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Lula acena a evangélicos e jovens, e PT tenta se esquivar de crise

'Bolsonaro vive enganando muita gente boa da igreja evangélica', diz petista

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São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu nesta quinta-feira (21) que jovens tirem seu título de eleitor e também acenou aos evangélicos durante evento em Heliópolis, na capital paulista, num momento em que sua pré-campanha enfrenta uma crise de comunicação e vaivém de narrativas.

Em suas críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula se dirigiu ao segmento religioso que é próximo ao atual presidente da República e no qual houve desgaste do petista depois de declarações recentes sobre aborto.

"Ele é estimulador do ódio e da discórdia. Uma pessoa que não prega nenhum sentimento de paz e vive enganando muita gente boa da igreja evangélica, dizendo que ele é o bem, o representante de Deus. E quem não está com ele é comunista, é o mal", disse.

"O Brasil nunca teve um presidente tão desqualificado moralmente. Um cara que não fala em emprego e educação", completou.

Líderes petistas também estiveram presentes, mas se esquivaram de comentar sobre a disputa pública pelo comando da comunicação. Questionada, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não quis responder a perguntas da imprensa sobre a crise.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um encontro com jovens da comunidade de Heliópolis (SP) - Bruno Santos/Folhapress

Dirigentes do PT pressionam pela saída do ex-ministro Franklin Martins, coordenador de comunicação, e do marqueteiro escolhido por ele, Augusto Fonseca.

Além disso, a pré-campanha tem sofrido críticas internamente pela falta de uma unidade na disseminação de ideias e pautas —e o vaivém nas declarações de Lula.

Dois exemplos mais recentes foram as declarações sobre o aborto e a reforma trabalhista.

No primeiro caso, considerado sensível ao eleitorado religioso, o petista afirmou que o aborto deveria ser um "direito de todo mundo", fornecendo munição para seus adversários. No dia seguinte, Lula contornou as declarações, se posicionou pessoalmente contra o aborto e defendeu o tratamento para mulheres que realizarem o procedimento na rede pública de saúde.

Nesta quinta, na quadra da Unas (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região), Lula fez um discurso motivador, dizendo aos jovens que eles devem ter uma causa e criticando a despolitização.

"Todo político é ladrão, ótimo. Por que você não se transforma na boa vereadora?", questionou.

Também afirmou que todos aqueles que conhecem um adolescente maior de 16 anos devem aconselhar: "Não entre na do Bolsonaro, você não tem que comprar fuzil, pistola, bala, arma. Tire seu título de eleitor e dê um tiro nas coisas ruins desse país pra gente poder mudar a história do país".

O prazo para tirar o título de eleitor termina no dia 4 de maio.

Lula estava acompanhado do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), pré-candidato ao Governo de São Paulo. Também estavam o ex-ministro Aloizio Mercadante, o vereador Eduardo Suplicy (PT), a deputada estadual professora Bebel (PT), além da noiva de Lula, Janja.

Ao incentivar a votação dos jovens, Lula afirmou que o eleitor precisa se informar para não votar "de forma equivocada".

Nesse momento, citou o ex-deputado Arthur do Val (União Brasil), o Mamãe Falei, que renunciou nesta quarta (20), após ser alvo de um processo de cassação por falas sexistas. O público reagiu com uma risada leve quando o membro do MBL (Movimento Brasil Livre) foi mencionado.

"Às vezes as pessoas pensam que são boas e não são. Vamos ver o que aconteceu com o cara que foi deputado aqui em São Paulo, que chamava Mamãe Falei. [...] Se você não analisar o histórico das pessoas, a vida das pessoas, o que eles fizeram, você pode sempre estar colocando uma raposa para tomar conta das galinhas", disse.

Ele mencionou ainda a eleição de João Doria (PSDB) em 2016, quando Haddad concorria à reeleição na Prefeitura de São Paulo. Lula afirmou que não reeleger Haddad foi uma das maiores tristezas que já teve.

"Uma pessoa que não tem nem passado, nem presente e certamente não tem futuro político", afirmou a respeito do tucano.

Pelas redes sociais, Doria respondeu ao petista. "Agradeço a lembrança da minha vitória em 2016, Lula. Seguimos trabalhando para resolver os grandes problemas do Brasil: comida na mesa, emprego, dinheiro no bolso, sem esquecer, claro, o combate à corrupção. Sobre passado e futuro, vamos debater? Menos ódio, mais solução. Topa?", disse.

"Tirar o título é vocês provarem que estão qualificados, não apenas para escolher quem governa esse país, mas para decidir a vida de vocês", disse Lula aos adolescentes.

Lula posa para foto com jovens de Heliópolis, na capital paulista - Bruno Santos/Folhapress

Lula mencionou também seu encontro com Guilherme Benchimol, fundador da XP, que foi noticiado pelo jornal O Globo, mas sem mencioná-lo.

"Ontem eu ouvi uma história muito engraçada. Eu me encontrei com um desses... Dessa gente importante do sistema financeiro", começou. Lula contou que o economista foi demitido e, por isso, foi "esculhambado" pelo pai.

"Ele chamou uns amigos e montou dos maiores bancos de investimento que temos hoje no Brasil. Por quê? Porque ele foi desafiado. Vocês estão desafiados a provar para o mundo inteiro que vocês podem tanto quanto qualquer outra pessoa, vocês só querem a chance", completou.

O evento em Heliópolis mirou a juventude. O público tem sido alvo de bolsonaristas e de artistas da esquerda, engajados na campanha para que os jovens tirem título de eleitor e participem da eleição neste ano. "Bora votar, quebrada", dizia um cartaz na quadra que abrigou o evento.

Os jovens na quadra também seguravam folhas de papel imitando o título de eleitor com os dizeres "seu voto importa" e o prazo para emissão do título, 4 de maio. Antes de Lula, uma série de jovens de Heliópolis discursou e enalteceu o ex-presidente.

Em seu discurso, Haddad exaltou a educação, afirmando que uma "revolução silenciosa" está em curso por meio de políticas como o Enem e o Sisu, e fez elogios ao bairro de Heliópolis, pela organização popular de base.

Gleisi, por sua vez, incentivou a campanha para que jovens votem. "O voto é a nossa arma, não é a arma da violência, da destruição, do ódio, mas da construção, da esperança e da mudança", disse.

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