Presidente de clube de tiro vira chefe regional sob Lula de estatal ligada ao centrão

Chefe da Codevasf no RN foi indicado pela União Brasil e é cunhado do presidente da Assembleia Legislativa

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Brasília

Presidente de um clube de tiro em Natal (RN), Lindberg Natal Barbosa Tinôco assumiu o comando da superintendência da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) na capital do Rio Grande do Norte.

Formado em administração de empresas, o novo chefe da Codevasf no estado é cunhado de Ezequiel Ferreira (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa potiguar.

A indicação de Tinôco ao cargo foi acertada entre Ferreira e integrantes da União Brasil na Câmara dos Deputados, segundo autoridades que acompanharam as negociações.

O presidente de clube de tiro foi nomeado superintendente da estatal federal em 15 de setembro.

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Retroescavadeira da Codevasf em Itatim, no interior da Bahia - Rafaela Araújo - 25.mai.23/Folhapress

"A ocupação de cargos em comissão observa requisitos técnicos e legais, assim como disposições do Plano de Funções e Gratificações da Empresa e de normas complementares", afirmou a Codevasf em nota.

A companhia também disse que Tinôco é formado pela UNP (Universidade Potiguar) e tem "histórico de atuação profissional na iniciativa privada".

Procurado, o novo superintendente em Natal não se manifestou sobre a nomeação ao cargo na Codevasf.

A escolha de Tinôco é parte da estratégia de melhorar a relação com a bancada do Rio Grande do Norte na Câmara dos Deputados, dizem pessoas que acompanharam as negociações para o cargo.

Os superintendentes da Codevasf têm agenda preenchida por encontros com políticos e empresários locais. Eles ainda podem assinar contratos e convênios e servem de representante da estatal nos estados.

A gestão petista expandiu a companhia, de 12 para 16 superintendências, para acomodar aliados do centrão.

Em Pernambuco, que já abrigava uma unidade em Petrolina (PE), foi criada a superintendência do Recife. A medida serviu para encaixar indicações do PSB, PT e Republicanos.

Relator do Orçamento de 2023, o senador Marcelo Castro (MDB-PI) emplacou o filho no comando da estatal no Piauí, cargo antes exercido por um indicado do senador Ciro Nogueira (PP), que foi chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro.

Mas parte dos superintendentes da Codevasf foi mantida no cargo. Um exemplo é o comando da unidade da empresa em Penedo (AL), que segue nas mãos de Joãozinho Pereira (PP), primo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

O superintendente da estatal em Bom Jesus da Lapa (BA), Harley Xavier Nascimento, também foi preservado no cargo que atua desde 2016. Ele foi indicado ao posto pelo deputado Arthur Maia (União Brasil-BA).

A Codevasf se transformou num dos alvos de parlamentares, especialmente do centrão, para escoar a verba recorde das emendas.

Sob Bolsonaro, a companhia se afastou da vocação histórica de promover projetos de irrigação e passou a se dedicar em entregas de maquinários e pavimentação. A Folha percorreu recentemente cinco estados do Nordeste e flagrou distorções na entrega de caixas d’água em regiões secas, uma das funções da companhia.

A Polícia Federal e órgãos de controle apuram se verba da estatal foi desviada em obras de pavimentação.

Apesar das suspeitas de irregularidades e mudança de rumo da empresa, o governo petista manteve o engenheiro Marcelo Moreira, nomeado presidente da estatal em 2019, no comando da Codevasf. Já a chefia de algumas superintendências foi alterada em troca de apoio no Congresso.

O número de clubes de tiro cresceu no Brasil durante a gestão do ex-presidente Bolsonaro. Segundo dados do Exército obtidos via LAI (Lei de Acesso à Informação), o Brasil tinha 151 estabelecimentos do tipo no final de 2019. No fim de 2022, esse número tinha aumentado para 2.308 clubes de tiro, de acordo com o Instituto Sou da Paz.

O presidente Lula (PT) disse no fim de julho que pretende fechar todos os clubes do país e deixar aberto apenas os espaços que são das polícias ou do Exército.

"Já disse para o Flávio Dino [ministro da Justiça]: nós temos que fechar quase todos, só deixar aberto aqueles que são da Polícia Militar, do Exército ou da Polícia Civil", afirmou o presidente em transmissão realizada nas redes sociais.

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