreira; candidato governista nega ser favorecido

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Ônibus da Prefeitura de Jaboticabal volta a circular, gratuitamente,  três dias antes da eleição

Ônibus da Prefeitura de Jaboticabal volta a circular, gratuitamente, três dias antes da eleição Eduardo Anizelli/Folhapress

Jaboticabal (SP)

O anúncio do retorno às ruas dos ônibus do transporte coletivo a quatro dias das eleições deste domingo (15), e de graça, gerou revolta de candidatos à Prefeitura de Jaboticabal, que veem na medida uma forma de auxiliar um concorrente apoiado pelo atual governo.

Cidade que estava sem transporte devido ao rompimento do contrato da prefeitura com a então permissionária desde antes da pandemia, Jaboticabal enfrentou problemas para retomar o serviço viu os pontos de ônibus serem transformados em abrigos para descanso e proteção do sol, especialmente na região central.

Esse, porém, é apenas um dos pontos polêmicos que marcaram a atual disputa eleitoral, que tem como candidatos à prefeitura Baccarin (PT), Marcos Bolsonaro (PSL), Professor Emerson (Patriota), Professor João (DEM) e Vitorio de Simoni (MDB).

Jaboticabal (a 342 km de São Paulo) teve na eleição deste ano cobertura integral da Folha, por apresentar fatores como uma campanha parelha —marcada pela base governista rachada em duas candidaturas (João e Vitorio), um ex-prefeito na disputa (Baccarin), um candidato que pela terceira vez tenta ser prefeito (Emerson) e um integrante da família Bolsonaro (Marcos)— e pela importância econômica e educacional da cidade.

A Folha fez sabatinas com os cinco e mostrou problemas como a falta de dinheiro na campanha do primo distante do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a superficialidade de temas tratados em programas de governo, a proliferação de falsas pesquisas eleitorais na cidade e a enxurrada de representações que chegaram à Promotoria com relatos de infrações eleitorais.

Na quarta-feira (11) à noite, o prefeito José Carlos Hori (Cidadania) anunciou a retomada do serviço de ônibus em caráter experimental, com quatro ônibus. Ele não disse a duração da fase.

“Achei isso de um caráter desrespeitoso [...] Às vésperas da eleição você coloca o transporte, tendo dois candidatos na base governamental, independentemente de um ter ou não o apoio [do prefeito], porque no final das contas todo mundo sabia quem era quem”, disse Emerson.

Ele se refere a João e Vitorio, respectivamente ex-secretário da Saúde e atual vice-prefeito de Jaboticabal. João recebeu apoio de Hori.

Baccarin qualificou a medida de “eleitoreira”. “Voltar a três dias da eleição, em caráter experimental? Deveria ter voltado antes. Primeiro dia foi hoje [quinta], mas meia boca, com quatro ônibus. O custo disso vai ficar para a próxima administração”, disse.

João negou ser beneficiado pela medida, disse que o retorno do transporte vai beneficiar a população e agradeceu o apoio recebido do prefeito e da primeira-dama, Adriana Hori, em sua campanha.

“Era para ter voltado no ano passado, mas houve problemas como a pandemia que atrasaram isso”, disse.

Já Vitorio passou a campanha descolando sua candidatura do governo Hori e tem dito que seu eventual governo não será de continuísmo.

Hori disse em vídeo postado em uma rede social que “graças a Deus, depois de dois anos, luta e dificuldades com a licitação, depois pandemia, que tirou a gente de circulação, com muita dificuldade, agora o tarifa zero chega”.

“Esperamos a sua opinião, a sua sugestão nesse momento, mas é uma grande conquista. Tarifa zero para a população de Jaboticabal, 15ª cidade do Brasil que consegue essa implantação”, disse.

imagens de cinco homens, todos olhando para a câmera
Os candidatos à Prefeitura de Jaboticabal Professor João (DEM), Baccarin (PT), Vitorio de Simoni (MDB), Professor Emerson (Patriota) e Marcos Bolsonaro (PSL) - Eduardo Anizelli/Folhapress e Facebook Vitorio de Simoni

O prefeito realizava lives diárias desde o início da pandemia para informar a população sobre o cenário da Covid-19 na cidade, mas também comentava temas como falta d'água e o próprio transporte coletivo, até ser impedido pela Justiça, que vetou o uso para assuntos que não fosse o novo coronavírus. Hori, no entanto, deixou de realizá-las após o último dia 3.

