Descrição de chapéu Eleições 2022

Alckmin mantém triplo mistério sobre futuro, mas empurra aliado ao PSB

Ex-governador, cotado para vice de Lula, participou de reunião na sigla com ex-vereador de seu grupo político

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São Paulo

Com chance de se filiar ao PSB para ser candidato a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-governador Geraldo Alckmin (de saída do PSDB) participou nesta segunda-feira (13) de uma reunião no PSB em São Paulo na qual um aliado seu discutiu o ingresso na legenda.

Alckmin, porém, manteve um triplo mistério sobre seu futuro político. Não indicou data de desfiliação do PSDB nem confirmou a nova sigla (além do PSB, ele tem convites do PSD e do Solidariedade) ou sua presença na eleição presidencial de 2022, deixando para trás uma campanha ao Governo de São Paulo.

O tucano e o médico Sandro Lindoso, que foi candidato a prefeito de Osasco em 2020 pelo Republicanos, foram recebidos na sede estadual do partido pelo ex-governador Márcio França, que é líder do PSB no estado, próximo de Alckmin e entusiasta do arranjo com o PT.

Geraldo Alckmin, Mário Luiz Guide, Sandro Lindoso e Márcio França em reunião no PSB-SP, nesta segunda-feira (13)
Geraldo Alckmin, Mário Luiz Guide, Sandro Lindoso e Márcio França em reunião no PSB-SP, nesta segunda-feira (13) - Reprodução

Doutor Lindoso, como é conhecido, pertenceu ao PSDB e mantém boa relação com o grupo político de Alckmin. O médico e ex-vereador, que presidiu a Câmara Municipal na cidade da região metropolitana, é visto como potencial candidato a deputado estadual ou federal nas eleições do ano que vem.

A presença de Alckmin nas articulações de Lindoso com o PSB foi interpretada em alas do partido como sinalização de que o quase ex-tucano deu um passo adiante na proposta de entrar na legenda e avançar na composição com Lula. O ex-governador, contudo, não oficializou uma decisão.

À Folha Lindoso disse que sua própria filiação ao partido de França é um assunto que "está bem encaminhado". O médico postou em uma rede social foto do encontro ao lado de Alckmin e França. Ele relatou que foi convidado por ambos para a reunião.

"Eu namorei o PSB e agora noivei. Está caminhando para o casamento. O Alckmin e o Márcio me chamaram para conjecturar", afirmou Lindoso. "Sou do grupo do doutor Geraldo e estou com os dois."

O médico ficou em segundo lugar na disputa para a Prefeitura de Osasco em 2020. Ele deixou o PSDB meses antes do pleito, motivado por descontentamento com a ascensão do grupo do governador de São Paulo, João Doria, na estrutura partidária.

Recentemente, Lindoso publicou em sua página na internet uma foto ao lado de Alckmin e se referiu ao tucano como "meu professor e líder" e "ser humano ímpar".

O médico disse não saber qual será o caminho do padrinho e ventilou a possibilidade de que ele tente retornar ao Palácio dos Bandeirantes. "Ele pode ir para um partido, mas não necessariamente eu irei para o mesmo", afirmou, ressaltando que, de qualquer modo, será aliado e apoiador de Alckmin.

"Ele e o Márcio me chamaram para a gente conjecturar e saber se teria problema para mim, como líder regional, da cidade de Osasco, uma decisão ou outra. Eu falei que não, que eu estou fechado com eles até a alma. Estou sob a tutela deles."

"A posição dele [Lindoso] é a de acompanhar o Alckmin. Então, está dependendo de uma definição do Alckmin", afirmou o secretário-geral do PSB em São Paulo, Mário Luiz Guide, que também participou do encontro. "Ele [Lindoso] está analisando a hipótese do PSB."

Segundo Guide, o que houve foi uma visita de cortesia ao partido. Aliados de Alckmin disseram nos bastidores que a possível filiação do médico de Osasco ao PSB já era algo discutido antes e que a presença do ex-governador em eventos do partido tem sido frequente.

Por outro lado, há a a avaliação de que, para alguém habituado a emitir sinais em vez de agir com clareza na fase de costuras políticas pré-eleição, o aval à filiação do correligionário foi uma demonstração de intimidade com o partido de França, no mínimo.

"O Alckmin tem a maneira dele, o tempo dele de definir", disse Guide, negando que tenha havido sinalização clara do ex-governador sobre um embarque. "A relação com ele é boa. A questão aí é que não depende só de um lado, envolve vários aspectos", acrescentou o dirigente do PSB.

Políticos que têm conversado com Alckmin repetem que é uma questão de dias o anúncio da desfiliação do PSDB, partido que ele ajudou a fundar e no qual construiu sua carreira, até bater de frente com o ex-afilhado político Doria, que agiu para minar o espaço dele dentro da legenda.

O pré-candidato do PSDB ao governo é o atual vice-governador, Rodrigo Garcia, que deverá assumir o comando do estado com a renúncia de Doria para concorrer à Presidência da República.

Um dos interlocutores que falaram com o ex-governador nos últimos dias afirmou, em tom de deboche, que nem mesmo a esposa dele, a ex-primeira-dama Lu Alckmin, deve saber que rumo o marido tomará. O tucano é reservado e dificilmente se abre, mesmo com pessoas de confiança.

Dona Lu afirmou ao colunista do UOL Thiago Herdy que acompanhará o ex-governador para onde ele for. "As coisas acontecem de acordo com as circunstâncias", disse ela, enigmática.

"Burro, ele não é", comentou a ex-primeira-dama, diante de questão sobre a eventual aliança com Lula, um adversário histórico. "Ele [Alckmin] tem uma capacidade muito grande de percepção das coisas, de mundo. Mas não dou meu palpite, isso não é da minha conta. O que ele decidir, estou com ele."

Há várias teses na praça: a de que Alckmin anunciará de uma vez só a saída do PSDB e o ingresso em uma nova legenda, a de que fará o movimento inicial de se descolar do tucanato e só depois verá o resto e também a de que ele nada decidirá por enquanto, mantendo o debate em torno de seu nome aceso.

França tem repetido que o aliado está se mostrando mais propenso a encarar o projeto nacional e que é "de 99%" a chance de ser vice na chapa de Lula. O cacique do PSB almeja disputar o Bandeirantes, mas descarta enfrentar o ex-governador e amigo, alegando um pacto de lealdade.

Alckmin é o líder em intenções de voto para o governo estadual, com 26%, segundo pesquisa Datafolha de setembro. Fernando Haddad (PT) aparece numericamente em segundo lugar (17%), e França é o terceiro (15%). Em um cenário sem Alckmin, o nome do PT fica em primeiro e o do PSB, em segundo.

Apesar das posições favoráveis tanto dentro do PSB quanto dentro do PT, a entrada de Alckmin na chapa presidencial de Lula sofre resistências internas de ambos os lados e esbarra em exigências, como a de que o PT possa abrir mão de candidaturas próprias em cinco estados, incluindo São Paulo.

Alckmin ainda deve se encontrar nesta semana com o presidente nacional do Solidariedade, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SP), que convidou o ex-governador a entrar no partido, também na intenção de formar uma dupla com o petista no pleito de 2022. Alas do PT estimulam a tática.

No caso do PSD, a proposta do presidente nacional da sigla, o ex-ministro Gilberto Kassab, é que Alckmin seja candidato a governador de São Paulo, estado que o tucano já administrou por quatro mandatos. O presidenciável do PSD é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG).

Procurados, nem Alckmin nem França se manifestaram.

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