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Mulher de Crivella quer fazer trabalho social e já comparou gays a 'terríveis ondas'

Marcelo Carnaval/Agência O Globo
A futura primeira-dama do Rio de Janeiro, Sylvia Jane, ao lado do prefeito eleito, Marcelo Crivella
A futura primeira-dama do Rio de Janeiro, Sylvia Jane, ao lado do prefeito eleito, Marcelo Crivella

Faltava uma semana para o segundo turno da eleição no Rio e Sylvia Jane Hodge Crivella, 58, mulher do senador e prefeito eleito do Rio, Marcello Crivella (PRB), falava como primeira-dama.

Ela respondia a perguntas de ouvintes de seu programa de rádio "Elas por Elas", que vai ao ar às segundas-feiras na Record AM, e contava que tem projeto de apoio a menores de rua na cidade.

Seu objetivo seria fazer no Rio uma versão da Fazenda Nova Canaã, projeto da Igreja Universal na cidade de Irecê, no sertão baiano, fundado em 2000.

Crivella, bispo licenciado e sobrinho do fundador da Universal, Edir Macedo, foi responsável pelo projeto de irrigação de 480 hectares de terra, onde funciona fazenda, posto de saúde e escola.

Sylvia acompanhou o marido na Bahia, mas no Rio pretende focar as crianças de rua, grupo com o o qual nunca atuou. Evangélica, ela diz que as crianças são "um projeto de Deus".

"As pessoas procuram não olhar [para as crianças de rua] porque aquilo incomoda, mas no momento em que você dá atenção, o semblante delas muda", disse Sylvia no programa. "O meu sonho, e não é muito distante, eu posso te garantir, é fazer uma Fazenda Canaã no Rio."

A futura primeira-dama revelava o que pessoas próximas disseram à Folha será sua atuação na prefeitura. Ela não aceitou o pedido de entrevista da reportagem.

Os projetos de Sylvia e Crivella sempre andaram lado a lado, desde que se casaram, há 36 anos. A religião e mais recentemente a política sempre estiveram atreladas às empreitadas do casal.

Na campanha, Sylvia articulou apoio da classe alta do Rio, organizando jantares na zona sul e na Barra da Tijuca.

"A história dele é a mesma dela. Ela sempre acompanhou a vida política dele", diz a amiga Eliane Ovalle, coautora de dois livros com Sylvia.

Uma de suas principais apoiadoras foi Yvonne Bezerra de Mello, que ficou conhecida pelo trabalho com as crianças que viviam na Candelária na época da chacina, em 1993. "Pelo seu histórico, tenho certeza que terá uma atuação forte na área social, educacional", diz Mello.

O trabalho mais conhecido de Sylvia é na ONG "Mulher que Faz", que ajudou a fundar em 2007, de aconselhamento a jovens mães e gestantes em comunidades carentes atendidas pelo projeto Cimento Social, criado no mesmo ano por Crivella.

Tocado com recursos federais, o projeto do então senador previa reforma de casas no Morro da Providência, centro do Rio, mas houve polêmica porque a lista inicial de beneficiários foi elaborada pela Igreja Universal.

Nos anos 1990, o casal foi sócio na afiliada da TV Record em Franca (SP). Em 2004, o senador e integrantes da Universal foram investigados em processo que apurava o uso de laranjas na compra de empresas de radiodifusão pela igreja, que não resultou em condenação.

Na época, Crivella, que disputava pela primeira vez a Prefeitura do Rio, disse que tinha vendido sua participação na emissora "há anos".

A assessoria de imprensa atual de Crivella disse que a venda ocorreu em 15 de junho de 1999. Documentos arquivados no site da Câmara dos Deputados, em razão da renovação da concessão do serviço da emissora, em 2012, mostram que Crivella e Sylvia adquiriram em 1994 a totalidade das ações da afiliada.

Eles são referidos como acionistas em atas de 1996 a 2005, quando o capital social mudou de mãos.

Segundo reportagem de 2014 da revista "Veja", Sylvia é proprietária de dois imóveis em Orlando (EUA) —um apartamento e uma casa, que também tem a filha mais velha como proprietária. Juntos, valeriam US$ 500 mil.

Segundo sua assessoria, Sylvia é "empresária e escritora, portanto tem fonte de recursos própria".

Em nota, afirmou que o apartamento foi declarado no imposto de renda e obedeceu a "todos os trâmites legais".

Sylvia é escritora de livros de autoajuda: tem quatro títulos publicados, dois deles em coautoria com a psicóloga e amiga Eliane Ovalle. O de maior sucesso é "O Desafio de Criar os Filhos", publicado em 2014. Nas obras, Sylvia, que é formada em Letras pela PUC-Rio, dá dicas conhecidas de especialistas no assunto, pontuadas por trechos e provérbios bíblicos.

OPINIÕES

Sylvia expõe no livro sua opinião sobre gays, divorciados e viciados em drogas. Tal qual um tsunami, esses comportamentos são, escreve, "ondas terríveis" e que famílias deveriam resistir para ver "raiar um novo dia".

"Quantas famílias não foram ou estão sendo atacadas por terríveis 'ondas'? Filhos casados que se separam; que se tornam homossexuais; que se voltam para os vícios e que até atentam contra a própria vida."

A assessoria de Crivella diz que "o objetivo da obra é descrever o desafio que as mães encontram para criar seus filhos e a importância da fé em momentos de tribulações".

"Trechos retirados fora do contexto não traduzem o real propósito do livro", afirma.

Em seu programa de rádio, Sylvia defendeu o papel da mulher na relação matrimonial. "Muitas pessoas confundem o significado da palavra submissão achando que quer dizer estar aos pés, abaixo, como se fosse um capacho. Submissão, na verdade, é 'sob a mesma missão'", explicou ela.

No dicionário Houaiss, contudo, o verbete de "submissão" diz: "condição em que se é obrigado a obedecer; sujeição, subordinação".

Ela diz acreditar que a mulher tem um papel importante ao cuidar dos filhos e da casa e dar suporte para o homem ser o "capitão do barco", mas também registra que "Deus nunca quis fazer a mulher ser inferior".

Sylvia é nascida e criada no Leblon, zona sul, neta de missionários ingleses. O "Jane" de seu nome é pronunciado na forma inglesa.

O casal, que tem três filhos e dois netos, contou como se conheceu no programa "The Love School" (a escola do amor, em inglês), da Record.

Crivella era um surfista de 17 anos quando conheceu Sylvia. "Um surfista, todo torneado", descreve ela, que era alta para a sua idade, com o rosto marcado por espinhas. "Eu não me achava à altura dele."

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