Na onda do 'quiet quitting', veja dicas para conciliar trabalho e vida pessoal

Competitividade acirrada e cobrança por resultados pode levar ao esgotamento profissional

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São Paulo

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Como equilibrar o trabalho e a vida pessoal?

Imagina ter que conciliar uma rotina de trabalho de oito horas e estudos na faculdade no período da noite? Esse era o dia a dia do Fábio Aguiar, 26, estudante de psicologia. Como não tinha tempo, ele se alimentava mal e estava sempre cansado. O resultado? Desenvolveu uma doença de pele por conta da alta carga de estresse.

Outro cenário é de um jovem de 24 anos que chegou a desenvolver a síndrome de burnout (distúrbio psicológico caracterizado pelo estresse emocional provocado pelas condições desgastantes de trabalho) devido a fatores como acúmulo de funções e altas cobranças no ambiente profissional.

Autoconhecimento pode ser a chave para encontrar um trabalho alinhado ao seu perfil - peopleimages.com/Adobe Stock

↪ Ao sair desse emprego, o jovem, que pediu para não ser identificado, se deparou com outro trabalho que tinha o que chama de "cultura workaholic" —profissionais viciados em trabalhar ou que trabalham compulsivamente.

Por qual motivo trago esses relatos? Para mostrar realidades de jovens que desenvolveram problemas de saúde mental por conta do trabalho.

Quais são os ingredientes disso? Segundo Sergio Guimarães, psicólogo e professor universitário na área de saúde mental no trabalho, uma combinação de fatores pode levar ao adoecimento, como a competitividade acirrada, a cobrança intensa de resultados do profissional e falta de espaço para que o trabalhador compartilhe seu sofrimento no trabalho.

E não é de agora. Guimarães traça um paralelo de como as formas de sofrimento mental do trabalhador são semelhantes ao momento em que os jovens prestam vestibular. É preciso ter certeza da carreira, não demonstrar insegurança e, muitas vezes, as pessoas não conseguem compartilhar o que estão sentindo com familiares. Em ambos os cenários, a dúvida e a incerteza se fazem presentes, mas não encontram espaço para diálogo e reflexão.

Então, como conciliar trabalho e vida pessoal?

  • Autoconhecimento. Quando você se conhece, sabe quais são seus limites, entende como funciona o seu perfil comportamental e acaba buscando empresas que estão alinhadas com isso. Assim, é mais provável que consiga trabalhar bem, aconselha Emanuella Velez, psicóloga e consultora organizacional e mentora de carreiras.
  • Encontre a carreira que você goste. Para Guimarães, quando não há desejo, o trabalho vira obrigação, por isso busque empregos que estejam vinculados às suas vontades.
  • Compartilhe suas dúvidas e inquietações, seja com familiares, amigos ou os próprios colegas de trabalho. Assim, você reflete e pode encontrar novos caminhos.
  • Separe um horário para descanso. O ócio pode ser muito produtivo, a mente precisa de espaço para trabalhar e criar, explica Guimarães.

E como as empresas podem ajudar a mudar esse cenário?

  • É preciso equilíbrio entre a equipe de recursos humanos e os gestores para entenderem que o mundo do trabalho mudou. Para Velez, a comunicação é chave para haver essa harmonia.
  • Mudança de mentalidade. Alguns líderes veem essa situação e pensam 'na minha época não era assim' ou 'esse pessoal está muito exigente'.
    • Por isso, a importância do RH em dar apoio a essa liderança. Assim, é possível abrir canais de comunicação para se aproximar dos colaboradores e proporcionar um ambiente positivo e de segurança emocional para que o profissional possa dividir seus anseios, diz Diogo Forghieri, diretor na área de soluções e atração de talentos na Randstad Brasil, empresa de soluções de recursos humanos

↪ "A saúde mental impacta diretamente na produtividade, os talentos mais felizes são mais produtivos. É importante preparar as lideranças para administrar as metas e objetivos da companhia combinando com uma maneira mais empática", afirma Forghieri

Tem companhia que já notou isso. A Corteva Agriscience, multinacional de produtos químicos agrícolas e sementes, por exemplo, disponibiliza um programa de apoio para os candidatos selecionados para estágios. A iniciativa tem apoio psicológico, suporte jurídico e financeiro, além de reuniões internas de conscientização sobre saúde e bem-estar.

↪ "[O programa] tem o intuito de prevenir e restabelecer o bem-estar emocional e social dos funcionários e família, reconhecendo que as preocupações de sua família também podem afetá-lo", diz Claudia Pohlmann, diretora de recursos humanos da Corteva Agriscience na América Latina.

