Exército exonera de cargos de comando dois militares alvos de operação da PF

Guilherme Marques Almeida e Hélio Ferreira Lima foram alvos de buscas em operação da Polícia Federal

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Brasília

O Exército exonerou de cargos de comando dois militares alvos da operação da Polícia Federal que investiga o planejamento de um golpe de Estado contra a eleição de Lula (PT).

Deixaram as funções o tenente-coronel Guilherme Marques Almeida, comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas do Exército, e o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais.

As exonerações atendem à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de suspender do exercício da função pública os militares investigados pela Polícia Federal no inquérito sobre os planos golpistas.

Policiais federais após cumprirem busca e apreensão na sede do PL durante operação contra alvos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro - Pedro Ladeira - 8.fev.23/Folhapress

Guilherme e Hélio foram alvos de buscas na operação da PF na última quinta-feira (8). Segundo a decisão de Moraes, ambos teriam atuado na "produção, divulgação e amplificação de notícias falsas e de ‘estudos’ quanto à falta de lisura das eleições presidenciais de 2022".

"Bem como sobre supostos registros de votos após o horário oficial, inconsistências no código-fonte, com a finalidade de estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e de instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para a execução de um golpe de Estado", prossegue Moraes.

No caso de Guilherme, a Polícia Federal encontrou conversas entre ele e o tenente-coronel Mauro Cid em que eles repassavam arquivos com material para disseminar informações falsas sobre o sistema eletrônico de votação.

"Acabou para o Lula!", escreveu Guilherme em uma das mensagens, segundo a PF.

"O investigado, ainda, comemora a criação e organização de um site que contemplaria todo o material fraudulento, hospedado em Portugal, afirmando ‘nosso time é bom demais’", disse a Polícia Federal.

Os investigadores suspeitam que Guilherme pode ter atuado na organização e disseminação de notícias falsas sobre fraudes eleitorais na tese levantada pelo argentino Fernando Cerimedo.

Além disso, o tenente-coronel Guilherme Marques atuou em 2022 no Comando de Operações Terrestres como auxiliar do general Estevam Theophilo, também alvo da operação.

Como mostrou a Folha, a Polícia Federal suspeita que o Comando de Operações Terrestres tenha produzido um plano operacional para o golpe de Estado, em ato preparatório para atender à eventual publicação de um decreto golpista de Bolsonaro.

Hélio Ferreira Lima, por outro lado, enviou mensagens para Cid e outros militares "sempre no intuito de buscar suporte às notícias fraudulentas e ampla desinformação sobre inexistentes fraudes no pleito eleitoral para desacreditar as eleições brasileiras".

Uma dessas mensagens encontradas pela PF possuía um documento em inglês que alegava ter identificado vulnerabilidades nas urnas eletrônicas no primeiro turno das eleições de 2022.

O documento, segundo a decisão de Moraes, insinuava a existência de "dois códigos-fonte" nas urnas eletrônicas —mentira que foi espalhada por grupos bolsonaristas apesar de as Forças Armadas terem participado da lacração das urnas eletrônicas, sem apontar fraudes.

Hélio também teria participado de uma reunião com Cid, militares da reserva e da ativa, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) na época em que se discutia o golpe de Estado. O assunto da reunião, porém, não foi identificado pela Polícia Federal.

O Exército informou na segunda-feira (12) que vai esperar o término das investigações da Polícia Federal contra os militares suspeitos de envolvimento na trama golpista no fim do governo Jair Bolsonaro para abrir processos administrativos sobre possíveis transgressões às regras das Forças Armadas.

A mesma estratégia foi adotada em casos anteriores, como o de Mauro Cid. A espera pelos julgamentos no Supremo Tribunal Federal, se for longa, pode criar distorções na carreira dos investigados e possibilitar promoções de suspeitos para altas patentes.

Helio Ferreira Lima e Guilherme Marques se formaram na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) junto com Cid, em 2000. Os três concorrem à promoção para coronel em abril —sendo que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro é um dos cabeças de turma e mais cotados para ser promovido.

"O Exército, enquanto instituição que prima pela legalidade e pela harmonia entre os demais entes da República, vem colaborando com as autoridades policiais nas investigações conduzidas. As providências, quando necessárias, serão tomadas em conformidade com as decisões jurídicas acerca do assunto", disse o Exército, em nota, para justificar a ausência de procedimentos internos para avaliar a conduta dos militares investigados.

A decisão de esperar o desenrolar das investigações e as decisões do Judiciário é justificada, internamente, pela necessidade de entender se as suspeitas levantadas pela Polícia Federal serão confirmadas no término do inquérito.

Segundo generais ouvidos pela Folha, abrir processos internos contra militares alvos de buscas e apreensões sem ter acesso às provas poderia resultar em procedimentos vazios.

Nesta quarta (14), a defesa do coronel Marcelo Câmara, que foi auxiliar de Bolsonaro e é suspeito de ter monitorado a localização de autoridades, pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) que Alexandre de Moraes deixe a relatoria do processo.

Peça assinada pelo próprio Câmara e por seu advogado, Eduardo Kuntz, diz que Moraes é impedido de atuar no processo porque é parte interessada nele, já que uma das autoridades que as investigações apontam que foi monitorada é o próprio ministro.

Por isso, pede que o processo seja redistribuído livremente para magistrados que possam julgá-lo. A solicitação foi encaminhada ao presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso.

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