Descrição de chapéu Eleições 2022 STF

Evangélicos se queixam de ministros a Bolsonaro e cobram vitrines em bases eleitorais

Presidente recebeu parlamentares ligados a igrejas neopentecostais, que têm dado amplo apoio ao governo

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Brasília

Em meio ao avanço do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o eleitorado evangélico, líderes da bancada religiosa levaram ao presidente Jair Bolsonaro queixas sobre ministros e cobraram maior atenção do Palácio do Planalto às bases eleitorais nos estados.

O grupo de evangélicos também avalia que Bolsonaro precisa definir logo o partido político pelo qual disputará o pleito presidencial no ano que vem, sob pena de prejudicar os projetos eleitorais de aliados.

Os recados foram dados em uma reunião de Bolsonaro com integrantes da Frente Parlamentar Evangélica no Palácio do Planalto, nesta terça-feira (18).

No encontro, segundo relatos, o presidente ouviu queixas de que o governo precisa estar mais próximo dos congressistas ligados às igrejas neopentecostais —segmento que deu amplo apoio à vitória eleitoral de Bolsonaro em 2018.

A principal reclamação foi que parlamentares têm tido dificuldades de encaminhar demandas junto a ministros. Eles afirmaram ainda que o governo precisa intensificar inaugurações de obras e projetos nos estados, eventos que congressistas aliados capitalizam politicamente.

A indefinição da sigla que abrigará Bolsonaro nas eleições também gera apreensão entre deputados e senadores evangélicos. Eles temem que uma decisão de última hora afete o planejamento da campanha e que haja desorganização na migração de aliados para a agremiação que venha a ser escolhida.

O presidente deixou o PSL em novembro de 2019 e prometeu lançar o Aliança pelo Brasil. No entanto, a estruturação do partido não decolou, e o mandatário avalia agora filiar-se a uma legenda já existente.

Segundo interlocutores, Bolsonaro ouviu as reclamações, reconheceu que é preciso um ajuste de rumos e prometeu atenção especial ao segmento.

Apesar das críticas, os parlamentares evangélicos na reunião reafirmaram o apoio ao presidente.

Na semana passada, o presidente já havia feito um aceno ao grupo ao realizar um café da manhã com dezenas de membros da bancada.

As demandas por um tratamento político preferencial ocorrem no mesmo momento em que o Datafolha aponta que Bolsonaro não conta mais com a hegemonia entre o eleitorado evangélico. Na mais recente pesquisa, ele aparece empatado com Lula na preferência desse público.

O levantamento mostrou que, no primeiro turno da eleição, 35% dos evangélicos votariam em Lula. Bolsonaro marcou 34%. Num eventual segundo turno entre os dois, cada um recebe 45% das intenções de voto, ainda de acordo com a pesquisa.

No resultado geral, Lula alcança 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro. Num eventual segundo turno, o petista vence por 55% a 32%.

O levantamento foi realizado com 2.071 pessoas, de forma presencial, em 146 municípios, nos dias 11 e 12 de maio. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Conselheiros de Bolsonaro sabem que Lula tem como uma de suas prioridades para o pleito de 2022 tentar reconstruir pontes com os movimentos neopentecostais, que prezam por uma agenda conservadora nos costumes e nos últimos anos se distanciaram do PT.

A avaliação é que o Planalto no momento não pode abrir brecha que permita a corrosão de apoio nesse segmento, mesmo que pequena.

Nesse sentido, líderes neopentecostais afirmam reservadamente que a escolha do novo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) será definidora na relação futura da bancada com o Palácio do Planalto.

Eles querem que Bolsonaro cumpra a promessa de indicar um “terrivelmente evangélico” para a corte quando ocorrer a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello, prevista para o início de julho.

O favorito na bolsa de apostas é o ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), André Mendonça, que é pastor licenciado da Igreja Presbiteriana Esperança.

O presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Humberto Martins, também está no páreo, mas enfrenta maior resistência entre os evangélicos —apesar de ser de uma denominação cristã, a Igreja Adventista do Sétimo Dia

A insatisfação da bancada no Congresso não está limitada à articulação política e eleitoral.

Na segunda-feira (17), o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, manteve uma reunião no Itamaraty com parlamentares evangélicos que pediram maior apoio do governo à Igreja Universal do Reino de Deus em Angola.

A instituição comandada pelo bispo Edir Macedo vive um racha no país africano, sendo que um grupo rebelado de pastores angolanos assumiu o controle de templos. A crise acentuou-se com a deportação de missionários brasileiros ligados à Universal nos últimos dias.

Os congressistas consideram que o governo foi tímido na defesa de uma das mais importantes denominações no país e cobraram mais empenho.

França afirmou aos parlamentares que Bolsonaro ligaria para o presidente de Angola, João Manuel Lourenço, para pedir que uma comitiva de parlamentares e líderes da igreja seja recebida no país.

À tarde, em evento no Palácio do Planalto para anunciar um pacote de benefícios para caminhoneiros, Bolsonaro fez um longo discurso com viés eleitoral. Sem citar Lula ou o PT, fez comparações entre sua gestão e as anteriores.

"Ministério do Transporte. Alguém se lembra dele? Pode ser que não se lembre dele, mas, com toda certeza, deve se lembrar a quem pertencia no passado, a que tipo de gente, que grupo mandava lá e de como essa gente se servia do pessoal que transitava por todo este Brasil", disse Bolsonaro.

O discurso também teve frases como "é uma história que não queremos mais para nós", "alguns querem o passado" e "como era ruim este país".

"Como eram feitos esses acordos no passado, meu Deus do céu? É na base da máfia, o que eu posso arrancar a mais do profissional. Não serviam ao caminhoneiro, ao usuário. Se serviam disso. Por isso a gana por indicação de cargos. Ainda existe? Existe, mas diminuiu e muito em relação ao que tínhamos no passado."

Bolsonaro retomou seu discurso de que a liberdade dos brasileiros está sob ameaça e, então, falou sobre o Brasil depois das eleições de 2022.

"Não é uma briga política para o ano que vem. Não temos um possível melhor candidato para o Brasil, que pode estar na cabeça de cada um de vocês. Temos a necessidade de ter alguém na Presidência em 2023 que possa atender aos anseios de liberdade de cada um de nós", disse Bolsonaro, antes de fazer menção ao que desta vez chamou de "outro lado".

No discurso desta terça-feira, Bolsonaro também enalteceu a postura do ministro da Defesa, general Braga Netto, que tem aparecido ao seu lado em passeios por Brasília e chegou a discursar para apoiadores do presidente, do alto de um trio elétrico, no último sábado (15).

"Quem podia imaginar que, um dia, perante um público de milhares de pessoas, um ministro da Defesa pudesse usar o microfone por alguns momentos. Ele é um ser humano igualzinho a cada um de nós. Tem uma responsabilidade enorme, um ministério que está presente nos quatro cantos do Brasil", disse Bolsonaro.

Na sequência, fez, mais uma vez, menção às Forças Armadas.

​"Em qualquer país do mundo, quem diz se aquele povo vai ter liberdade ou não é quem tem força. Ou não é? Jamais vou querer endeusá-lo, mas respeitá-lo acima de tudo. Até para a iniciativa de nos acompanhar para mostrar para o povo brasileiro que temos alguém que quer a liberdade, não o contrário", disse Bolsonaro.

Desta vez, o presidente optou por não usar a expressão "meu Exército", como de costume.

"As Forças Armadas não são minhas, são de cada um de nós. E [é] aquela última que pode dizer realmente para que caminho nós devemos seguir, obviamente se orientando na vontade popular do povo brasileiro."

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