BC dos EUA acentua crise emergente, diz economista de banco suíço
Brendan Smialowski/AFP | ||
Janet Yellen, presidente do banco central americano |
O Federal Reserve (BC dos EUA) deve elevar os juros nesta quarta (16), ação que derrubará ainda mais os preços de commodities, afetando países emergentes como o Brasil. A avaliação é de Janwillen Acket, economista-chefe do banco suíço Julius Bär, o maior gestor de fortunas independente do mundo.
Para ele, o grande desafio da economia global nos próximos anos será lidar com a deflação, que decorre de um descompasso entre a demanda e uma superoferta de produtos. O economista vê uma desaceleração geral nos países emergentes, que chama de "estrelas cadentes" em contraposição à euforia dos anos anteriores. Para 2016, a previsão dele é que a China cresça só 5,7% e o Brasil encolha 2,5%. Leia a entrevista.
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Folha - Por que os emergentes são agora estrelas cadentes?
Janwillen Acket - São países que vão crescer menos. Estão reativando suas economias e precisam de reformas e de reestruturação. A China, que tenta se voltar para o mercado interno, não conseguirá crescer 6,5% como promete; é muito ambicioso. A Índia está melhor, com crescimento de 7%. Infelizmente, Brasil, Rússia e Turquia estão em uma grande encrenca. O México tem a sorte de se beneficiar do vizinho EUA.
A crise política torna o Brasil ainda mais vulnerável?
O Brasil está numa recessão profunda, com inflação alta e juros altíssimos. O ajuste terá de ser cada vez maior em termos de reformas. E isso será penoso.
Tenho grande admiração pelo trabalho que vocês estão fazendo contra a corrupção. Estão tentando limpar a bagunça, de forma democrática, sem chamar um ditador. Tomar decisões de forma democrática leva tempo. O Brasil conseguiu colocar muitas pessoas na classe média; agora elas têm demandas que não podem ser satisfeitas facilmente. Daí vem a insatisfação. Se vocês continuarem trabalhando uns contra os outros, não haverá melhora.
O Brasil hoje parece com o da seleção na última Copa. Tem vários jogadores excepcionais, mas que não jogam bem em conjunto.
Por que a alta de juros nos EUA pode piorar a situação?
Serão menos dólares entrando nos mercados globais. Depreciará o preço das commodities. Muitas dessas economias são altamente dependentes da exportação de matérias-primas e vivemos um colapso nos preços.
O que deveria fazer o Fed?
A recuperação dos EUA tem problemas estruturais e não justifica alta nos juros. O Fed se colocou numa obrigação; se não subir a taxa, vão dizer que não tem confiança na continuidade da recuperação americana. Se o Fed subir os juros e parar, o dólar vai depreciar, e o euro, subir.
O BC europeu tem mantido o euro artificialmente barato, a custas de muito estímulo financeiro, para os europeus exportarem agressivamente. Essa liquidez imensa provoca uma alocação equivocada de recursos que não reflete a economia real. Mantém baixos os preços em uma parte do mundo e leva a inflação a outra parte. A falta de reformas está matando as moedas desses países e obrigando os BCs a manterem juros muito altos. É um ciclo vicioso.
Como sair dessa armadilha?
Os governos vão ter que ficar cada vez mais austeros. Não faz sentido preencher a queda na demanda com gastos públicos. O que precisamos é demanda privada.
Isso só pode ocorrer com redução de impostos, como ocorreu nos Estados Unidos, na época do governo Ronald Reagan [que presidiu de 1981 a 1989]. Eles aumentaram os gastos militares, os juros subiram, houve aperto no crédito, mas depois cortaram impostos.
Os frutos foram colhidos muitos anos depois, no governo Bill Clinton [1993 a 2001]. Não há condições políticas na maior parte do mundo para fazer isso. O preço será uma nova crise mundial daqui uns quatro ou cinco anos.
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