Flávio culpa Pacheco por ataque golpista e diz que Bolsonaro não tem prazo para voltar ao Brasil

Senador e filho do ex-presidente da República afirma que o pai está 'desopilando' nos EUA

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou neste sábado (28) que o pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), está "desopilando" nos Estados Unidos e não tem data para ele voltar ao Brasil.

A família, segundo o senador, já voltou dos EUA. Sobre uma data de retorno de Bolsonaro, ele diz: "Pode ser amanhã, pode ser daqui a seis meses, pode não voltar nunca, não sei. Ele está desopilando. Você nunca tirou férias, não?", afirmou Flávio em entrevista à imprensa.

O senador Flávio Bolsonaro durante lançamento de um bloco partidário formado por PL, Republicanos e PP - Natanael Alves/PL

Como mostrou a Folha nesta semana, prestes a completar um mês nos Estados Unidos, Bolsonaro pediu ao ex-lutador José Aldo, dono da casa na região de Orlando onde está hospedado, para estender a estadia por cerca de um mês, até depois do Carnaval, segundo um amigo do atleta.

A casa, um imóvel de oito quartos em um condomínio fechado nas imediações dos parques da Disney, está disponível para aluguel em uma plataforma online por valores a partir de US$ 519 a diária (cerca de R$ 2.600, sem contar impostos e taxas que podem fazer o valor quase dobrar), mas foi cedida pelo ex-lutador, que apoiou Bolsonaro na eleição de 2022.

Flávio disse não saber em que estágio estaria o processo de mudança de visto de Bolsonaro, mas afirmou ser natural que ex-presidente busque renovar o visto de permanência no país. "Está tentando, normal".

"Ele tem que mudar a classificação do visto. Qualquer pessoa que é autoridade e deixou de ser tem que legalizar essa situação", disse o senador.

Não se sabe, porém, se os problemas de saúde de Bolsonaro vão fazê-lo encurtar a viagem. Ele chegou a ser internado com obstrução intestinal no começo do mês e, na ocasião, disse que iria adiantar a volta ao Brasil. Nesta semana, seu médico disse à Folha que ele terá de fazer uma nova cirurgia ao voltar.

Flávio afirmou que o pai está tranquilo e não tem receio de que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o torne inelegível.

"A preparação, os advogados estão olhando tecnicamente, e o retorno que tem é que não há nada juridicamente que implique o presidente Jair Bolsonaro. Agora, tribunais, Poder Judiciário, não é lugar de fazer julgamento político", disse Flávio.

"O presidente está com muita tranquilidade, porque sabe que ainda que force muito uma barra, não tem como vincular Bolsonaro a nenhum ato criminoso."

Flávio buscou eximir o pai de culpa pelos acontecimentos do dia 8 e alegou que a permanência dele nos Estados Unidos não tem relação com o receio de ele sofrer punições pelos ataques golpistas.

"Não tem temor nenhum. Ele não tem nenhuma responsabilidade sobre o que aconteceu no Brasil. Se ele estivesse sentado na cadeira de presidente poderia falar que ele facilitou alguma coisa, mas o presidente já não era Bolsonaro", disse Flávio.

Para o senador, se quiserem responsabilizar o pai pelos ataques, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também deve ser "responsabilizado" porque era quem já estava na chefia do Executivo na data.

"Se estão tentando imputar ao Bolsonaro alguma responsabilidade sobre o acampamento, pacífico, de pessoas que estavam ali protestando legitimamente, dentro do seu direito constitucional, querendo responsabilizar o Bolsonaro por não ter desmobilizado isso, o Lula também tem que ser responsabilizado."

"Porque durante uma semana ele foi presidente e não fez nada para tirar o pessoal de lá. Ou se fez, não foi efetivo. Não dá para querer usar medida para Bolsonaro e uma medida para Lula", continuou Flávio.

Na mesma entrevista, Flávio atribuiu parcela de culpa ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pelos "acontecimentos dos últimos meses" que culminaram nos atos golpistas do dia 8, em que apoiadores de Bolsonaro depredaram os prédios de Congresso, Planalto e STF (Supremo Tribunal Federal).

"Vimos tudo acontecer nos últimos meses [e] é porque talvez quem estivesse sentado na cadeira de presidente do Senado não teve a capacidade ou a visão para buscar essa pacificação, para promover o diálogo, que é assim que a gente busca essa unidade no Parlamento", disse o senador.

Pacheco soltou nota em seguida e rebateu Flávio: "Declarações que demonstram afastamento da realidade e desconhecimento do cotidiano da presidência do Senado, que nunca abriu mão do equilíbrio e da busca pelo diálogo. Vamos tomar as medidas necessárias contra os golpistas criminosos e aguardar que a Justiça brasileira decida quem são realmente os culpados."

As declarações de Flávio foram dadas durante lançamento de um bloco partidário, formado por PL, Republicanos e PP, que apoiará a candidatura do senador Rogério Marinho (PL-RN), que foi ministro do Desenvolvimento Regional de Bolsonaro, à presidência da Casa.

A eleição será nesta quarta-feira (1º). Juntos, os três partidos têm 23 senadores —são necessários 41 votos para vencer a disputa.

Flávio afirmou que Marinho será capaz de fazer a "pacificação" que Pacheco não soube fazer à frente do Senado.

O senador Carlos Portinho (PL-RJ) também apontou o dedo para Pacheco na responsabilização pelos atos de vandalismo no Senado.

"O que aconteceu no dia 8 aconteceu porque todas as lideranças falharam. O Executivo falhou, o Judiciário falhou, e a presidência do Congresso falhou. Se insistirmos nas mesmas soluções, teremos o mesmos erros", afirmou.

Marinho, que disputará contra Pacheco, defendem que haja uma CPI para apurar os ataques do dia.

"Houve falha na segurança no dia 8. Acho que a CPI seria o instrumento adequado para averiguarmos falhas por ação ou omissão porque não se pode fazer investigação seletiva", defendeu o candidato à Presidência do Senado. "Estamos aqui prontos para assinar uma CPI ampla."

A respeito da minuta de teor golpista encontrada na casa do ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, Flávio afirmou nunca ter visto este documento.

"Não vi nenhuma minuta golpista circulando. Isso aí é uma adjetivação que vocês estão dando. Sobre essa que foi encontrada na casa do ministro, nunca vi, nunca li, nunca tive acesso a isso. Agora, as pessoas falam o que quer. O mais importante é que o fato concreto bota essa suposta minuta de alguma coisa totalmente no lixo."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.