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Maria Beatriz Martins Linhares

A internet é a principal responsável por problemas de saúde mental em crianças e adolescentes? NÃO

Uso em excesso é fator de risco, mas adoecimento depende de múltiplos fatores

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Maria Beatriz Martins Linhares

Especialista em psicologia clínica infantil e professora da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP)

O uso da internet não pode ser considerado a principal explicação para os problemas de saúde mental de crianças e adolescentes, na medida em que não se caracteriza como uma causa necessária e suficiente.

Se assim fosse, os problemas deveriam, inevitavelmente, ocorrer na presença da utilização dessa tecnologia e não poderiam ocorrer na sua ausência. Não é o caso.

Estudantes utilizam a internet durante aula no Centro Educacional Pioneiro, em São Paulo
Estudantes utilizam a internet durante aula no Centro Educacional Pioneiro, em São Paulo - Keiny Andrade/Folhapress


Comprovadamente, o adoecimento depende da interação entre múltiplos fatores. O uso excessivo da tecnologia é um fator de risco para problemas de sono, memória, atenção e concentração, assim como sintomas de ansiedade e depressão.

Ao considerar a internet a causa principal, corre-se o risco de não se realizar a adequada identificação, prevenção e tratamento desses problemas, os quais vêm aumentando nos últimos anos, especialmente após a pandemia.

A saúde mental desse grupo precisa ser devidamente incorporada nos investimentos na área da saúde pública, envolvendo ações nos diferentes níveis de atenção.


Uma das estratégias de prevenção consiste em oferecer suporte profissional aos pais para ajudar a reconhecer, manejar e aprender com as dificuldades emocionais dos filhos, assim como identificar os sinais de alterações de comportamento que requerem intervenção imediata.

Afinal, como pais e educadores podem contribuir para o uso adequado da rede?

Além de publicações científicas e recomendações de entidades, vale destacar pontos relevantes. Os responsáveis precisam supervisionar, monitorar e regular o uso da internet; manter diálogo, estimulando a troca de ideias, o senso reflexivo e o pensamento crítico; educar os jovens, conversando sobre os impactos positivos ou negativos das redes; proporcionar interações face a face e estimular atividades offline.

Finalmente, é preciso ressaltar que a internet não significa apenas um fator de risco ao desenvolvimento, mas pode também ser uma ferramenta útil com benefícios inegáveis. A rede pode fazer parte das soluções dos problemas, na medida em que seja utilizada para atingir a promoção do desenvolvimento saudável e adaptativo.

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