Descrição de chapéu Governo Tarcísio

'Agora eu e Lula somos sócios', diz Tarcísio, eleito com apoio de Bolsonaro

Governador de SP disse querer avançar na privatização do Porto de Santos com Lula 'mesmo estando em campos políticos opostos'

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São Paulo

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou nesta quarta-feira (1º) que ele e o presidente Lula (PT) agora são sócios, referindo-se ao alinhamento entre governo federal e estadual para o desenvolvimento do país.

"Para o Brasil ir bem, São Paulo tem que ir bem. Agora eu e o presidente Lula somos sócios", disse em um evento de agronegócio promovido pela XP Investimentos em São Paulo.

Aliado de Jair Bolsonaro (PL) e eleito com o apoio do ex-presidente, Tarcísio tem dialogado de forma amistosa com o governo federal para tentar avançar em projetos como a privatização do Porto de Santos (SP), um de seus pleitos mais ambiciosos que depende do aval do governo Lula.

"Imagina São Paulo e o governo federal unidos num projeto que é importante para o Brasil, para São Paulo, para a Baixada Santista e você conduzir esse projeto conjunto mesmo estando em campos políticos opostos", disse.

Tarcísio em evento da XP em São Paulo
Tarcísio em evento da XP em São Paulo - Leandro França

Em seu discurso no evento, Tarcísio também elogiou Bolsonaro, a quem definiu como líder da direita, e disse não querer herdar a direita.

"O pessoal fala muito: você vai herdar a direita. Eu não quero herdar nada. E para mim o grande líder da direita continua sendo o Bolsonaro, que é uma pessoa com quem eu desenvolvi uma grande amizade. Então, esse interesse eu não tenho", disse.

O governador disse não ter planos políticos de suceder o ex-presidente e afirmou estar focado em resolver problemas do estado.

Questionado sobre suas pretensões eleitorais, Tarcísio respondeu: "zero". E afirmou que não esperava ser ministro nem governador —foi o ex-presidente que lançou Tarcísio na corrida estadual.

"No dia que você chegar, virar governador, de costas para o governo, já pensando no próximo passo, você está morto. Eu quero é curtir isso e fazer o melhor aqui em São Paulo", completou.

A fala lembra o movimento político do ex-governador João Doria (ex-PSDB), que chegou ao Palácio dos Bandeirantes com planos presidenciais que não se concretizaram.

Mais tarde, em evento do banco Credit Suisse, Tarcísio comentou sobre as eleições para o comando da Câmara e do Senado, nesta quarta. Antes dos resultados, ele afirmou, referindo-se ao favoritismo de Arthur Lura (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG): "Fico muito confortável com a Câmara dos Deputados, nem tanto com o Senado Federal".

Os bolsonaristas torciam por Rogério Marinho (PL-RN), que perdeu para Pacheco.

No mesmo evento, Tarcísio voltou a repetir que São Paulo e o Brasil são sócios.

"As pessoas me perguntam muito como vai ser minha relação com o governo federal, logo eu que sou um opositor do governo federal. Me elegi apoiando o nosso ex-presidente Bolsonaro. [...] Minha relação vai ser republicana e eu considero de uma forma muito pragmática que São Paulo e o Brasil são sócios. [...] A gente vai fazer de tudo para que o Brasil vá bem. Isso não significa absolutamente alinhamento, não significa que a gente não vá fazer eventualmente a crítica construtiva", disse.

"Estou confiante no futuro de São Paulo nos próximos anos e também no futuro do Brasil, por que não?", emendou.

Ele também repetiu que não planeja nada para o futuro e não tem preocupação com a eleição de 2026. Segundo Tarcísio, apesar da derrota de Bolsonaro, a centro-direita venceu a eleição de 2022, com governadores e parlamentares, e pode voltar ao poder em quatro anos.

"Eu acho que o Brasil está se tornando um país mais conservador e mais centro-direita. Se você pegar a quantidade de filhos por casais evangélicos e confrontar com filhos de casais católicos, você vai ver
que existe esse movimento", disse ele.

Ainda no evento do Credit Suisse, Tarcísio defendeu a privatização do Porto de Santos e da Sabesp, a reforma tributária, uma agenda verde para atração de investimentos e uma reforma política que adote o voto distrital misto e acabe com a reeleição.

Lula cumprimenta tarcísio no palácio do planalto
Presidente Lula encontra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, no dia 11 de janeiro - Ricardo Stuckert/Divulgação

Como mostrou a Folha, governadores de direita têm acionado o antipetismo e adotado cautela em relação ao bolsonarismo na busca de se cacifarem para a eleição de 2026. Assim como Romeu Zema (Novo-MG) e Eduardo Leite (PSDB-RS), Tarcísio alterna entre acenos à base mais conservadora e discursos de relacionamento republicano com Lula.

Em viagem à Brasília na semana passada para a reunião de governadores, a questão do Porto de Santos era uma das pautas que Tarcísio pretendia levar a membros do governo como Rui Costa (Casa Civil) e Márcio França (Portos e Aeroportos). O governador disse que vai investir no assunto e que vê a desestatização como a "redenção da Baixada Santista".

"Estamos colocando os argumentos [para a privatização]. Tive oportunidade de falar isso com o presidente Lula. Ele disse 'sou contra, mas estou pronto para receber argumentos, para ser convencido, eventualmente se a gente perceber que o projeto é bom, eu posso mudar de opinião, não tenho dogma em relação a isso'", disse Tarcísio a jornalistas no evento da XP.

"A mesma posição a gente teve do ministro da Casa Civil, que faz a gestão hoje do projeto de parcerias e investimentos", acrescentou. O governador de São Paulo quer se encontrar com Márcio França, que no ano passado vetou a possibilidade de privatizar o porto, para apresentar argumentos.

Tarcísio já se reuniu com Lula três vezes no seu primeiro mês de governo. A primeira foi em 9 de janeiro, um dia depois da invasão e da depredação da sede dos três Poderes por bolsonaristas. Ele considerou não comparecer à reunião com governadores, mas mudou de ideia após conversar com diferentes autoridades.

Um dia depois, se encontrou reservadamente com Lula e alguns ministros. Eles trataram do porto de Santos e de obras na região, além de repasses para a saúde. O encontro foi amistoso e o chefe do Executivo publicou foto apertando a mão de Tarcísio nas redes sociais.

O último encontro foi na sexta-feira (27), na reunião de governadores. Tarcísio levou a Lula demandas como financiamento para a saúde, perdão ou renegociação de dívidas de hospitais filantrópicos, reajuste da tabela SUS, e apoio para obras de mobilidade.

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