Rússia nega ajuda a Chipre até que país resolva resgate com UE
A Rússia negou nesta sexta-feira dar ajuda financeira ao Chipre até que o país do Mediterrâneo resolva a crise criada com a União Europeia devido a um resgate financeiro de € 10 bilhões (R$ 26 bilhões), aprovado no último sábado (18).
A rejeição russa é mais uma derrota para o governo cipriota e em especial para o ministro das Finanças, Michael Sarris, que ficou cinco dias em Moscou tentando negociar uma ajuda financeira. Com isso, o país fica mais isolado, a três dias do prazo final da União Europeia para dar uma solução ao resgate.
Patrick Baz/AFP | ||
Cipriotas protestam contra UE em frente ao Parlamento na noite de quinta, com cartaz escrito "tire as mãos do Chipre!" |
Nesta sexta, o Parlamento do país faz uma sessão para discutir como se conseguirão os € 5,8 bilhões (R$ 15 bilhões) pedidos pela União Europeia de economia para conceder o resgate. Caso não haja consenso, o país entraria em colapso financeiro, gerando um efeito negativo em toda a economia europeia.
O temor gerou preocupação nas bolsas asiáticas, que caíram. Na Europa, os índices operavam próximos à estabilidade por volta das 11h em Brasília.
O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, disse que a rejeição não significa que o país fechou a porta ao Chipre, mas que vai esperar a aprovação das medidas de austeridade. Ele diz confiar em uma solução mais rápida possível para impasse e que continuará a conversar com a União Europeia e o país sobre o tema.
O principal ponto defendido pelos cipriotas e que foi rejeitado na negociação era aumentar o investimento dos russos na extração de gás do país através de títulos condicionados às reservas. No entanto, o ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, disse que os russos não tinham interesse no negócio.
Moscou também adiou para depois do acordo com os europeus a renegociação de um empréstimo de € 2,5 bilhões (R$ 6,5 bilhões) ao Chipre, concedido em 2011, e a entrega de mais recursos ao país. Os depósitos de cidadãos russos representam 20% de todo o volume bancário disponível na ilha do Mediterrâneo.
DISCUSSÕES
Enquanto era anunciada a negativa russa, o Parlamento cipriota adiou para a tarde desta sexta o debate e a votação das medidas para arrecadar os € 5,8 bilhões (R$ 15 bilhões) exigidos pelos credores internacionais --Banco Central Europeu, União Europeia e FMI (Fundo Monetário Internacional).
Segundo a televisão pública RIK, a comissão parlamentar de Economia atrasou as deliberações e o resto do cronograma. Mais cedo, o presidente do Legislativo, Yannakis Omiru, criticou os russos e a UE e disse que o objetivo dos credores é estrangular a economia cipriota.
"Se é esse seu objetivo, a única opção que nos deixam é tomar medidas dolorosas fora do mecanismo europeu e da troika [comissão de credores]. Elaboraremos um plano alternativo que não estará submetido ao controle da troika".
Omiru fez forte oposição ao primeiro plano dos credores, que era taxar os depósitos de todos os poupadores cipriotas. Inicialmente, a troika pediu que a taxa fosse de 6,75% para valores até € 100 mil (R$ 260 mil) e 9,9% acima desse valor.
Diante da corrida dos cipriotas aos bancos e a oposição ao plano, os credores recuaram e isentaram os depósitos menores de € 20 mil (R$ 52 mil). A medida foi reprovada por 36 dos 56 parlamentares. Outros 19 se abstiveram e um estava ausente.
Mesmo com a intensa oposição, o Banco do Chipre, maior instituição bancária do país, pediu a adoção imediata do imposto. "Já que é evidente que não há soluções alternativas, não pode haver mais atrasos em adotar a proposta do Eurogrupo [grupo de ministros da zona do euro", afirmou o banco, em nota.
Para o banco, a saída do euro poderia causar o colapso do sistema bancário e a perda de todos os depósitos. "Nós queremos destacar que qualquer retorno à libra cipriota quer dizer uma perda significativa do valor do ativos e levará a um círculo vicioso de desvalorização e hiperinflação."
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