Investimento na atenção primária, integração de serviços estaduais e municipais, saúde digital e desenvolvimento tecnológico foram os principais temas discutidos durante seminário promovido pela Folha na última terça-feira (20) com os representantes dos três candidatos ao Governo de São Paulo mais bem colocados nas pesquisas.
Com patrocínio do Sindhosp (Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo) e da Janssen, o evento reuniu as campanhas de Fernando Haddad (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Rodrigo Garcia (PSDB) para apresentar propostas para melhorar a gestão da saúde. A mediação foi de Cláudia Collucci, repórter especial da Folha.
No primeiro semestre deste ano, cerca de 538 mil pacientes aguardavam cirurgias eletivas na rede estadual, segundo a Secretaria da Saúde de São Paulo, cenário agravado pelo represamento de procedimentos durante a pandemia.
Para reduzir as filas e ampliar o acesso, Haddad pretende unir os serviços estaduais à atenção primária dos municípios e expandir para todo o estado a Rede Hora Certa, composta por hospitais que concentram a oferta de especialistas, exames e cirurgias simples, diz o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, representante petista.
O projeto foi implementado por Haddad na capital paulista durante o período em que foi prefeito (2013-2016).
Assista ao debate completo:
"Enfrentar o desafio do acesso e reduzir o tempo de espera exige a ampliação e o fortalecimento da atenção primária e a integração com as redes assistenciais especializadas. Não se faz isso sem a Secretaria estadual de Saúde coordenando o processo".
Para David Uip, secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento de São Paulo e representante tucano, as funções da Rede Hora Certa se equiparam ao papel dos 62 AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades) já existentes no estado, que também são responsáveis por oferecer acesso a especialistas, exames e, no caso do AME Mais, pequenas cirurgias. O plano de Garcia é ter mais AMEs voltados a pacientes oncológicos, mulheres e idosos.
"O AME é o maior exemplo de Hospital Dia, porque dá retaguarda à atenção primária, oferece especialidades e antecede a internação. No AME Mais, são feitos procedimentos cirúrgicos e diagnósticos invasivos que não necessitam de pernoite", afirma Uip.
Padilha discorda de Uip e afirma que o sistema estadual é fragmentado, pois não dialoga com os municipais, dos hospitais universitários e das Santas Casas. Segundo o ex-ministro e deputado federal candidato à reeleição, a integração desses atendimentos otimizaria recursos e poderia ocorrer com a adoção da saúde digital.
A proposta de Tarcísio é que, por meio da telessaúde, a atenção primária reduza a sobrecarga na média e alta complexidades e nas urgências e emergências, afirma Eleuses Paiva, ex-presidente da AMB (Associação Médica Brasileira) e representante do ex-ministro da Infraestrutura do governo Jair Bolsonaro (PL).
A atenção primária é do município, mas impacta no estado se não é resolutiva. A parceria entre estado e municípios para informatizar e implementar saúde digital é necessária
Como Padilha, ele vê a integração com a atenção primária como alternativa para melhorar o acesso e fazer com que os pacientes sejam atendidos em tempo adequado. Em atuação conjunta com o governo federal, Tarcísio quer rever tabelas de remuneração.
"As filantrópicas estão próximas da falência. Se não atuarmos nos próximos meses, podemos ter um colapso no atendimento", diz.
Questionadas sobre o financiamento da saúde, as campanhas de Haddad e Tarcísio se comprometeram a investir ao menos 12% da receita, como determina a lei, e, eventualmente, aumentar esse índice, sem citar números exatos.
Uip ressalta que o estado arca com a maior parte dos quase R$ 30 bilhões de orçamento que São Paulo destina à área, já que só R$ 6 bilhões vêm da União. O secretário diz que, para aumentar a qualidade e a produtividade do sistema e contornar a defasagem da tabela SUS, o atual governador, se reeleito, quer firmar mais contratos com organizações sociais de saúde.
São Paulo auxilia as Santas Casas porque o dinheiro do governo federal leva as instituições à falência. O maior problema de hospitais com leitos fechados no Brasil é a falta de financiamento
Recorrer a parcerias público-privadas é um ponto em comum nas campanhas para o desenvolvimento tecnológico e inovação. Segundo Uip, isso já ocorre quando indústrias nacionais e internacionais se juntam ao Instituto Butantan para transferir tecnologias de produção de vacinas e drogas.
Montar um complexo econômico e industrial está entre os planos, diz Padilha, para aumentar a capacidade de produção de medicamentos, diminuir a dependência de insumos externos e incentivar a permanência de indústrias.
O SUS não é sustentável se não aumentarmos a capacidade de produzir medicamentos e tecnologias. São Paulo pode fazer isso por ter força na indústria, seja de origem nacional, seja de parceiros internacionais
Na mesma linha, Paiva afirma que haveria incentivo ao desenvolvimento tecnológico ao estabelecer parcerias com o setor privado e com o governo federal para financiar universidades, centros de pesquisa e indústrias.
Citada como peça-chave pelas três campanhas para melhorar o acesso, a saúde digital seria implementada com ações entre secretarias e parcerias público-privadas para logística, por exemplo, em um eventual governo petista. Para Padilha, a rede de São Paulo pode estar totalmente conectada em quatro anos.
Já numa gestão de Tarcísio, a telessaúde seria usada para aumentar a eficiência dos serviços de regiões distantes, com acesso a especialidades.
Para Uip, a saúde digital oferece a possibilidade de uma segunda opinião diante de um quadro clínico e é um meio de qualificação do profissional que atende o paciente nos municípios. Ele diz que a digitalização já é uma preocupação da gestão de Rodrigo.
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