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Seca no Nordeste causa migração 'fora de hora' ao interior paulista

Estiagem histórica leva 'fugitivos' às cidades canavieiras em plena safra; parte atua na construção civil

Prefeituras já sentem o impacto, causado pelo aumento da demanda nos sistemas de saúde e de assistência social

JULIANA COISSI

ENVIADA A GUARIBA E PONTAL (SP)

Os planos para 2012 já estavam traçados na cabeça de Antonio Romárcio Pereira, 24. Ele iria ajudar o pai e os quatro irmãos mais velhos na colheita do milho e do feijão na terra onde a família vive, em Ipiranga do Piauí (PI).

O caçula estava disposto a não tomar o caminho até o interior de São Paulo, como havia feito nos últimos quatro anos, para cortar cana.

Mas a chuva -na verdade, a completa falta dela- arruinou a colheita e o colocou na rota dos canaviais paulistas.

A seca histórica no Nordeste, a pior dos últimos 50 anos, tem empurrado Pereiras e outros "fugitivos" para diversas cidades paulistas, que estão em plena safra da cana-de-açúcar, e até para outros Estados.

"A seca está esparramando muita gente pelo Brasil afora", diz o padre Antonio Garcia Peres, coordenador nacional de temporários rurais da Pastoral do Migrante, ligado à Igreja Católica.

Atualmente, cerca de 60 mil nordestinos migram a cada ano para o norte e nordeste de São Paulo, segundo a pastoral. A maioria trabalha com a cana, mas a construção civil já atrai 20% dessa mão de obra.

Na região de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), o maior volume chega nos primeiros três meses do ano para garantir o emprego nas usinas de cana, cuja safra começa em abril. E a volta à terra natal só ocorre no fim do ano.

Neste ano, porém, segundo Peres, há migrantes "fora de hora", que chegaram em maio, junho, julho e até agosto. Boa parte, como o piauiense Pereira, foi forçada pela seca.

Não há contagem oficial de quantos são esses temporões.

Em Botuporã, cidade baiana de 11.154 habitantes, saíam no meio do ano passado de dois a três ônibus com migrantes toda segunda-feira. Nesta metade de ano, são cinco a sete ônibus, diz a irmã Lucia Antonia Bonk, da pastoral em Botuporã.

COBERTOR E ENXOVAL

Na ponta de chegada, cidades canavieiras de São Paulo, como Pontal (351 km de São Paulo), já sentem o impacto.

"Quando eles vêm na época de contratação, as usinas dão plano de saúde. Mas, depois, fica por conta da rede de saúde da prefeitura", afirma o prefeito Antonio Frederico Venturelli Junior (PSD).

Em meados deste ano, a prefeitura socorreu famílias carentes, muitas delas migrantes, com 300 cestas básicas por mês. Na mesma época, em 2011, as cestas eram metade.

E não só comida: em Pradópolis (315 km de São Paulo), a prefeitura tinha, até março, 2.300 cadastrados para receber cesta básica, cobertores, gás, remédios e até enxoval de bebês. Hoje, já são 3.000.

Cícera Gomes Siqueira, 30, de Timbiras (MA), chegou há dois meses a Guariba (337 km de São Paulo) com os quatro filhos. Todos já estão na escola da prefeitura.

O marido, Domingos Teixeira Lima, 45, veio na frente, no final de março. Adiou a decisão de deixar para trás a roça de arroz o quanto pode, mas, neste ano, nada colheu.

"É ruim, porque a gente fica pensando no futuro dos filhos. Trouxe eles porque não tinha como ficarem lá com a seca."


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