Úbeda, na Espanha, tem turismo em torno da produção de azeites

Programações na Andaluzia trazem detalhes do cultivo da azeitona, além da história e cultura na região

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Úbeda (Espanha)

No rastro do enoturismo, surgiu um novo tipo de viagem: o oleoturismo ou o turismo em torno da produção de azeites. Um número crescente de viajantes se mostra interessado não apenas em provar diferentes marcas e tipos de azeite de oliva, mas também em conhecer detalhes do cultivo da azeitona e da história e da cultura do azeite.

À diferença do que acontece com turismo do vinho, existe um destino que pode ser chamado de capital mundial do azeite de oliva. Meca do oleoturismo, Úbeda fica na província de Jaén, na Andaluzia, Espanha. É uma cidade histórica lindíssima, com uma arquitetura renascentista de influência moura.

Quem vai de Madri à Andaluzia de carro logo percebe a paisagem ganhando tons verdes acinzentados. A cada quilômetro, essa tonalidade se torna mais presente até tomar toda a cena. Quando se chega a Úbeda, não há mais nenhum outro tipo de plantação ao lado da estrada, só oliveiras.

 Vista do cultivo de azeitonas a partir da Muralha de Úbeda
Vista do cultivo de azeitonas a partir da Muralha de Úbeda - Marcelo Gongora/Divulgação

A Espanha é de longe o maior produtor de azeite do mundo. Na foto do satélite do Google Maps, à distância, mais da metade do país parece um deserto. É cor de areia, semelhante ao Saara. Porém, quando damos um zoom, reparamos que a areia é pontilhada de verde. São oliveiras.

Na colheita de 2022/2023, mesmo com a enorme quebra de safra causada por fatores climáticos, segundo o IOC (International Olive Council), o país produziu 665 mil toneladas de azeite enquanto o segundo colocado, a Turquia, produziu 380 mil toneladas. Numa safra normal, a Espanha produz mais do que o dobro.

Úbeda, por sua vez, é o maior produtor de azeite de oliva da Espanha, com 31 mil hectares plantados. "Em 2023, o governo de Espanha contabilizou cerca de 2,7 milhões de hectares de olivais para a produção de azeite", conta Antonio Martínez, responsável pelo setor de comunicação da Azeites da Espanha.

"Desses, 1,6 mi está na Andaluzia e 550 mil em Jaén. Tem muito mais oliveira do que gente. Estima-se que em Jaén existam cerca de 66 milhões de oliveiras, para uma população de cerca de 630 mil habitantes. São 105 árvores por pessoa."

"Praticamente todos os lagares oferecem visita turística", diz Martínez. "Quem ainda não oferece já está adaptando suas instalações para receber visitantes, realizar degustações e até servir refeições tendo o azeite como protagonista". Segundo um estudo realizado pela Universidade de Jaén, mais de 80% das empresas consultadas, entre lagares, olivais e agências de turismo, já ofereciam alguma atividade ligada ao oleoturismo.

Produção de azeitonas em Úbeda, na Espanha
Produção de azeitonas em Úbeda, na Espanha - Reprodução

Tido como um dos melhores azeites de oliva extra virgens do mundo, o super premiado Oro Bailén, que no Brasil é importado pela Adega Alentejana, oferece visita guiada ao lagar por 16 euros (R$ 87). Lá, o visitante conhece o equipamento e recebe a explicação de como é o processo de produção do azeite, desde a recepção do fruto, limpeza, agitação e extração, até ao armazenamento e embalagem. Pode também combinar visitas a olivais, almoços e experiências que envolvam toda a família.

Depois da visita, há uma degustação comentada de azeites de diferentes variedades. A Oro Bailén produz varietais de picual, hojiblanca, frantoio e arbequina. O visitante, por exemplo, descobre que a arbequina rende um azeite mais suave do que o da picual. Fica sabendo que a picual é a variedade mais plantada em toda a Espanha. Aprende que o azeite extra virgem é o suco da azeitona e que, como todo suco, é melhor quando está fresco.

