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MBAs querem ensinar práticas sociais responsáveis para atender políticas ESG

Programas oferecem bolsas, adotam autores não brancos e mulheres e miram corpo docente mais plural

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Luciana Alvarez
Lisboa

Para atender o aspecto social das políticas ESG, sigla em inglês para as práticas empresariais responsáveis com questões ambientais, sociais e de governança, cursos de MBA agora preparam seus alunos para criar ambientes mais diversos e inclusivos.

Os movimentos de conscientização de executivos e empresários sobre o tema têm ganhado força.
No MBA executivo da Fundação Dom Cabral, desde 2016 há dois "tópicos emergentes" (componentes curriculares menores que uma disciplina tradicional) sobre os temas. Um deles trata de diversidade; o outro, de liderança feminina. Em 2023, ambos se tornarão disciplinas. O curso tem duração de um ano e meio e custa R$ 132 mil em São Paulo.

Foto de Luís Felipe Braga, 39 , empresário, na Fundação Dom Cabral. Ele acabou o MBA Executivo da Fundação Dom Cabral em março.
Foto de Luís Felipe Braga, 39 , empresário, na Fundação Dom Cabral. Ele acabou o MBA Executivo da Fundação Dom Cabral em março. - Alexandre Rezende/Folhapress


Além dos tópicos em si, a instituição fez no ano passado uma revisão da bibliografia de todo o curso para incluir mais autores não brancos e mulheres, assim como indicar casos de estudos que incluam esses grupos.

"Isso faz diferença na representatividade. Todas as pessoas se veem como parte da comunidade que promove o conhecimento", afirma Marina Portela, gerente do MBA.

A escola tem também metas para os próximos anos, de forma que corpo docente e discente sejam mais diversos. "Nós e os alunos estamos trabalhando conjuntamente nossa performance e o progresso na sociedade."

O empresário Luís Felipe Braga, 39, que trabalha com auditoria e governança, acabou o curso em março. Ele acredita ter tido uma atualização importante e aprendido a agir com empatia, o que ajuda a promover a diversidade e a inclusão.

"O curso fez toda uma trilha que passa por liderança, transformação e acaba com a pauta do progresso, algo que está ligado ao tema da diversidade. Foi transformador", conta Braga. Ainda durante o curso, ele afirma ter mudado sua relação com clientes, funcionários e até mesmo com sua filha. "Consegui rever alguns valores e atitudes. Sem empatia, sem perceber a necessidade do outro, não dá para fazer transformações."


Dentro de sala de aula os professores ainda enfrentam certa resistência, sobretudo em cursos menos ligados aos temas de RH e liderança, conta Heliani Berlato, coordenadora acadêmica do MBA em gestão de pessoas da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz).

"Muitas pessoas ainda questionam o porquê de olhar para isso. Cabe a nós mostrar a importância de lidar bem com o nosso capital humano e as vantagens de se promover políticas de inclusão", afirma Berlato. O curso dura um ano e meio e custa R$ 10,7 mil, na modalidade EAD.

Ao reconhecer seu próprio papel em combater as desigualdades, a instituição passou a oferecer um programa de bolsas de estudo para seus 12 MBAs, com critérios como o socioeconômico, destinado a candidatos com renda familiar bruta de até 2,5 salários mínimos por pessoa, ou mesmo de idade, com descontos para alunos com mais de 60 anos.

No Ibmec, a diversidade estava incluída de forma transversal no currículo do MBA em gestão de pessoas desde sua concepção. A partir de 2022, passou a constar na carga horária de todos os programas, em um módulo chamado gestão da disrupção. O curso dura um ano e custa R$ 39,3 mil em São Paulo.

"São quatro disciplinas diferentes que olham para o futuro. A gente quer preparar o executivo para o mercado daqui a 10, 15 anos. Diversidade não é um tema passageiro, é uma mudança do ponto de vista da sociedade", explica o coordenador Cristiano Corrêa.


Ainda que seja mais relevante para quem trabalha com RH, Corrêa defende que a visão de inclusão deve ser compartilhada por todos. As empresas, segundo ele, vão todas precisar se adaptar, até para conseguir reter seus talentos.

Mais do que apenas abordar o tema, os MBAs têm a responsabilidade de dar informações confiáveis, com base em pesquisas, diz Tania Casado, professora da FIA Business School, onde coordena cursos de diversidade. "Pesquiso e oriento pesquisas sobre diversidade desde o ano 2000. Hoje parece que todo mundo fala sobre diversidade, mas tem muita gente que fala sem propriedade", afirma.

Para além de um olhar especial para as mulheres, negros, e pessoas LGBTQIA+, diz, começa-se no momento a falar de outros tipos de diversidade, como a etária, a religiosa e de pessoas neurodivergentes, como as do espectro autista.

"A inclusão dos neurodivergentes é uma das mais complexas, porque é algo que não está à mostra. As pessoas não conseguem identificar e tomam certos comportamentos como desrespeitosos", explica.
Além de aulas específicas em vários dos programas, a FIA tem um curso de curta duração sobre diversidade e deve lançar um programa de 360 horas focado no tema.

Casado se esforça para conscientizar colegas e deixar a abordagem no radar. "Uma instituição não pode resolver o problema com um curso. A questão deve estar posta em todos os conteúdos."

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