Descrição de chapéu Eleições 2022

PSDB faz prévias entre Doria e Eduardo Leite com falhas no app e amplia horário de votação

Candidatos e presidente do partido minimizaram relatos de que a plataforma travou devido ao fluxo

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Brasília

A eleição das prévias presidenciais do PSDB entre os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) teve início na manhã deste domingo (21) com problemas no contestado aplicativo de votação devido ao fluxo grande de votantes ao mesmo tempo. O processo acabou suspenso e será retomado após ajustes no programa.

Inicialmente, a votação ocorreria das 7h às 15h, mas o horário foi ampliado até 18h com o objetivo de distribuir o fluxo, mas acabou interrompido. A ferramenta começou a travar em todo o país por volta das 8h30.

Eduardo Leite e Doria em evento nas prévias do PSDB, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

O uso do aplicativo foi definido pelo PSDB mesmo após as campanhas de Doria e Leite apontarem falhas e fragilidades. O partido apostou na correção desses problemas até a votação.

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, minimizou a questão. "Se o aplicativo está sendo demandado, é porque há envolvimento", disse. Ele afirmou ainda não descartar que o processo de votação acabe judicializado pelo perdedor, embora diga não esperar isso.

"Estamos tendo momentos de mais pico, o início da manhã foi mais tranquilo. Houve aumento bastante substancial nos últimos 50 minutos [por volta das 9h], mas já temos um fluxo razoável de votos. A equipe está buscando calibrar não só o fluxo, mas a segurança do sistema", afirmou.

Apoiadores de Doria relatam que tentam votar desde as 7h sem sucesso. O aplicativo demanda dupla autenticação para a votação, com foto para reconhecimento facial e verificação via SMS. A trava acontece no momento do reconhecimento facial.

A ferramenta foi desenvolvida pela Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs) e foi auditada pela empresa de segurança cibernética Kryptus, que acompanham a votação neste domingo.

Além disso, consultores do PSDB e de cada uma das três campanhas também estão reunidos monitorando os dados do aplicativo em tempo real.

O acompanhamento foi elaborado com a ideia de dar mais segurança ao processo, mas dirigentes do partido e membros da campanha reconhecem que a ferramenta não estava totalmente pronta e pode haver riscos.

Por causa das falhas, o governador do RS pediu uma reunião às 15h com a Executiva nacional do partido para discutir os erros identificados na biometria facial. No encontro, a ideia é avaliar o percentual de filiados que conseguiu votar e, eventualmente, prorrogar ainda mais a votação.

Em nota, Marco Vinholi, presidente estadual do PSDB-SP, e Fernando Alfredo, presidente municipal do PSDB-SP, disseram que, das 8h às 12h, o aplicativo apresentava instabilidade, "o que tem impossibilitado os filiados de votarem".

"Até o momento, 12h30, foram 4h30 praticamente sem o funcionamento do aplicativo. Somente em São Paulo são cerca de 26 mil (62% do total) credenciados que, neste momento, não conseguem acesso ao voto", indicou.

"O Diretório Estadual do PSDB de São Paulo já requereu providências e aguarda que o sistema de votação seja retomado o mais brevemente possível, evitando assim um prejuízo enorme para o filiado exercer o seu direito ao voto."

A votação pelo aplicativo é para filiados sem mandato e vereadores. A votação presencial, que ocorre em Brasília, termina às 15h e é voltada a prefeitos e vices, governadores e vices, deputados federais, senadores e ex-presidentes do PSDB.

A votação ocorre em clima de tensão, com ambas as campanhas traçando novas estratégias para ampliar a votação presencial e minimizar os problemas apresentados pelo aplicativo. A avaliação da campanha de Doria é de que a falha mancha as prévias do partido e comprova que o app não funciona.

Ao chegar ao evento de votação presencial na manhã deste domingo, Araújo afirmou ainda que o PSDB dá exemplo de democracia interna. Ressaltou também que o vencedor terá que apresentar capacidade de unir o partido e construir uma candidatura de centro.

Ao todo, 44,7 mil tucanos (cerca de 3% do 1,3 milhão de filiados) se inscreveram para a votação indireta, em que cada grupo representa 25%: filiados; prefeitos e vices; vereadores e deputados estaduais; deputados federais, senadores, governadores e vices, ex-presidentes do PSDB e o atual.

Leite afirmou, também na chegada ao evento, que os problemas vistos no aplicativo são "algo natural", mas que tudo está sendo acompanhado.

O governador do Rio Grande do Sul disse ter confiança na sua vitória e na união do partido. Ele votou na urna dedicada ao alto clero do PSDB.

"O momento da eleição divide, mas, passado o processo, tenho absoluta certeza de que o partido estará unido num único propósito, que é tirar o país dessa polarização que gera tantos prejuízos", afirmou, em referência às candidaturas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ex-presidente Lula (PT).

Doria votou na urna eletrônica assim que chegou ao evento, por volta das 10h30.

Ele também exaltou o processo de prévias. "Viva a democracia, viva o Brasil. O PSDB sairá mais unido e mais forte do que nunca. O PSDB está unido e continuará unido", disse. Mais tarde, negou que a disputa represente um racha no partido.

