Deputado bolsonarista recusa convite de Nunes e irrita aliados de Tarcísio

Expectativa era que Tomé Abduch aceitasse ser secretário, o que selaria aliança com prefeito e ajudaria suplente na Alesp

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São Paulo

O deputado estadual bolsonarista Tomé Abduch (Republicanos) recusou o convite do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para a Secretaria de Urbanismo e Licenciamento, indicação que havia sido articulada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Abduch, que foi líder do movimento Nas Ruas, afirma que vai seguir agindo como "um mobilizador", mas sua recusa irritou auxiliares de Tarcísio, que esperavam que o aliado atendesse ao pedido do governador e assumisse a secretaria municipal.

O empresário e ex-líder do NasRuas, Tomé Abduch (Republicanos), deputado estadual, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro, em outubro de 2022 - @tome_abduch no Instagram

"Minha decisão é pelo fato de termos importantes eleições municipais pela frente, vendo como mais assertivo neste importante momento trabalhar para a campanha do candidato escolhido pela direita. Tenho certeza que, nesta posição, vou fazer o meu melhor, que é o contato direto com a população, como sempre o fiz nos últimos dez anos em cima de um caminhão", diz o deputado em nota.

De acordo com interlocutores de Tarcísio, ficou claro que o governador não pode contar com Abduch como um aliado de primeira hora em seu projeto político, que inclui disputar em 2026 a reeleição ou a Presidência. Isso porque o deputado também recusou, no ano passado, assumir a Secretaria de Turismo do governo paulista.

Ainda segundo pessoas do entorno de Tarcísio, agora o posto de vice-líder de governo que Abduch ocupa na Assembleia Legislativa (Alesp) também está ameaçado.

Para chefia a pasta municipal, a tendência é que Nunes escolha um nome técnico, possivelmente alguém que já integre a Secretaria Urbanismo e Licenciamento, já que o titular pediu para se afastar por questões pessoais.

Convidado em janeiro, como revelou a Folha, Abduch resistia em assumir a vaga na gestão Nunes antes que o prefeito tivesse definido seu candidato a vice na disputa pela reeleição, posto que ele também almeja. O nome do deputado foi um dos levantados por Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e levados a Nunes como opção.

A preferência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no entanto, é que o vice seja o coronel da PM Ricardo Mello Araújo. Nunes deve decidir seu vice só a partir de julho.

A migração de Abduch para a gestão Nunes seria simbólica e atenderia aos interesses de Tarcísio. Primeiro, ajudaria a selar a aliança entre o governador e o prefeito na eleição, já que Tarcísio teria um aliado seu no secretariado do emedebista.

Além disso, marcaria a conquista pelo bolsonarismo de espaço na máquina municipal, algo que vem sendo cobrado do prefeito em troca do apoio de Bolsonaro a ele.

Em terceiro lugar, a saída de Abduch da Assembleia ajudaria Tarcísio a resolver um problema —fazer com que o policial federal Danilo Campetti, que é segundo suplente de deputado estadual na bancada do Republicanos, chegasse mais perto do cargo.

Campetti, que trabalhou com Tarcísio no Ministério da Infraestrutura, fez parte da segurança dele na campanha de 2022. A Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo chegou a pedir uma multa a Tarcísio pela participação do agente, mas o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) julgou improcedente a representação.

A recusa de Abduch nos dois convites para o secretariado fez com que a eventual posse de Campetti voltasse à estaca zero. Aliados do policial, que estava afastado pela PF por um processo disciplinar e foi reintegrado no fim do mês, falam em perseguição e retaliação na corporação contra ele, que participou da prisão de Lula (PT).

Outra peça desse xadrez é a primeira suplente do Republicanos, Coronel Helena Reis, que é secretária de Esportes da gestão Tarcísio. Ela pode deixar o posto até abril para concorrer à Prefeitura de São José do Rio Preto (SP) e tem preferência em eventual vaga na Alesp.

Outros deputados estaduais do partido, como Altair Moraes, que atua na área do esporte, já foram cogitados para integrar a gestão estadual, o que também contribuiria para a ida de Campetti à Alesp.

Em sua nota, Abduch diz que se sentiu honrado com o convite, mas que vai engrossar a campanha da direita —sem mencionar o nome de Nunes como o candidato da direita. Como mostrou a Folha, a aliança entre o emedebista e os bolsonaristas tem mais cálculo pragmático de ambos os lados do que afinidade política.

"Após muita reflexão, gostaria de informar que optei por permanecer desempenhando aquilo que entendo ser mais útil para o esforço coletivo: agir como um mobilizador, como é do meu perfil", afirma Abduch.

O deputado, no entanto, menciona Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL e líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), como adversário.

"Neste momento, minha prioridade número um é unir forças e impedir que a cidade de São Paulo corra o risco de cair nas mãos de Boulos e a turma radical que o rodeia. Assim, serei mais útil nas ruas, nos palanques, nas praças, junto com nossa gente, fazendo campanha para que a cidade de São Paulo não seja invadida por aqueles que sempre estiveram contra a nossa capital", completa.

Abduch costuma dizer que gosta do trabalho na Assembleia e que está aprendendo bastante em seu primeiro mandato. Ele teve 221.656 votos, o sexto mais votado entre 94 eleitos.

Empresário, Abduch é formado em engenharia civil. O Nas Ruas foi um dos movimentos que cresceram a partir da organização de manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT).

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