Hoje, na Espanha, assim como nos países que seguem sua escola, o melhor azeite é aquele feito da azeitona ainda verde.

"Tradicionalmente, a colheita começava no fim de novembro, começo de dezembro", conta José Gálvez González, CEO da Oro Bailén. "Fomos os primeiros a começar a colher em outubro. Quando fizemos isso, menos de 20 anos atrás, nos chamaram de loucos, já que a azeitona verde rende muito menos óleo do que a madura."

Sacra Capilla del Salvador del Mundo
Sacra Capilla del Salvador del Mundo - Tânia Nogueira/Folhapress

Rende menos, mas é mais rica em polifenóis. Portanto, traz mais benefícios para a saúde. Logo, o público pegou gosto pelos aromas mais frescos e picantes dos azeites verdes. E todos os produtores perceberam que ele podia atingir um valor de mercado bem maior do que o maduro. Hoje boa parte dos lagares espanhóis faz pelo menos uma linha premium a partir de azeitonas verdes. Até as cooperativas.

Na cooperativa Nuestra Señora del Pilar, em Villacarillo, a maior extratora de azeite do mundo, a recepção das azeitonas começa no início de novembro e vai até o fim de fevereiro. Os primeiros lotes se destinam aos azeites mais nobres. Lá são extraídos mais 2 mil toneladas de azeite por dia.

Pouco antes da pandemia, a cooperativa criou um centro de educação e recepção para o turista. São quatro andares cheios de atrações interativas que falam da região, da produção de azeite por lá, sua história e seu terroir. O ingresso custa 12 euros (R$ 65) por pessoa e inclui a degustação de três ou quatro azeites. É preciso reservar. Repare que na entrada há um bosque de oliveiras. São mais de 50 variedades diferentes.

O oleoturismo na região não se restringe a visitar produtores. Há uma série de museus e associações relacionados ao azeite nas redondezas com diferentes abordagens e oferta de diferentes tipos de experiências. O Centro de Interpretación Olivar y Aceite, em Úbeda, por exemplo. além de um pequeno museu oferece workshops de degustação, nos quais você aprende técnicas para avaliar as características dos azeites e, principalmente, detectar quando há um defeito. Há também aulas de culinária com azeite.

Já o Museo de la Cultura del Olivo, na zona rural da vizinha Baeza, atrai pela riqueza de seu acervo, que conta com uma série de equipamentos de extração e armazenamento de azeites de diferentes períodos históricos. Está sediado em um palácio do século 17 e tem até um pequeno olival onde, no período da colheita, os visitantes aprendem (na prática) como se colhia azeitonas antigamente.

Nos restaurantes da região, como o Los Sentidos,o azeite costuma ser a figura central. Alguns, como o Antique y Tapas, até oferecem diferentes azeites para os clientes degustarem. Há também opções de alta gastronomia, como o Cibu, em Úbeda, ou o Vandelvira, em Baeza, que acaba de receber uma estrela Michelin. Esses são para os mais aventureiros dispostos a provar pratos bastante exóticos.

Algumas das oliveiras da região podem ser até mais velhas do que os prédios dos centros históricos de Úbeda e Baeza, ainda assim, digamos que esses também têm seus atrativos para o turista.

Em Úbeda, o ponto central é a praça Vázquez de Molina. Ali estão os principais edifícios históricos da cidade. Destaque para a Sacra Capilla del Salvador del Mundo de 1536. Sua construção se deu a mando de Francisco de los Cobos, secretário particular do rei. É, na verdade, uma capela fúnebre –a maior do mundo. Francisco a construiu para lá ser enterrado um dia. Bastante interessante também é a Sinagoga del Agua que, na verdade, não é uma sinagoga, mas sim um museu judaico.

Em Baeza, o Palácio de Jabalquinto é um dos maiores expoentes do estilo gótico isabelino e atualmente abriga a Universidade Internacional da Andaluzia. Sua fachada é toda decorada e todo o prédio é um belo exemplo da influência muçulmana na arquitetura espanhola no renascimento.

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