Descrição de chapéu CPI do MST Congresso Nacional

Deputado bolsonarista associa mulheres a procriação em bate boca na CPI do MST; veja vídeo

Discurso machista após discussão com deputada do PSOL foi alvo de críticas

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Brasília

O deputado bolsonarista General Girão (PL-RN) adotou discurso machista durante sessão da CPI do MST desta quarta-feira (12) ao afirmar que respeita as mulheres porque elas são "responsáveis pela procriação e pela harmonia da família".

As declarações do parlamentar ocorreram em meio a um bate-boca com a deputada Sâmia Bonfim (PSOL-SP).

O deputado General Girão - Reprodução/Câmara dos Deputados

Durante uma fala de Girão, a psolista afirmou que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes determinou abertura de inquérito para apurar suposta incitação dele aos atos golpistas de 8 de janeiro.

"A atitude da senhora a gente lamenta bastante. As mulheres têm responsabilidades, sim, e eu as respeito bastante, muito, porque elas são responsáveis pela procriação e pela harmonia da família. E a senhora não", disse Girão.

Em seguida, mulheres que estavam na sessão criticaram a declaração, entre elas as deputadas Fernanda Melchionna (PSOL-RS), Camila Jara (PT-MS) e a própria Sâmia. Alguns assessores legislativos que acompanhavam a sessão se levantaram e deixaram a sala, em tom de protesto.

Momentos antes, o parlamentar afirmou que mulheres do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) tinham tentado invadir seu gabinete em Natal há cerca de dois anos e que elas não teriam sido punidas por serem mulheres.

"É um absurdo a gente ter tido um ato terrorista contra o meu gabinete e não ter uma resposta simplesmente porque foi feito por mulheres. Quer dizer então que no Código Penal brasileiro a mulher pode cometer um crime e ficar isenta?", disse.

Girão já havia, minutos antes, sugerido o uso da Polícia Legislativa para que retirasse Sâmia do plenário da comissão após bate-boca entre ela e o deputado Éder Mauro (PL-PA), que disse que a psolista faz parte do "chorume do comunismo".

Por alguns minutos os microfones dos parlamentares foram cortados diante do bate-boca. O relator da CPI, deputado Ricardo Salles (PL-SP), sugeriu aos colegas que eles representassem Sâmia no Conselho de Ética da Câmara.

"Todas as vezes que a deputada fala, ela quer se vitimizar aqui na comissão dizendo que é interrompida. Na verdade, quem interrompe os parlamentares é a deputada. Que fique registrado e que esse requerimento seja subscrito pelos demais membros da comissão", afirmou Salles.

Essa não é a primeira vez que o relator diz que irá ingressar com representação contra uma parlamentar que integra a CPI. A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) foi alvo de representação do PL por supostamente ter ofendido Salles em uma sessão ao dizer que ele seria "acusado de fraudar mapas" e que teria "relação com o garimpo ilegal".

Reunião da CPI do MST em maio deste ano - Pedro Ladeira - 23.mai.23/Folhapress

O presidente da comissão, Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), também se exaltou nesta quarta e discutiu com Sâmia.

"Qual é o seu objetivo, deputada? A senhora quer que eu encerre a sessão, é isso? Respeite os deputados. A senhora faça o que a senhora quiser, mas aqui a senhora respeite (...) fique em silêncio e respeite o deputado falar", disse.

À Folha a deputada afirmou que irá, com a bancada do PSOL, representar Zucco e Salles no Conselho de Ética da Casa por violência política de gênero na CPI.

"Desde a instalação da CPI do MST foram inúmeros episódios de interrupções, cortes de microfone e ofensas contra mim e outras deputadas. O próprio Ministério Público Federal representou à Procuradoria-Geral da República para apurar violência política de gênero, e a procuradoria já iniciou pedidos de diligência", diz Sâmia.

Segundo ela, as últimas sessões da CPI neste semestre "tornaram a situação insustentável".

"Há um tratamento muito desigual dispensado a mim e aos bolsonaristas. Vamos representar o presidente e o relator pois são agentes e ou coniventes com a violência política de gênero na CPI", disse.

A sessão do colegiado desta quarta foi a última antes do recesso parlamentar. Nela foram aprovados 21 requerimentos em bloco e em votação simbólica (quando não há contabilização dos votos), após ter sido acordado entre a mesa da CPI e deputados governistas.

Na sessão do dia anterior, os parlamentares aprovaram a convocação do ex-ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) general Gonçalves Dias e preservaram, novamente, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, após ação da base do governo Lula (PT).

Apesar disso, Zucco indicou, ainda na terça-feira, que o requerimento que mira o chefe da Casa Civil deverá ser apreciado pela comissão na primeira semana de agosto. Ele afirmou também que o depoimento de José Rainha, líder da FNL (Frente Nacional de Lutas Campo e Cidades), no colegiado deve ocorrer no começo do próximo mês.

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