“Outrossim, no caso em tela, o agente público faz uso indevido da liberalidade concedida com a finalidade de desequilibrar o jogo das forças no processo eleitoral. É mister a busca pelo princípio da igualdade", diz trecho da decisão do juiz eleitoral Carlos Eduardo Montes Netto, que acolheu manifestação do Ministério Público.

Desde então, apenas postou boletins da Covid-19 e usou o espaço para divulgar agenda positiva, como a iluminação natalina na cidade e a reforma do Cine Teatro Municipal, além da retomada do transporte.

A idade dos ônibus também gerou críticas da ONG Amajab, que chamou os veículos de velhos.

Antes do início oficial da campanha eleitoral, Hori disse à Folha que tinha criado o projeto de tarifa zero e que previa a implantação no início do ano, mas a pandemia atrapalhou. A previsão, então, era que até o final de setembro o sistema estivesse em operação, mas entraves na licitação, como recurso de empresa, atrasaram a implantação.

A campanha eleitoral deste ano em Jaboticabal tem sido marcada na reta final pelo incentivo dos candidatos à presença dos eleitores nas urnas neste domingo e pela extensa jornada de atividades em busca de votos.

A Folha acompanhou todos os candidatos durante a última semana, em caminhadas em bairros, visitas a estabelecimentos comerciais e indústrias, ações em estúdios usados para lives e num encontro em uma comunidade evangélica que reuniu os cinco candidatos no mesmo local.

Coordenações estimam que o total de votos nos cinco candidatos à prefeitura some cerca de 30 mil, para um colégio eleitoral de 55 mil eleitores.

Se isso se confirmar, com aproximadamente 10 mil votos o próximo prefeito estaria definido, avaliam. Em 2016, também com cinco concorrentes, Hori venceu com 12.923 dos 35.067 votos.

Com isso, os candidatos marcaram até 15 compromissos por dia nas duas últimas semanas, muitas vezes começando ainda antes das 6h e terminando após à 0h.

“Têm sido dias muito corridos, com muitos compromissos, mas como deve ser”, afirmou Vitorio, que relatou ter perdido três quilos durante a campanha eleitoral. Esse foi o peso médio que todos os candidatos à prefeitura afirmaram ter perdido desde setembro.

A disputa à Câmara tem gerado campanhas na cidade, como a proposta pela Amajab de trocar todos os atuais 13 vereadores, para oxigenar o Legislativo, e a do movimento suprapartidário Mulher Elege Mulher, que prega a ampliação do total de mulheres na Câmara. Hoje há apenas uma vereadora.

Conhecida como Athenas Paulista, mas também já chamada de Cidade das Rosas e de Cidade da Música, Jaboticabal tem cobertura completa da Folha durante as eleições municipais deste ano.

Uma campanha parelha, problemas estruturais e a atuação restrita da imprensa profissional são alguns dos ingredientes que tornam interessante a cobertura jornalística nessa cidade de 77 mil habitantes.

Jaboticabal, ao contrário do que já ocorre em outras localidades menores, não tem uma TV (comunitária ou educativa) para a transmissão do horário eleitoral gratuito, o que faz com que a campanha seja diferente das disputas dos grandes centros.

Os candidatos, e a própria dinâmica local, são acompanhados diariamente pelo jornal, assim como ocorre nas eleições em grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro.

Além dos ingredientes políticos colocados na disputa deste ano, Jaboticabal foi escolhida pela Folha por ser uma cidade com forte peso educacional, com quatro universidades ou centros universitários, e também se destacar economicamente na agricultura e nas indústrias de alimentação e cerâmica.

Jaboticabal brasileira

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