Primeiro ano de Raquel Lyra tem desgaste na articulação política e acenos a Lula

Governadora de Pernambuco enfrenta entraves na saúde e segurança e série de troca de secretários

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Recife

O primeiro ano de mandato da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), foi marcado por desgaste com deputados estaduais e por acenos ao presidente Lula (PT), mesmo sendo de um partido historicamente adversário ao dele.

Logo no início da gestão, Raquel Lyra desagradou uma parte da Assembleia Legislativa ao montar um secretariado predominantemente com indicações técnicas.

Os deputados esperavam fazer indicações no primeiro escalão do governo de Raquel, que se elegeu contando com apenas três deputados do PSDB.

A movimentação não aconteceu, e ela viu seu colega de partido, Álvaro Porto, ser candidato único à presidência da Assembleia com aval inclusive do PSB, partido que foi para a oposição após 16 anos no poder no estado.

Raquel Lyra com roupa branca e preta sentada em uma cadeira no gabinete da governadora no Palácio do Campo das Princesas
Raquel Lyra, governadora de Pernambuco, durante entrevista à Folha no Palácio do Campo das Princesas - - Hesíodo Góes/Governo de Pernambuco

A preferência de Raquel Lyra era por uma candidatura do PP, que possui oito deputados e faz parte da base do governo. Mas, como viu Álvaro Porto fortalecido, a governadora optou por não intervir na disputa e evitar eventuais represálias.

Isso não foi suficiente para evitar animosidades entre o Executivo e o Legislativo. Neste ano, Raquel Lyra sofreu derrota também na votação de vetos ao projeto de Orçamento de 2024. Outros projetos de interesse do Executivo tiveram aprovação na Casa, mas com alterações.

Os deputados se queixam da ausência de diálogo nas propostas e do envio de projetos às pressas, segundo eles, pelo Executivo, com pouco tempo para apreciação. Além disso, falam em demora na liberação de emendas parlamentares e recursos voltados para as bases eleitorais, sobretudo no interior.

O governo estadual atribui as dificuldades ao presidente da Assembleia. Para o entorno da governadora, Álvaro Porto pode tentar assumir o poder, já que é o segundo na linha sucessória, ao desgastar a governadora e sua vice, Priscila Krause (Cidadania). Já a maioria da Assembleia defende Álvaro, que endossa a tese da independência do Legislativo.

Raquel Lyra também foi derrotada indiretamente na disputa por duas vagas abertas no Tribunal de Contas do Estado. As indicações cabiam formalmente ao Legislativo, mas o Executivo reclama porque historicamente tinha ingerência nas indicações, o que dessa vez não aconteceu.

Em uma das vagas, o presidente da Assembleia emplacou o sobrinho Eduardo Porto para substituir o próprio pai, Carlos Porto. Já na outra cadeira, o deputado estadual Rodrigo Novaes (PSB) foi escolhido, mesmo filiado a um partido de oposição, após acordo firmado antes da eleição para a presidência da Casa.

A Assembleia ainda antecipou a eleição da Mesa Diretora para o biênio 2025/26 e emparedou a governadora, que agora terá Álvaro Porto na chefia do Legislativo estadual durante seus quatro anos de governo. Reeleito, o tucano temia anteriormente que Raquel Lyra lançasse um outro candidato em 2025 e usasse a máquina estadual para angariar apoio.

No campo político-partidário, Raquel Lyra deixou a presidência do PSDB estadual e indicou o empresário Fred Loyo, um dos financiadores da sua campanha de 2022, para sucedê-la, em outra ação que desagradou Álvaro Porto, que tinha interesse em assumir a função.

Aliados acreditam que a governadora poderá deixar o partido e migrar para uma legenda próxima ao presidente Lula. Entre os partidos cotados estão PSD e MDB. Os dois partidos são aliados de Raquel no plano estadual.

A aproximação de Raquel com Lula gera insatisfações em parte do PL, que segue na base aliada da governadora. Segundo relatos nos bastidores, entre os irritados com a tucana estão o ex-ministro do Turismo Gilson Machado, pré-candidato bolsonarista a prefeito do Recife em 2024, e o deputado estadual Alberto Feitosa.

Nas eleições municipais, Raquel Lyra deve apoiar o secretário de Turismo de Pernambuco, Daniel Coelho (Cidadania), na disputa no Recife contra o atual prefeito João Campos (PSB), que tentará a reeleição.

O governo estadual vê João Campos como favorito, mas quer desgastá-lo. O principal objetivo é levar a eleição para o segundo turno e impedir que João Campos ganhe na etapa inicial. A leitura do entorno de Raquel é que, mesmo se for reeleito, ir ao segundo turno já será um revés para o PSB.

Além de Daniel Coelho, Raquel Lyra não descarta apoiar outro candidato no Recife. Um nome afinado com a governadora é o deputado federal Túlio Gadêlha (Rede), mas o entrave está na federação partidária PSOL/Rede, já que o PSOL —opositor de Raquel— lançou a pré-candidatura da deputada estadual Dani Portela.

Mas Raquel não pretende se engajar nas disputas nos municípios.

O próximo ano é tido como crucial para a governadora. Em 2023, o governo avalia que houve arrumação da casa. No próximo ano, a governadora quer imprimir marcas e superar crises que têm desgastado a gestão, como na saúde e na segurança pública.

Para reagir a críticas, Raquel Lyra anunciou, em outubro, uma reforma no Hospital da Restauração, a maior emergência do estado, com valor de referência máximo para contratação de R$ 23,4 milhões.

Na segurança pública, o governo lançou um plano estadual com dois meses de atraso, com meta de redução de 30% das mortes violentas até 2026.

Entre janeiro e outubro de 2023, o estado teve 2.994 mortes violentas, com aumento de 5,4% em relação ao mesmo período do ano anterior.

No primeiro ano de governo, o primeiro escalão de Raquel Lyra teve sete trocas de secretários, incluindo na Segurança. A maioria deles pediu para sair e reclamou de falta de autonomia para exercer as funções.

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