Mesmo com apuração zerada, 'eleito' comemora, e adversários reconhecem derrota em Jaboticabal

Emerson Camargo (Patriota), 41, celebra a vitória em sua terceira tentativa de chegar ao cargo

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Jaboticabal (SP) e São Paulo

A apuração oficial do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ainda não aponta nenhum voto apurado em Jaboticabal (a 342 km de São Paulo), mas candidatos já reconhecem a derrota, e o futuro prefeito, Emerson Camargo (Patriota), 41, já celebra a vitória em sua terceira tentativa de chegar ao cargo.

Isso acontece graças às apurações paralelas feitas por emissoras de rádio da cidade e também pelas campanhas eleitorais.

No comitê do prefeito eleito, uma equipe se debruçou a partir do fechamento das urnas para contabilizar os votos em cada seção eleitoral a partir dos boletins de urna, que mostram todos os candidatos a prefeito e vereador votados nela.

Por essa contagem, já foram apuradas 93% das urnas e não há chance de Emerson não ser o próximo prefeito.

O candidato Professor João (DEM) reconheceu a derrota na eleição deste domingo (15), parabenizou Emerson pela vitória e disse que o seu papel agora será de fiscalizar a aplicação das mais de 50 páginas do programa de governo do candidato eleito.

Baccarin (PT) foi outro a reconhecer a derrota. Disse que trabalhou para ter mais que os 10% de votos válidos que deve ter ao final da apuração e que será oposição ao eleito na cidade.

A apuração paralela mostra Emerson com 13.164 votos, seguido por Vitorio de Simoni (MDB), com 7.623, João (5.674), Baccarin (3.249) e Marcos Bolsonaro (PSL), com 1.232.

Após duas tentativas sem sucesso de chegar à prefeitura, Emerson foi eleito neste domingo depois de ter sido o principal alvo dos adversários durante a campanha deste ano. Jaboticabal teve cobertura integral da Folha na eleição 2020.

Em segundo lugar na eleição ficou o atual vice-prefeito, Vitorio de Simoni, 46, seguido pelo ex-secretário da Saúde Professor João, 56, o ex-prefeito Baccarin, 63, e Bolsonaro, 58.

“É um misto de sentimentos, porque foi uma caminhada longa, que começou lá em 2004 quando eu sai candidato a vereador a primeira vez, não tive sucesso. Sempre batendo em propostas, nunca em promessas”, disse Emerson à Folha.

Eleito vereador em 2008, Emerson tentou pela primeira vez ser prefeito na eleição seguinte, quando obteve 18,7% dos votos e ficou na terceira posição.

Com a vitória agora, o candidato, que é professor, superou a derrota por 276 votos de diferença para o atual prefeito, José Carlos Hori (Cidadania), em 2016, quando alcançou 36,07% dos votos válidos.

Em suas caminhadas e visitas de campanha, ele dizia aos eleitores que não queria que o cenário da última eleição se repetisse. Chegou a ouvir de um eleitor na última quarta-feira (11) que ele não venceu em 2016 porque não se dedicou mais à campanha.

Ele refutou o argumento e disse que tinha trabalhado demais, e que venceria neste ano. Nas duas últimas semanas, teve em média 15 compromissos diários de campanha, como conversas com operários em fábricas e visitas em bairros, além de lives diárias feitas numa produtora.

Durante a celebração da vitória em seu comitê, ele disse que era preciso atender as necessidades mais básicas da população de Jaboticabal a partir de janeiro, e que o governo terá de criar mecanismos para combater os efeitos da pandemia do novo coronavírus na saúde e na economia.

Enquanto candidatos a vereador, cabos eleitorais e membros da campanha comemoravam a vitória a partir dos resultados extraoficiais divulgados, com interdição da rua em frente ao comitê eleitoral, Emerson evitava a euforia e passou a maior parte do tempo dentro do imóvel utilizado como QG da campanha.

Mas depois celebrou com champanhe e discursou as cerca de 150 pessoas que ali estavam.

O novo vice-prefeito a partir de 2021, Nelsinho Gimenez (Patriota), 40, deve ocupar um cargo no secretariado de Emerson, que disse querer economizar recursos com cargos comissionados.

A perspectiva, segundo o vice, é que ocupe a Secretaria da Agricultura ou da Indústria e Comércio, embora tenha ligação também com o esporte, pois é presidente do Jaboticabal Atlético, time que tenta voltar a disputar competições oficiais da FPF (Federação Paulista de Futebol).

Quatro dos cinco candidatos votaram logo na manhã deste domingo. O primeiro foi Baccarin, que votou às 10h na escola Joaquim Batista, seguido por Marcos Bolsonaro e Professor João.

Depois, foi a vez de Emerson votar, na escola Walter Barioni, no final da manhã. No início da tarde, Vitorio votou na escola Coronel Vaz.

A maioria dos candidatos passou o dia em casa, à espera da apuração.

O resultado das urnas destoou, pela primeira vez, da votação paralela feita num bar de Jaboticabal. O comerciante Rubens Toledo Junior coloca uma urna no estabelecimento para que os frequentadores do bar escolham seu candidato já há cinco eleições.

Os resultados —os vencedores, não os percentuais— sempre bateram com os oficiais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Neste domingo, porém, duas coisas chamaram a atenção de Rubinho, como é conhecido: o alto número de votos em branco e Vitorio aparecer em primeiro lugar —nas urnas, ele foi o segundo colocado.

Com 227 votos, Vitorio obteve 30,4%, seguido por Emerson (28,2%), João (13,2%), Bolsonaro (8%) e Baccarin (4,4%). Outros 15,8% colocaram a “cédula” em branco na urna.

“É uma brincadeira que fazemos, e ver tanta gente votando em branco numa brincadeira foi algo diferente. Preocupa esse total”, disse.

Em entrevista à Folha durante a apuração, o futuro prefeito disse que os votos em branco e as abstenções o preocuparam.

“A não participação dos eleitores, não só em Jaboticabal, mas no país todo, fragiliza o processo eleitoral”, disse.

Ele afirmou que deseja iniciar a transição de governo o mais rápido possível, para que sua equipe tome conhecimento da situação financeira e administrativa da prefeitura.

​Conhecida como Athenas Paulista, mas também já chamada de Cidade das Rosas e de Cidade da Música, Jaboticabal foi escolhida pela Folha por apresentar uma campanha que prometia ser parelha, pelo fato de a cidade não ter horário eleitoral gratuito na TV —o que a diferenciava das disputas nos grandes centros— e por ter uma atuação restrita da imprensa profissional.

Terceira maior cidade da região administrativa de Ribeirão Preto, Jaboticabal também teve ingredientes políticos que tornavam a cobertura interessante jornalisticamente: a base do governo rachada em duas candidaturas (João e Vitorio), um ex-prefeito na disputa (Baccarin), um candidato que pela terceira vez tentava ser prefeito (Emerson) e um integrante da família Bolsonaro (Marcos Bolsonaro).

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