Onde buscar ajuda profissional?

Rede de Atenção Psicossocial
Mapa mostra as unidades da rede habilitada pelo Ministério da Saúde até set.2020

Mapa Saúde Mental
Site reúne diversos tipos de atendimento: www.mapasaudemental.com.br

CVV (Centro de Valorização da Vida)
Voluntários atendem ligações gratuitas 24 horas por dia no número 188: www.cvv.org.br

Movimentos que surgiram diante desse cenário:

"The Great Resignation" (a grande renúncia)

O fenômeno que começou nos EUA chegou ao Brasil e significa demissão voluntária. Já tem dados sobre:

Levantamento da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), a partir dos dados do Caged, mostra que, entre os meses de janeiro e maio deste ano, 2,9 milhões de trabalhadores brasileiros pediram para sair do trabalho. É o maior índice da série histórica iniciada em 2005.

Quiet quitting (demissão silenciosa)

O intuito do movimento é colocar limites entre a vida pessoal e o trabalho. Apesar de levar o nome de demissão, os adeptos não querem ser dispensados, mas desejam cumprir apenas o combinado, como não trabalhar aos finais de semana ou assumir horas extras. A ideia é não resumir sua vida apenas ao emprego.

Para Velez, após tantos casos de burnout é preciso ter cuidado com a vida pessoal, e essa geração de jovens defende a necessidade de cumprir apenas o que está na descrição do trabalho.

Importante: segundo Guimarães, não é possível generalizar esses movimentos como algo que todos podem ser adeptos, até porque não são todos os profissionais que podem pedir demissão do emprego ou fazer apenas o mínimo.

#QuitMyJob (me demito)

Essa tendência viralizou no TikTok e, nela, jovens postavam pedidos de demissão. O movimento ganhou força após a norte-americana Shana Blackwell publicar um vídeo em 2020, na época com 19 anos, anunciando que estava se desligando da filial do Walmart em que trabalhava.

↪ "Danem-se os gerentes, dane-se a empresa! Eu me demito, caramba!", disse Blackwell, que alega ter sofrido assédio moral dentro da companhia.


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Emanuella - news carreiras
Emanuella Velez, psicóloga e consultora organizacional e mentora de carreiras - Arquivo pessoal

Como falar sobre saúde mental com o seu chefe?

"Sabemos que algumas pessoas se cobram além da conta e ficam receosas sobre como abordar esse assunto com o chefe. Por isso, separei algumas dicas que podem ajudar:

1. O primeiro passo é não se julgar. Algumas pessoas têm medo de falar sobre saúde mental porque, infelizmente, a sociedade ainda estigmatiza esse aspecto. É importante não esquecermos que somos seres humanos e qualquer um está suscetível a desenvolver um transtorno. O movimento tem que ser interno, é preciso quebrar o tabu que existe primeiramente em nós para, então, poder desmistificar alguns preconceitos;

2. Outro ponto importante é avaliar o que realmente tem impactado de forma negativa a rotina de trabalho. Entender se foi alguma situação em específico que gerou desânimo, como discussão com um colega de trabalho, ou se é algo mais sério que tem impacto para além do emprego e prejudica os demais campos da vida. Se for a segunda opção, procure ajuda imediatamente;

3. Após um diagnóstico, é importante avaliar a cultura organizacional. Quem é esse chefe? As lideranças são abertas e trabalham o acolhimento? A empresa lida bem com essas situações voltadas para o emocional? Se a resposta for sim, seja transparente e comunique, pois esse diálogo pode ajudar a aliviar a carga de autocobrança, além de contribuir para que ações estratégicas e de apoio possam ser desenvolvidas em conjunto;

4. Procure colegas no trabalho nos quais você confie. Geralmente, se desenvolve alguns vínculos de amizade no emprego, então, buscar apoio dessas pessoas pode ser um passo importante para depois informar o problema ao gestor;

5. Autoconhecimento e transparência são importantes, mas, para que os colaboradores se sintam à vontade para falar sobre o assunto, é necessário que a empresa e os próprios gestores estejam abertos e atuem de forma acolhedora. É preciso que os profissionais que estão em posição de liderança também demonstrem as suas fragilidades. Não é porque alguém está numa posição de liderança que se é o super-homem. Empresas que investem em saúde mental têm maiores retornos e resultados financeiros melhores".


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Como as mulheres estão sendo vistas nas eleições 2022? Segue o fio.

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