Governo pede calma na Tunísia após protestos por morte de opositor
O governo da Tunísia pediu calma à população após uma série de protestos contra a morte do líder opositor liberal Chukri Bel Aid, assassinado na madrugada desta quarta-feira ao sair de casa em um bairro nobre da capital Túnis.
Devido à morte, cuja razão ainda é desconhecida, pelo menos mil manifestantes fizeram um protesto no bairro de Sidi Bouzid, onde começaram os protestos pela queda do ditador Zine El Abidine Ben Ali, em 2011. Testemunhas dizem que a polícia disparou tiros para o alto e gás lacrimogêneo para dispersar as pessoas.
Fethi Belaid/AFP | ||
Manifestantes removem barreiras e arame farpado na porta do Ministério do Interior durante protesto em Túnis |
Mais cedo, o presidente Moncef Marzouki pediu calma à população, em discurso em viagem a Estrasburgo, na França, para reunião com o Parlamento Europeu. Após o assassinato, ele abreviou a viagem e cancelou uma visita ao Egito, marcada para quinta (7).
"Esse odioso assassinato de um líder político é uma ameaça, é uma mensagem que nos negamos a receber. Vamos continuar a lutar contra os inimigos da revolução".
No mês passado, o mandatário afirmou que o conflito entre islamistas e secularistas poderia levar a uma guerra civil e pediu um diálogo nacional, que inclua todos os matizes políticos.
O líder do governista Ennahda, Rached Gannouchi, negou que o partido tenha qualquer relação com a morte de Bel Aid, que criticava intensamente a agremiação por se aproximar a grupos islâmicos radicais que têm relações com o terrorismo.
"É possível que o partido governista cometesse esse assassinato quando isso poderia prejudicar os investimentos e o turismo? A Tunísia hoje está no maior impasse político desde a revolução. Devemos ficar calados e não entrar num espiral de violência. Precisamos mais do que nunca de unidade", acrescentou.
RAIVA
As declarações foram feitas para tentar controlar os ânimos dos manifestantes liberais, que acusam o governo e o ministério do Interior de omissão em relação à morte de Chukri Bel Aid. Ele era líder do opositor Partido dos Patriotas Democratas Unificados, contrário aos partidos islâmicos.
A agremiação também é crítica às Ligas de Proteção da Revolução, milícias fundadas por rebeldes salafistas que são acusadas de envolvimento em atos terroristas. Devido a suas posições políticas, Bel Aid e seu partido foram pressionados pelos islâmicos, que os ameaçaram com atos violentos.
As pressões se concretizaram no último sábado (3), quando um grupo atacou a sede do partido liberal na cidade de El Kef, no sudoeste do país. Após o ataque, Bel Aid aumentou a pressão sobre o governo e criticou duramente à inação da polícia frente às agressões dos islâmicos.
A última crítica do líder opositor foi feita na noite de terça (5) em uma entrevista em um programa de televisão, quando acusou o governo e o Ministério do Interior de passividade ante as ações de grupos extremistas.
A morte reacendeu o temor de novos confrontos violentos na Tunísia, o país que conseguiu a maior estabilidade política após a queda de um ditador durante a chamada Primavera Árabe, no início de 2011, mesmo tendo optado por um governo islâmico.
A vizinha Líbia entrou em descontrole civil após a saída de Muammar Gaddafi, em outubro de 2011, enquanto o Egito enfrenta intensos protestos contra o presidente islâmico Mohamed Mursi.
No entanto, a administração tunisiana enfrenta manifestações contra a crise econômica, causada pela queda do consumo na zona do euro e das consequências da transição política.
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