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Freixo reduz crítica a ações policiais em guinada ao centro

Deputado limitou posicionamentos em redes sociais sobre mortes envolvendo PMs desde anúncio de pré-candidatura

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Rio de Janeiro

O deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) reduziu a frequência com que critica em suas redes sociais ações policiais do Rio de Janeiro desde que lançou sua pré-candidatura ao governo do estado, em junho do ano passado.

O novo comportamento ocorre no momento em que o pré-candidato do PSB tenta formar uma frente ampla de partidos e setores sociais para sua campanha. Atualmente ele tem o apoio de seis siglas, mas busca atrair mais aliados, como o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), e até o PSDB, sob comando de Rodrigo Maia no estado.

O deputado Marcelo Freixo durante cerimônia do Grupo de Puebla, na Uerj - Mauro Pimentel - 31.mar.22 / AFP

O deputado vem buscando desvincular sua imagem de radical de esquerda, construída em razão da filiação por 16 anos ao PSOL. Um dos primeiros movimentos foi trocar a antiga sigla pelo PSB.

Um dos focos do deputado é atrair setores da polícia, em parte ainda resistente ao seu nome. Recentemente, ele celebrou a adesão do ex-comandante da PM e do Bope (Batalhão de Operações Especiais) Alberto Pinheiro Neto a uma lista de apoiadores públicos de sua pré-campanha.

Freixo afirma que a defesa dos direitos humanos faz parte de sua história parlamentar e assim se mantém. Contudo, diz que, como pré-candidato ao governo, precisa ampliar os temas em que se posiciona publicamente em suas redes, o que pode provocar a redução da exposição de suas bandeiras mais antigas.

"Tenho uma história, e ela não mudou. A gente amplia [os temas], porque tem que ampliar. Inflação, fome. Eu tenho que falar para um setor mais amplo. Mas isso não muda nossa atuação nem posicionamento", afirmou ele.

Desde que anunciou sua candidatura, Freixo não comentou diretamente em suas redes as mortes de Cauã da Silva, 17, e Thiago da Conceição, 16, durante operações policiais, além dos oito homicídios no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, após uma ação da PM, entre outros casos.

Ao ser procurado pela Folha​ no início da tarde de terça-feira (27) a respeito de posicionamento sobre a morte de Jhonatan Ribeiro de Almeida, ocorrida na noite de segunda-feira (25) no Jacarezinho, favela da zona norte da capital fluminense, o deputado informou que se manifestaria no mesmo dia, o que acabou ocorrendo.

A família do jovem afirma que ele foi baleado quando estava desarmado. Em uma rede social, o deputado escreveu estar em contato com a equipe da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, que presidiu por dez anos, para auxiliar no atendimento aos parentes da vítima.

"O enterro do menino é hoje [terça, 27]. Tudo tem um prazo. Não podemos ter uma relação oportunística. Sempre trabalhei com assistência e depois de cobrança", afirmou ele à reportagem.

A presidente da comissão, deputada Dani Monteiro (PSOL), confirma que Freixo mantém o auxílio aos trabalhos da equipe.

"Quando assumi a presidência, a primeira pessoa que procurei para ter alguma referência foi o Marcelo. Ele foi e continua sendo muito solícito. Todas as vezes que demandamos um questionamento, um caminho, sempre temos boas conversas", disse a deputada.

A última cobrança direta à atuação da polícia feita por Freixo em suas redes sociais havia ocorrido em junho, quando da morte de Kathlen Romeu, 24, grávida de oito meses. O comentário foi feito a poucos dias de ele anunciar sua saída do PSOL.

Um mês antes, o parlamentar criticou nas redes a operação policial mais letal da história do estado, no Jacarezinho, em que 28 pessoas foram mortas. Classificou o caso como mais um episódio do "massacre nas favelas".

No mesmo período em que não fez comentários diretos em suas redes sobre as mortes envolvendo ações policiais, o deputado lamentou publicamente o homicídio de ao menos sete policiais.

"É claro. Não quero ter uma PM bolsonarista. Quando fala [sobre a morte de um PM] estou fazendo uma disputa por essa polícia", afirmou o deputado.

Freixo tem buscando ampliar o diálogo com policiais a fim de quebrar resistências dentro da corporação tendo em vista tanto a eleição como um eventual governo.

Um dos interlocutores do deputado na corporação é o coronel da reserva Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado-Maior da PM. Ele afirma que, nas conversas com Freixo, ressaltou a importância de que as críticas direcionadas às ações policiais evitassem generalizações.

"A questão não é a quantidade [de críticas às ações policiais], mas sim a qualidade. Se falar de uma forma generalizada, não diferencia um caso de excesso de uma ação que demandou ações enérgicas. Temos uma segurança pública complexa. Policiais com necessidade de se deparar com uma criminalidade muito bem armada", disse o coronel da reserva.

"Quando fala de forma generalizada, não buscando se conectar, acaba se afastando desse grupo."

A aproximação de Freixo com forças policiais vem, principalmente, desde seu último mandato na Assembleia, quando ampliou o atendimento a famílias de policiais mortos. A interlocução foi ampliada após a realização da CPI dos Autos de Resistência, na Assembleia.

Uma das preocupações do deputado é evitar que policiais ampliem sua adesão ao bolsonarismo a partir de críticas excessivas a suas ações. O presidente Jair Bolsonaro (PL) deve apoiar a reeleição do governador Cláudio Castro (PL), principal adversário de Freixo pelo Palácio Guanabara.

O deputado do PSB lidera as intenções de voto, segundo pesquisa divulgada no início de abril pelo Datafolha. Ele tem 22% da preferência do eleitorado, em empate técnico com Cláudio Castro, com 18%.

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