No último debate antes das prévias presidenciais do PSDB, marcadas para domingo (21), Arthur Virgílio (AM), João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) buscaram demonstrar convergências e atacaram o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
Depois de um debate tenso na última semana, com críticas e acusações diretas entre os postulantes, o encontro promovido pela CNN, nesta quarta-feira (17), foi morno. Seguiu-se o clima de pacificação iniciado no dia anterior, quando Leite recebeu Doria na sede do governo gaúcho e ambos falaram em união.
Em comum acordo, tucanos buscaram baixar a temperatura após uma escalada de tensão que deixou clara a divisão no partido.
Nos últimos dias, Leite acusou Doria de exercer pressão sobre prefeitos, inclusive usando a máquina do governo, e as campanhas se desentenderam a respeito do app de votação e do adiamento das prévias.
Revelada pela Folha, a principal polêmica do dia —o pedido feito pelo governo Bolsonaro e atendido por Leite para tentar convencer Doria a adiar o início da vacinação contra a Covid-19— não foi explorada no debate pelo governador paulista.
"Fizemos um debate altivo, com sentimento e propostas, sem ressentimentos e sem brigas", resumiu Doria.
"Saí de casa disposto a fazer desta a reunião de conciliação dos candidatos do PSDB", afirmou Virgílio, que critica a troca de farpas entre Leite e Doria.
"Numa prévia, se discorda, bicada de amor não dói. Temos tudo para fazer uma bela unidade e uma bela campanha, uma campanha fraterna", completou o ex-prefeito de Manaus.
O alvo comum do debate passou a ser Bolsonaro, embora Doria, especialmente, também tenha mirado no PT do ex-presidente Lula.
Doria defendeu uma relação respeitosa com o Legislativo e o Judiciário, "coisa que não acontece neste governo". O governador falou ainda de suas reformas da Previdência e administrativa. "O que nos permitiu ter recursos, ao contrário do governo federal que agora quer romper o teto de gastos na marra."
O governador paulista também pregou a defesa de "um jornalismo livre e soberano", o que, para ele, "não é o caso nem do PT e nem do governo Bolsonaro". Afirmou ainda que o PT apenas rebatizou os programas sociais do PSDB.
"Escolhemos o remédio errado para corrigirmos a corrupção do governo Lula. E agora temos a incompetência do governo Bolsonaro. Não podemos escolher o medicamento da corrupção de Lula para extrair Bolsonaro do governo", afirmou Doria.
Na mesma linha, Leite afirmou: "Vamos encontrar, no ano que vem, dois demagogos que são bons de bico, bons de palanque, que infelizmente mobilizam massas na direção errada".
Questionado sobre defender, assim como Bolsonaro, a privatização da Petrobras, Virgílio respondeu: "Eu não defendo a ideia do presidente, porque ele não tem ideia". Pautando o tema da Amazônia no debate, o ex-prefeito de Manaus também disse que "temos um governo que é a favor do desmatamento".
Leite alfinetou Doria em apenas duas ocasiões. Primeiro, ao salientar que o vale-gás, programa social do paulista, é provisório e não atende famílias do Bolsa Família. Doria defendeu seu programa como pioneiro e inovador.
Depois, Leite afirmou que Doria também deve os avanços na educação paulista a governos tucanos anteriores no estado, mencionando especificamente o ex-governador Geraldo Alckmin (de saída do PSDB), que é desafeto de Doria e apoia o gaúcho nas prévias.
Em suas considerações finais, Doria fez acenos a tucanos históricos, como Mário Covas e Franco Montoro, mas não mencionou Alckmin. Ele citou nominalmente também os caciques que o apoiam nas prévias: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os senadores Mara Gabrilli (SP) e José Serra (SP), que declarou seu apoio público nesta quarta.
Leite também se apresentou como um político "da boa política" e do "diálogo", inclusive com quem pensa diferente –algo que também pode ser lido como uma provocação a Doria, que tem fama de forçar suas vontades. O gaúcho destacou ainda ser diferente por ser jovem e por ser gay.
Doria, por sua vez, também defendeu o diálogo e a democracia. Respondendo a jornalistas, afirmou que poderia, sim, abrir mão da candidatura à Presidência caso outro nome da terceira via tivesse maiores chances na eleição contra Bolsonaro e Lula.
"O nosso sentimento, dos três candidatos que aqui estão, não é o sentimento individualista, não é um projeto pessoal. É um projeto do PSDB e um projeto para o Brasil. Vamos sim nos sentar com outros partidos, outros líderes, e construir uma alternativa que faça frente aos extremismos de Lula e de Bolsonaro", afirmou.
O governador paulista também afirmou que está atrás de Bolsonaro, Lula e Sergio Moro (Podemos) nas pesquisas, apesar de ter o ativo da vacinação no país, porque ainda faltam 11 meses para a eleição.
Virgílio, que não tem chances de vencer as prévias, cobrou dos demais um compromisso de não deixar o PSDB em caso de derrota e um pacto para "desbolsonarizar" o partido. Apenas Leite teve a oportunidade de responder à pergunta.
"Eu assumo esse compromisso. [...] É o meu partido, tenho grande orgulho e é onde eu vou ficar", disse Leite. O governador gaúcho, no entanto, não entrou na questão da bolsonarização da sigla —boa parte dos deputados federais que o apoiam votam a favor do governo federal na Câmara.
Virgílio foi mais enfático ao falar contra a postura da maior parte da bancada do PSDB, que votou a favor da PEC dos Precatórios, proposta do governo Bolsonaro e algo que ele considera um ataque ao Plano Real de FHC.
"Se tem alguém no PSDB que é a favor do Bolsonaro, é óbvio que a gente tem que dizer a ele que tem mil partidos que gostam do Bolsonaro. Eu preferia ter um partido com 12 deputados do que um com 30, sendo 20 e tantos bolsonaristas", disse Virgílio.
O tucano também fez menção implícita ao deputado federal Aécio Neves (MG), afirmando que ele coordena o bolsonarismo da bancada. "Tem o maestro, que não quero citar, porque já tem muito ibope e não quero dar mais nenhum."
Doria também foi questionado sobre a união do partido contar ou não com Aécio, mas evitou responder. "Não cabe a mim fazer avaliações individuais", disse.
De modo geral, os três tucanos concordaram a respeito de preservação da Amazônia, políticas de inclusão para mulheres, respeito à imprensa, implementação de programas sociais para os mais pobres e, sobretudo, da necessidade de controle de gastos públicos e de reformas tributária e administrativa.
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