Prefeitos e governadores reorganizam alianças por 2024 e apoio legislativo

Gestores municipais miram reeleições no ano que vem; governadores buscam ampliar bases nas Assembleias

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Recife e Porto Alegre

Passadas as eleições de 2022, governadores e prefeitos se movimentam em busca de novas alianças a fim de consolidar a governabilidade e conquistar um palanque competitivo para os pleitos municipais do próximo ano.

Nas capitais, as articulações envolvem predominantemente prefeitos que buscam a reeleição e querem atingir novos segmentos do eleitorado. Já os governadores buscam organizar a sustentação das bases aliadas nos legislativos estaduais, além da ampliação do leque de aliados nos municípios.

Colagem com imagens dos prefeitos do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, do Recife, João Campos, e de Porto Alegre, Sebastião Melo - Tomaz Silva/Agência Brasil, Marlene Bergamo/Folhapress e Sebastião Melo no Facebook

Um exemplo: aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), atraiu o PT para a sua base com a nomeação de três secretários petistas para o Executivo municipal.

PSB e PDT, ambos da base lulista no plano federal, também foram contemplados com nomeações no primeiro escalão da Prefeitura do Rio de Janeiro.

Em 2020, Eduardo Paes foi eleito pelo extinto DEM, que se fundiu ao PSL e tornou-se a União Brasil. Agora, as amarras com a esquerda tendem a afastar o segmento do eleitorado ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"É a primeira frente democrática se formando contra o bolsonarismo na capital [fluminense]. Lá no Rio, por exemplo, se discute a possibilidade de Flávio Bolsonaro ser candidato a prefeito. Temos que nos colocar em oposição a isso, e o melhor que reúne essas condições é o prefeito Eduardo Paes", diz o presidente do PT do Rio, João Maurício de Souza.

Para o dirigente petista, ações dos governos federal e municipal, sobretudo em programas sociais, podem ajudar a construir uma eventual maioria pró-Eduardo Paes no Rio. No pleito de 2022, Bolsonaro venceu Lula na capital fluminense por uma diferença de 5,3 pontos percentuais.

O PT pleiteia a vice de Paes em 2024, mas o prefeito ainda não se comprometeu em ceder a vaga. O gestor tem dito a aliados que fará este debate somente no próximo ano.

No Recife, o prefeito João Campos (PSB) convidou o PT a participar da sua gestão. Em 2020, ele foi eleito após fazer campanha com discurso antipetista no segundo turno.

"Não concordamos com aquela posição [de João Campos em 2020], fomos contra. Mas avaliamos que hoje o momento conjuntural na política, após a vitória do presidente Lula, nos obriga a construir a defesa da democracia", afirma Cirilo Mota, presidente do PT da capital pernambucana.

O PT, que governou Recife por 12 anos, já aceitou o convite e deverá ocupar duas secretarias na prefeitura. A tendência é que o partido não lance candidatura própria pela primeira vez desde que foi fundado e apoie a reeleição de Campos.

No Ceará, a maioria dos deputados do PDT embarcou na base do governador Elmano de Freitas (PT).

Os pedetistas tiveram como candidato em 2022 o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, mas o PT venceu no primeiro turno estadual. Além disso, os dois partidos tiveram divergências sobre os embates entre Ciro Gomes e Lula no pleito presidencial.

Já a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), agora conta com o PSD entre os seus aliados.

O grupo político da senadora Zenaide Maia, recém-filiada ao PSD, assumiu a direção do partido no estado. Até 2022, a sigla era comandado pelo grupo político de Fábio Faria, ex-ministro das Comunicações do governo Bolsonaro.

Outro fluxo migratório possível ao longo dos próximos anos é o de prefeitos para partidos alinhados politicamente ao governo estadual.

Em Pernambuco, a expectativa do núcleo da governadora tucana Raquel Lyra é que ao menos 30 prefeitos deixem o PSB e se filiem ao PSDB até as eleições de 2024.

Na Bahia, PSD e MDB têm sido cortejados por prefeitos. As duas legendas fazem parte da sustentação do governo de Jerônimo Rodrigues (PT). Assim, a migração para essas siglas pode criar um canal de diálogo com o Palácio de Ondina.

O deputado federal Otto Alencar Filho (PSD) avalia que as movimentações do troca-troca partidário devem se intensificar seis meses antes das eleições municipais de 2024.

Também aliado do governo do PT, o presidente do MDB baiano, o ex-deputado Lúcio Vieira Lima, acredita que o número de prefeitos subirá em relação aos atuais 17 –destes, dois já entraram no partido após o pleito de 2022.

"Não queremos guerra para pegar prefeitos em partidos aliados, mas quem quiser vir o MDB estará aberto", diz Lima.

Em São Paulo, conforme mostrou a Folha, PSD e Republicanos estão entre os mais cotados para receber filiações de prefeitos, após a derrocada do PSDB, que comandou o Palácio dos Bandeirantes por praticamente 28 anos.

Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo (MDB) pavimentou candidatura à reeleição em 2024 convidando o PSDB –que tem quatro vereadores– a ingressar no governo. Os tucanos aceitaram o convite, recebendo em troca a Secretaria de Cultura e Economia Criativa, mas afirmando não haver comprometimento eleitoral futuro.

A aliança é particularmente curiosa porque Melo, meses antes, pediu votos contra o próprio partido ao apoiar Onyx Lorenzoni (PL) contra Eduardo Leite (PSDB), que terminaria reeleito governador do Rio Grande do Sul.

O vice de Leite é Gabriel Souza, também do MDB, que agora tenta ignorar a traição de Melo e usar a aliança como argumento para que o PSDB também o apoie à sucessão de Leite em 2026.

O movimento de Melo enfraquece um possível retorno à disputa do ex-prefeito Nelson Marchezan (PSDB), terceiro colocado em 2020, e praticamente assegura que a capital gaúcha tenha nas urnas uma polarização clara entre direita e esquerda, que também está fortalecida.

O eleitorado de Porto Alegre elegeu Lula nos dois turnos na eleição passada e por pouco não foi responsável por uma vitória de Edegar Pretto (PT) sobre Leite. Já Melo abraçou o bolsonarismo com entusiasmo ao longo do mandato em parceria com o seu vice, Ricardo Gomes, que migrou do DEM para o PL no ano passado.

Sem possibilidade de reeleição, Leite mira o Palácio do Planalto em 2026, deixando ainda mais acirrada a disputa interna na base governista pela sua sucessão.

O tucano agiu rápido para iniciar o ano legislativo com uma base quase duas vezes superior ao número de deputados eleitos na sua coligação. Após largar com 17 nomes eleitos, pode chegar a até 35 deputados ao seu lado na Assembleia gaúcha.

Sem muito esforço, atraiu nove deputados de PP, PTB e PSB, aliados desde o governo passado, e tem como novidade na base o PDT, com quatro cadeiras. Leite, todavia, não conseguiu a adesão do PL e ainda trabalha para selar uma aliança formal com o Republicanos, cada um com cinco deputados.

"Eu não contaria com o Republicanos como base ainda. Por ora, inauguramos a categoria dos ‘independentes comprometidos’. Os partidos que não fazem parte da base, mas se comprometem a ajudar o governador no que for de interesse do Rio Grande do Sul", diz o líder do governo, Frederico Antunes (PP).

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