M.S.S
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Michael
Schumacher pode encerrar na madrugada de amanhã não apenas
o jejum de duas décadas da Ferrari. Pode também colocar uma
pedra na pecha de arrogante e de esportista desleal que lhe
impuseram nos últimos anos, a única mancha em seu impecável
currículo na F-1.
O homem que jogou o carro em cima de Damon Hill, em 1994,
e se deu mal ao repetir a manobra na decisão de 1997, contra
Jacques Villeneuve, pode sair de Suzuka como o mais novo herói
da categoria, o sujeito que conseguiu encerrar uma verdadeira
maldição, melhor dizendo a bagunça e a incompetência que marcaram
os 21 anos sem títulos de pilotos da tradicional escuderia
italiana.
Com oito pontos a mais na tabela, a situação do alemão
é confortável, barbada até, não fosse pelo fato de haver mais
uma corrida e do rival ser Hakkinen, um piloto de verdade
desde aquela ultrapassagem dupla na Bélgica.
Schumacher depende apenas dele e, de forma inteligente,
dispensou os serviços do escudeiro _na verdade, afastando
Barrichello da disputa, afasta também Coulthard, com quem
de fato acumula diferenças pessoais.
O cenário, o perfeito circuito de Suzuka, é favorável,
e o carro, seis décimos mais rápido no primeiro dia de treinos,
parece em forma.
Enfim, Schumacher está na frente e com alguma sobra.
A perspectiva negativa recai sobre a McLaren e a
fumaceira que o motor Mercedes soltou em Indianápolis. E,
claro, ao imponderável, que perseguiu o alemão no meio desta
temporada, numa incrível sequência de fracassos entre Montreal
e Monza que viabilizou a reação do finlandês.
Para completar, a Ferrari ainda conta desta vez com
uma segunda chance, a Malásia, o que permite até uma administração
dos dois resultados, algo que Schumacher descarta por enquanto.
O alemão sinaliza, desde que chegou ao Japão, que
precisa de uma vitória contundente e limpa, espetacular
se possível, mas sem a mínima margem de dúvida.
Ele precisa de um terceiro título semelhante ao segundo,
quando ganhou com folga no Japão, depois de praticamente
garanti-lo na Europa _sim, o enredo também é semelhante.
Esse é o idílio de Schumacher.
O pesadelo, porém, será conquistar o título tendo
que parar na brita com Hakkinen ou, pior ainda, se
enroscando em alguma ultrapassagem de Coulthard.
Schumacher vai tirar o pé para entrar para a história
pela porta da frente? É de duvidar.
Na antológica disputa entre Prost e Senna, na mesma
Suzuka, ninguém tirou o pé e por duas temporadas consecutivas.
Schumacher não fez por menos nas duas ocasiões já
citadas. A diferença é que estava sozinho, não tinha um doido
do mesmo quilate dentro do outro carro _Villeneuve foi infinitamente
mais adversário que Hill, mas não a ponto de equalizar a rivalidade.
E sem ter com quem dividir, digamos, essa irresponsabilidade,
acabou se tornando uma espécie de Dick Vigarista de carne
e osso _um rival de verdade faz falta até mesmo na hora de
fazer bobagem, de beirar a estupidez.
Que Hakkinen interrompa a história de Schumacher.
Ou que o ajude a escrevê-la.
Notas
Novidade
De tão inacreditável, a adoção da etapa brasileira da F-3000
passou batida por boa parte da mídia do bananal. Até Tamas
Rohonyi, organizador do GP Brasil, ficou surpreso com a notícia.
E enquanto a corrida em que placas de publicidade caem na
pista em pleno treino sai premiada pela FIA, Silverstone recebe
uma "segunda chance" após os problemas deste ano. Vai entender.
Mercedes
A falha em Indianápolis deixou a fábrica alemã em posição
incômoda. Se Schumacher arrebentar hoje em Suzuka, muito do
fracasso da McLaren será imputado ao resultado do GP dos EUA,
que permitiu ao alemão viajar confortavelmente ao Japão. Não
é à toa que Norbert Haug, chefão da Mercedes na F-1, pediu
desculpas públicas a Hakkinen em Suzuka.
E-mail: mariante@uol.com.br
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