A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, acumulou embates nos últimos meses em que expôs críticas do partido ao centrão e a Poderes.
Neste domingo (17), a deputada federal pelo Paraná desaprovou a pauta que defende acabar com a reeleição para o cargo de presidente da República, ideia defendida por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado.
Segundo Gleisi, a reeleição é benéfica para a democracia, embora tenha sido implementada de maneira oportunista pelo PSDB durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso, que se aproveitou do dispositivo para se reeleger no cargo em 1998.
"Mesmo que seja para valer só a partir de 2030, a proposta para acabar com a reeleição de presidentes é oportunista e representa um retrocesso na representação democrática da maioria da população", afirmou nas redes sociais.
De acordo com Pacheco, a discussão sobre a reeleição é uma dentre outras importantes que o Congresso deve pautar ainda em 2024, a exemplo da que quer estabelecer mandatos para os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Veja outros momentos em que Gleisi estabeleceu embates públicos com o Congresso ou outros Poderes.
Influência do centrão
Em dezembro, Gleisi fez oposição a outros integrantes do PT ao defender a inclusão de um trecho que fazia críticas ao centrão em um documento oficial do partido.
Uma resolução finalizada pelo PT no dia 11 afirmava que o centrão exercia "influência desmedida sobre o Legislativo e o Executivo, atrasando, constrangendo e até tentando deformar a agenda política vitoriosa na eleição presidencial".
O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), e José Guimarães (CE), liderança do governo na Câmara, queriam retirar o trecho. Um dos argumentos a favor da supressão era que a crítica poderia gerar indisposição no trato com os parlamentares.
Gleisi argumentou que o conteúdo já havia sido vazado para a imprensa e negou que pudesse trazer efeito negativo. Depois da discussão, o texto com o trecho referente ao centrão foi aprovado por 46 votos a favor e 4 contra.
Como reação, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), chegou a propor uma resposta pública à crítica, mas foi demovido da ideia por líderes da base governista.
Aumento de emendas
Ainda em embate com o Congresso, Gleisi criticou a proposta de aumento de emendas parlamentares. No dia 9 de dezembro, a deputada se referiu à ideia como "barbárie", durante encontro nacional do partido em Brasília.
"É uma transferência da execução orçamentária do Executivo para o Congresso Nacional, logo o Congresso Nacional que está discutindo que não quer tanto poder para o STF e aí está se apoderando da execução. E também um calendário de execução de emendas", afirmou.
O Congresso planeja para o ano que vem aumentar o valor das emendas para cerca de R$ 50 bilhões, número recorde. O dispositivo serve para que os parlamentares possam enviar dinheiro para suas bases eleitorais, situação desejada para aumentar o capital político.
Com o aumento da verba, o governo pode perder recursos para programas e ministérios. Na reunião, Gleisi afirmou ser contra a proposta e disse que vai tentar derrubá-la.
Gleisi já havia criticado o centrão pela pressão por emendas, cargos e verbas. No dia 27 de outubro, ela afirmou que a ação do grupo tem "interesses políticos insaciáveis" e prejudica o repasse de investimento para ações necessárias do governo.
Ofensiva contra o STF
Gleisi criticou, no dia 7 de novembro, a fala de Arthur Lira sobre querer "subir o sarrafo" de quem pode acionar o STF por meio de ações diretas de inconstitucionalidade, as ADIs.
A deputada afirmou nas redes sociais que a medida contrariaria "a legitimidade e a autonomia dos partidos que a Constituição garante".
Ela atacou mais uma vez o centrão e insinuou que a medida seria um retrocesso "no direito de livre organização e representação, inclusive o direito, importante, de provocar a ação do STF. Não se confunde centrão com Constituição!".
Fim da Justiça Eleitoral
Em setembro, Gleisi defendeu o fim da Justiça Eleitoral durante uma sessão da comissão especial da Câmara que discutia a PEC da Anistia.
Ela criticou o valor de multas aplicadas aos partidos, as verbas entregues ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e aos TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) e disse que tribunais específicos para tratar de eleições são inusuais.
"Um dos únicos lugares que tem Justiça Eleitoral no mundo é no Brasil. O que já é um absurdo. E custa três vezes o que custa o financiamento de campanha para a disputa eleitoral. Tem alguma coisa errada nisso, talvez a gente devesse começar aí para ver o que a gente pode mudar", afirmou.
A fala da deputada gerou a reação de Alexandre de Moraes, atual presidente do TSE. O ministro disse em nota que a instituição vai continuar a combater as "forças que não acreditam no Estado democrático de Direito".
"Lamentavelmente, a própria existência da Justiça Eleitoral foi contestada por presidente de partido político, fruto do total desconhecimento sobre sua importância, estrutura, organização e funcionamento", afirmou Moraes, sem citar Gleisi nominalmente.
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