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Gerontologia, recente no país, mira envelhecimento saudável

Área, que carece de regulação, estuda aspectos social e psicológico de idosos

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Fernanda Ravagnani
São Paulo

O profissional gerontólogo é aquele que estuda o envelhecimento não só pelo ponto de vista de saúde, como fazem os médicos geriatras, mas também sob os aspectos social e psicológico, para então propor, implementar e gerenciar programas que atendam a idosos nas esferas pública e privada.

"Os formandos trabalham, por exemplo, em instituições de longa permanência para o idoso (ILPIs). Há outros em planos de saúde e há ex-alunos que fundaram empresas, para planejar toda a gestão de cuidados e fornecer cuidadores", explica a professora Mônica Sanches Yassuda, uma das fundadoras do primeiro curso de graduação de gerontologia no país, na USP.

O curso foi criado em 2005, no então novo campus da zona leste, a Escola de Artes e Ciências Humanas (EACH-USP). "Quando houve a requisição de expansão, a USP se debruçou sobre grandes desafios da sociedade e o fato de não termos recursos humanos com qualificação suficiente para lidar com o envelhecimento era um deles", explica ela.

Thais é uma mulher branca de cabelos pretos e lisos, ela veste uma camisa preta e branca e uma calça preta; ela aparece sentada no centro, em meio há um grupo de idosos; sentadas, ao lado de Thais, estão oito mulheres idosas; de pé, atrás desse grupo, há quatorze idosos, sendo treze mulheres e um homem
A gerontóloga Thais Silva (ao centro) com idosos da Fundação Cesp, na zona sul de São Paulo - Jardiel Carvalho/ Folhapress

A gerontóloga Thais Bento Lima da Silva, formada no curso em 2009, é um exemplo da diversidade de áreas de atuação. Ela trabalha com grupos de idosos em associações e núcleos de convivência, com ações de estimulação cognitiva, de forma presencial e também virtual, como no projeto USP 60+, junto com monitores que ainda estão na graduação.

"Também dei treinamento e suporte para cuidadores de pessoas com demência e para instituições como o Sesc e a Prefeitura de São Paulo, levando atualizações e técnicas para pessoas que trabalham com idosos", afirma ela.

Além da USP, a UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) é a outra única instituição pública que oferece a graduação em gerontologia.

Ambas são presenciais, com duração de quatro anos e forte vocação para pesquisa. A própria Thais, depois de fazer mestrado e doutorado, passou a dar aulas na USP.

Com a população brasileira ficando mais velha, a gerontologia, que trata tanto da gestão do envelhecimento saudável quanto do envelhecimento fragilizado, é vista como uma das profissões do futuro.

Mas ainda está envolta em uma confusão regulatória. A atividade não está regulamentada, o que acaba afugentando os vestibulandos e restringindo seu campo de atuação no SUS.

Existem alguns cursos de pós-graduação em gerontologia, que podem ser feitos por profissionais oriundos de outras áreas do conhecimento, como psicólogos, fisioterapeutas e enfermeiros.

Há uma certificação de especialista em gerontologia emitida pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).

Desde 2018, também surgiu uma enxurrada de cursos privados na modalidade a distância, que formam milhares de tecnólogos em gerontologia.

São mais de 20 mil vagas por ano em programas desse tipo de tecnólogo em gerontologia, em contraste com as cem disponíveis anualmente considerando as graduações da USP e da UFSCar.

A maioria das formações de tecnólogo tem dois anos de duração e é feita totalmente a distância, com aulas pré-gravadas que o aluno acompanha na velocidade que quiser, e com pouca interação com professores ou atividades práticas.

Se por um lado há carência no país de profissionais especializados no envelhecimento, por outro há preocupação com a qualidade desse tipo de formação.

Algumas instituições chegam a oferecer mais de 5.000 vagas por ano de tecnólogo em gerontologia, de acordo com o cadastro nacional do MEC (Ministério da Educação), e praticamente nenhum curso passou por alguma avaliação oficial.

Já a procura para os cursos públicos de bacharelado em gerontologia da USP e da UFSCar está entre as mais baixas dos vestibulares.

Os motivos são a falta de regulamentação da atividade e a perspectiva incerta de salário de uma profissão nova. E o preconceito, principalmente por parte dos jovens.

"Ainda temos uma sociedade idadista", afirma a gerontóloga Thais Lima da Silva.

"Existe uma dificuldade das pessoas em trabalhar com o fim da vida e o envelhecimento", diz a professora Mônica Yassuda.

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