"Esse é o exercício mais democrático que pode haver. Um partido ouvindo seus filiados, ouvindo seus militantes, ouvindo seus dirigentes para extrair, pelo voto, aquele que será candidato do PSDB para a presidência da República", disse.

"Isso legitima e faz do PSDB de fato, a terceira via, evidentemente agregando com outros partidos, outros líderes, mas o PSDB sai fortalecido dessas prévias."

O governador de SP pediu aos filiados que não desistam de votar. "Enquanto você não votar, não desista", disse. "É importante, cada voto conta. O seu voto é o voto pelo Brasil."

O resultado da votação deve ser divulgado na noite deste domingo. A expectativa entre tucanos é de uma votação apertada —e há receio de que o aplicativo de votação, cujas vulnerabilidades já haviam sido apontadas pelas campanhas, seja uma brecha para judicialização do resultado.

No Centro de Convenções Ulysses Guimarães, na capital federal, políticos com mandato faziam fila para votar em seis urnas eletrônicas da Justiça Eleitoral —houve certa aglomeração, mas todos usavam máscara. O partido bancou passagens e hospedagens para que os prefeitos e vices votassem em Brasília.

O auditório, para quatro mil pessoas, não ficou lotado. De acordo com a assessoria do PSDB, eram esperados cerca de mil tucanos —a ideia foi manter o distanciamento social.

O som ambiente divulgava jingles de campanhas presidenciais do PSDB, de Fernando Henrique Cardoso (SP), de José Serra (SP), Geraldo Alckmin (SP) e Aécio Neves (MG) —os dois últimos desafetos de Doria na sigla e apoiadores de Leite. Já FHC e Serra declararam voto em Doria.

Por volta das 11h, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, abriu o evento no palco, embora a votação estivesse ocorrendo desde mais cedo.

Houve uma homenagem aos ex-prefeitos Bruno Covas, da capital paulista, morto em maio em decorrência de um câncer, e Firmino Filho, de Teresina, que morreu em abril.

O filho de Covas, Tomás Covas, 16, presente no evento, discursou em homenagem ao pai. O momento foi de emoção entre os tucanos no palco —Araújo e os três concorrentes.

Votação de prévias no PSDB entre João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio será feita por aplicativo - Divulgação PSDB

O resultado das prévias é visto por tucanos como uma decisão a respeito do futuro do partido e um primeiro passo na construção da candidatura da chamada terceira via.

Doria e Leite se comprometeram a permanecer no PSDB em caso de derrota e a buscarem a união do partido e o diálogo com mais siglas em caso de vitória. Para evitar a fragmentação do campo político, será preciso buscar alianças com Sergio Moro (Podemos), Rodrigo Pacheco (PSD) e outras legendas, como União Brasil (DEM e PSL) e MDB.

Se Doria vencer, consolida seu favoritismo e amplia seu domínio no PSDB, imprimindo seu estilo de marketing, eficiência e gestão –que também é lido como intransigência e atrai antipatia.

Já uma vitória de Leite, reconhecido pela capacidade de dialogar, representaria o resgate do PSDB histórico, mas profundamente contaminado pelo bolsonarismo. Arquiteto da campanha de Leite, Aécio atrai a bancada tucana para a barganha do governo federal.

São Paulo larga com 35% de peso nas prévias. Além do Rio Grande do Sul, Leite tem o apoio de estados chave no tucanato, como Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

Depois da pior derrota em eleições ao Planalto em 2018 com Alckmin (4,76%), as prévias foram a aposta do presidente do PSDB, Bruno Araújo, para reenergizar o partido. Ele minimiza as previsões de que a sigla sairá do pleito em pedaços –Doria tem a preferência dos militantes e Leite, dos parlamentares.

A campanha foi tensa, com brigas em torno do aplicativo e acusações da equipe de Leite a respeito de filiação extemporânea de prefeitos aliados a Doria e de pressões do governador paulista, por meio de demissões e verba de convênios, para angariar votos no estado.

As críticas vinham sendo ácidas em debates até que, na última semana, os candidatos resolveram baixar a temperatura. Num gesto de paz, Leite e Doria se reuniram em Porto Alegre e falaram em união.

Apesar das diferenças, Leite e Doria acumulam incômodos em comum. O primeiro é o apoio a Bolsonaro em 2018, que ambos consideram agora um erro. O gaúcho e o paulista também miraram no presidente e no PT durante as prévias.

O baixo patamar nas pesquisas de opinião (por volta de 5% no último Datafolha) também atinge aos dois. Leite ressalta ter menor rejeição, enquanto Doria espera que a população reconheça seu empenho pela vacina contra Covid.

À frente do estado mais importante para o PSDB, Doria despontou como presidenciável favorito desde o princípio. Mas sua rejeição entre eleitores e entre a classe política acabou alavancando Leite.

O gaúcho, no entanto, é considerado menos experiente e não tem a ampla vitrine de programas e investimentos do paulista, a começar pela viabilização da vacinação.

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