Ato do MST com ministros de Lula tem desagravo a Genoino e palestinos

Ex-deputado petista defendeu na semana passada o boicote a empresas de judeus pelo Brasil, o que provocou reações

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Guararema

Ministros do governo Lula (PT) fizeram um desagravo a José Genoino, ex-deputado e ex-presidente do PT, em ato político na manhã deste sábado (27) em comemoração aos 40 anos do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

O ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino em evento do MST em Guararema (SP)
O ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino em evento do MST em Guararema (SP) - Zanone Fraissat/Folhapress

Ministro do Trabalho, Luiz Marinho manifestou "homenagem e solidariedade" a Genoino e disse que ele está sofrendo "perseguição" por defender a causa do povo palestino.

Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, também se solidarizou com o ex-deputado e com os palestinos, pedindo o fim da guerra no Oriente Médio. "Aquilo é cruel e vamos protestar de toda forma contra aquela crueldade", disse.

O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, também mencionou o sofrimento dos palestinos em sua fala.

Genoino foi aplaudido de pé pelos militantes quando teve o nome mencionado pela organização do evento. Condenado no mensalão, ele teve a pena extinta pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2015.

A extinção foi possível devido ao chamado indulto natalino, que beneficia réus primários, condenados a penas baixas e que já tenham cumprido parte da pena. O ex-deputado sempre negou ter cometido qualquer crime.

Ato na Escola Nacional Florestan Fernandes em comemoração aos 40 anos do MST
Ato na Escola Nacional Florestan Fernandes em comemoração aos 40 anos do MST - Zanone Fraissat/Folhapress

O ato deste sábado aconteceu na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP). O MST foi fundado em janeiro de 1984, no 1º Encontro Nacional do movimento, em Cascavel (PR).

No último sábado (20), Genoino participou de um programa no YouTube do site de esquerda Diário do Centro do Mundo. Nele, defendeu o boicote a empresas de judeus pelo Brasil quando questionado sobre o apoio dado no início do ano pelo presidente Lula à denúncia apresentada pela África do Sul à Corte Internacional de Justiça por suposto genocídio de Israel na guerra contra o grupo terrorista Hamas.

A fala de Genoino foi repudiada pela Conib (Confederação Israelita do Brasil). "É uma fala antissemita, e o antissemitismo é crime no Brasil", disse a entidade, que pediu moderação ao governo em relação ao conflito. Genoino em seguida repudiou a nota da Conib, negou ser antissemita e afirmou ter obrigação de denunciar o "genocídio do governo de Israel contra o povo palestino."

Neste sábado, líderes do MST manifestaram insatisfação com a lentidão do avanço nos assentamentos de reforma agrária no primeiro ano do terceiro mandato de Lula.

De acordo com dados do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), em 2023 não houve decretos desapropriatórios editados, 51 mil hectares foram incorporados ao programa de reforma agrária, contra 34 mil no último ano de Bolsonaro, e 14 mil novas famílias foram assentadas, o dobro de 2022.

Integrante da coordenação nacional do MST, Jaime Amorim afirmou em entrevista a jornalistas que no último ano o governo não trabalhou com afinco pela reforma agrária. Ele disse que, ainda que tenha havido algumas sinalizações importantes, não houve verba para o tema.

Ele defendeu que o movimento seja reconhecido pelo papel protagonista que teve na última década ao lado do PT —trabalhando pela reeleição de Dilma Rousseff em 2014, opondo-se às reformas do governo de Michel Temer, participando do acampamento em Curitiba durante os meses em que Lula esteve preso e resistindo ao bolsonarismo.

"Se nós fomos importantes [nesse período], queremos também ser importantes no governo. Esse governo é nosso, não é da direita."

Militantes do MST em ato em Guararema
Militantes do MST em ato em Guararema - Zanone Fraissat/Folhapress

Ao longo do evento deste sábado, os ministros de Lula teceram elogios ao movimento e reconheceram a importância dele na defesa de temas caros ao PT.

No ano passado houve rusgas entre o MST e o governo Lula diante da ocupação de uma fazenda da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). O movimento também foi pressionado por uma CPI na Câmara dos Deputados organizada pela oposição.

Líder histórico do MST, João Pedro Stedile também estava sentado na primeira fileira do ato. Em mensagem de fim de ano enviada aos militantes do movimento, ele havia adotado tom conciliador com relação ao governo Lula, mas lamentado o quadro de 2023.

"Em termos de famílias assentadas é o pior ano de todos os 40 anos do MST. Mas nós compreendemos. Faz parte da luta", disse ele na gravação.

O ministro Paulo Teixeira em ato do MST neste sábado em Guararema
O ministro Paulo Teixeira em ato do MST neste sábado em Guararema - Zanone Fraissat/Folhapress

Questionado pela Folha sobre a fala de Stedile, o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) disse que entendia a manifestação, mas ponderou que a pasta não tinha orçamento suficiente para avançar mais a pauta.

"Fazia sete anos que não se assentava uma família. Nós assentamos 11 mil. Eu entendo o que ele está dizendo, ele quer que se desaproprie novas áreas. Mas não tínhamos dinheiro, recebemos o orçamento no ano passado zerado", disse.

"Agora a gente tem algum, daqui para frente vamos assentar quem está vivendo em acampamentos, em áreas de conflito."

Questionado sobre como o governo conseguirá conciliar essa intenção com os interesses do centrão e do agronegócio, Teixeira respondeu que a reforma agrária está prevista na Constituição. "Vamos fazer respeitando a Constituição", disse.

Em sua fala no ato, o ministro afirmou que o governo e o MST vão estabelecer um "clima de crítica mútua" —que o movimento vai criticar a administração petista e que o governo vai criticar o MST quando divergir das estratégias adotadas. Ele disse, ainda, que ambos vão construir um ambiente de parceria para "colocar a reforma agrária para funcionar".

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