Reforma ministerial no início de 2024 perde força, mas aliados esperam trocas até junho

Apesar de indicação anterior de Lula sobre rearranjo após 12 meses, entorno vê necessidade de mudanças só após março

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Brasília

A expectativa de que o presidente Lula (PT) faça uma ampla reforma ministerial no início de 2024 esfriou, na avaliação de integrantes do governo, do PT e do Congresso Nacional.

Uma ala do Palácio do Planalto ainda espera por uma reformulação do primeiro escalão logo em janeiro, mas ministros próximos ao presidente e aliados que recentemente conversaram com ele sobre o assunto saíram com a impressão de que as trocas não devem ocorrer num prazo tão curto.

Lula havia dito anteriormente a ministros que tem o costume de fazer uma análise do desempenho do governo após o primeiro ano e promover ajustes.

Presidente Lula fala durante lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento
Presidente Lula fala durante lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento - Mauro Pimentel - 11.ago.23/AFP

Flávio Dino, que vai deixar o Ministério da Justiça e ir para o STF (Supremo Tribunal Federal), é peça a ser movida já na largada de 2024. Mas essa seria uma substituição desgarrada da reforma ministerial.

Uma ampla reconfiguração da Esplanada dos Ministérios, então, só se confirmaria depois de março.

O presidente ainda não bateu o martelo. Isso tem gerado leituras conflitantes mesmo entre ministros do Palácio do Planalto, que se dividem entre os que apostam em trocas em janeiro ou fevereiro e aqueles que enxergam uma reforma apenas no segundo trimestre.

Dirigentes petistas também não veem espaço para uma mexida significativa na Esplanada por ora. O partido ocupa a maior parte dos ministérios no governo Lula e deverá ser alvo de trocas no próximo ano —Lula continua questionando o desempenho de correligionários à frente de algumas pastas.

Ministros e aliados dizem que uma ampla reforma deve ser conduzida num momento de real necessidade. Ou seja, quando o governo precisar reorganizar a base política para convencer o Congresso a aprovar medidas impopulares ou de grande interesse do presidente.

Apesar dos percalços ao longo do ano, o governo Lula encerrou 2023 com saldo positivo nas votações na Câmara e no Senado, na avaliação de pessoas próximas ao presidente. Eles citam como exemplo o avanço da agenda econômica do ministro Fernando Haddad (Fazenda) e a aproximação com partidos do centrão (PP, Republicanos e até uma ala do PL).

Por isso, o grupo que vê uma reforma ministerial mais tardia crê que Lula só deve voltar a ter desafios no Congresso a partir do fim de março, seja em projetos ligados à segunda etapa da reforma tributária ou seja em eventuais cortes do Orçamento de 2024.

Haddad convenceu o Palácio do Planalto a manter a meta de zerar o rombo das contas públicas no próximo ano. Mas isso não é consenso dentro do governo. Já existem projeções de que isso vai obrigar o presidente a congelar um alto valor de despesas no fim de março ou a rever a meta, o que depende de aval do Congresso.

Em encontro com ministros em meados deste ano, Lula lembrou que tradicionalmente faz um balanço político da distribuição de ministérios e da base do governo após 12 meses de trabalho. Em 2004, um ano após assumir o primeiro mandato, o petista demitiu seis ministros. Foi a primeira reforma ministerial dele.

Lula classificou aquele momento como "doloroso". Entre os demitidos estava José Graziano (Combate à Fome), um dos mais próximos a ele. A reforma foi necessária para abrir espaço para o PMDB (hoje, MDB), que selou uma aliança duradoura com o PT a partir de então.

Esse histórico sustenta a ideia de uma ala do Planalto de que o presidente manterá a prática logo no início de 2024.

Outros integrantes do entorno de Lula dizem que o contexto político atual é diferente, principalmente diante de um Congresso mais independente do que há 20 anos. Além disso, lembram que o presidente já foi forçado a promover uma dança de cadeiras em setembro que abriu espaço na Esplanada para o PP e o Republicanos.

Na ocasião, o presidente exonerou Ana Moser do Ministério do Esporte e tirou Márcio França do Ministério dos Portos e Aeroportos para dar lugar a André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), respectivamente.

França acabou sendo realocado para um novo ministério, de Micro e Pequenas Empresas. As mudanças ocorreram após exaustiva negociação de integrantes do governo com as direções partidárias. Antes disso, o presidente demitiu Daniela Carneiro do Ministério do Turismo e nomeou Celso Sabino, para atender a um pedido da bancada da União Brasil na Câmara.

Apesar das divergências sobre quando será a próxima reforma, aliados do governo seguem apontando críticas à atuação de ministros petistas, entre eles Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Rui Costa (Casa Civil).

Alvo de fogo amigo, Rui é homem forte de Lula e afirma a aliados que tem cumprido a missão que o presidente lhe deu: assumir o papel de gestão, tocar obras e se blindar de questões políticas.

Uma ala do Planalto considera difícil que Lula mexa no centro da sua cozinha. Mas, caso isso ocorra, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, é apontada como uma provável substituta.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates (PT), também é alvo de críticas.

Auxiliares de Lula apontam ainda que o ministro José Múcio (Defesa) poderia pedir para deixar o cargo no próximo ano. Ele, no entanto, tem dito a pessoas próximas que não tem essa intenção.

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